Vitória 07/03/2023
Tive meu primeiro contato com a Kate Quinn em 2021, quando li a rede de Alice. Eu sou apaixonada por romances históricos, então tive um caso sério de amor à primeira vista com a escrita dessa mulher, quase uma Margaret George falando sobre tempos mais modernos. Durante esses dois anos de intervalo entre os livros dela, li várias outras obras do gênero, mas nenhuma sequer se comparou a ela (eu detestei a maioria, inclusive). Então abrir esse livro foi quase como voltar pra casa. Fiquei receosa com algumas coisas no início, mas tenho que dizer que ele foi ainda melhor que a rede de Alice.
O primeiro capítulo me pegou logo de cara. A autora sabe fazer com que a história fique interessante pro leitor em absolutamente todos os momentos, mas tenho que dizer que minhas expectativas foram um pouco frustradas quando cheguei no segundo e percebi que teríamos narração não apenas de personagens em espaços geográficos diferentes, mas também em anos diversos. Fiquei meio confusa, não entendi o que a autora queria exatamente com aquilo, e meu ritmo até caiu um pouco, mas logo esse estranhamento passou. A gente vai entendendo o caminho que ela quer traçar conforme vamos conhecendo cada um dos personagens mais a fundo, e agora tenho que dizer que essa maneira escolhida por ela de construir a narrativa foi magnífica, porque ela consegue deixar alguns mistérios do passado desconhecidos pra gente, ao mesmo tempo em que o presente também é muito interessante.
Sobre os personagens, talvez a Jordan tenha sido a que mais me deu trabalho. Ela é a típica adolescente de família de classe média alta, e em vários momentos eu tive ódio dela por perceber as coisas que estavam à sua frente, mas não batalhar mais pra que sua voz fosse escutada. Ao mesmo tempo, é tão comum ver mulheres sendo silenciadas do mesmo jeito que a Jordan é aqui, por pessoas afirmando que elas estão loucas ou criando histórias imaginárias em suas cabeças, que foi impossível não fazer outras trocentas reflexões sobre o lugar onde estamos hoje enquanto mulheres e o que pode nos esperar mais na frente. Ela conseguiu me conquistar bem com o tempo, não é nem de longe a minha personagem favorita, mas reconheço seu valor.
A Nina foi o meu grande amor dessa história. A partir daqui eu começo a desconfiar que tenho uma queda séria por personagens femininas e bissexuais com esse nome, porque foi impossível não me lembrar da Zenik. A Nina tem tudo o que eu mais amo em uma mulher da ficção. Ela sofre demais, e não esconde esse sofrimento da gente, mas também não para de batalhar um segundo sequer por aquilo que ela mais deseja: voar. Achei lindo vê-la entrando no batalhão, tendo amigas pela primeira vez, e construindo uma história de amor belíssima, ainda que isso não tenha acabado tão bem assim. Ela é uma fortaleza, que faz de tudo pra ajudar quem ela ama, mas também deixa suas feridas abertas em certos momentos, e foi bem aqui que ela me destruiu. Foi incrível ter a oportunidade de vê-la no passado e no presente, as mudanças que a guerra e o encontro com a caçadora tiveram em sua vida, sem falar do quão recompensador foi assistir a ela superando tudo isso e seguindo em frente. A cena final do lago com a caçadora é o fechamento perfeito pra história entre as duas, a minha Nina não mereceria menos do que isso, e não seria ela se fosse menos do que isso. O romance dela com o Ian foi o que mais me conquistou, e é óbvio que a autora me fez sofrer até a última página pensando que esses dois nunca iam ficar juntos e eu ia chorar sem parar por um mês só de revolta, mas ela acabou entregando tudo o que eu precisava, e foi perfeito.
O Ian também me deu um pouquinho de trabalho, mas foi um trabalho diferente do da Jordan. Assim que ele encontra a Nina pela primeira vez no presente e conta pro Tony que aquela era sua esposa, eu sabia que ele estava caidinho por ela, mas é claro que o cabeça dura ia me fazer querer arrancar os cabelos demorando duzentas páginas pra admitir isso. Ele também tem uma história pesada, que é muito bem explorada, e os momento em que ele e a Nina se abrem um com o outro sobre seus passados foram de longe os mais lindos desse livro. Depois que o besta reconhece tudo o que ele sente, ele nos entrega momentos de golden boy rendido pela Nina, e essas foram as cenas que me fizeram literalmente gritar feito uma louca, porque é claro que eu seria a doida por romance num livro de investigação de crimes de guerra. O Tony é um amorzinho, aquele palhaço da turma que conquista todo mundo com um sorriso, e foi assim que ele me conquistou também. A história dele é a menos explorada aqui, mas o homem merece todo o reconhecimento possível apenas por ter me feito gostar da Jordan. É impossível não se apaixonar por ele.
Além disso, toda a trama de investigação é muito bem pensada pela autora. Fica claro todo o planejamento que ela fez pra escrever essa obra. Não existem pontas soltas e, ainda que seja um livro muito longo e que a trama demore demais pra ter o seu desfecho, o leitor nunca fica entediado, porque sempre tem algo acontecendo, ainda que esse algo não tenha nada a ver com a caçada. É um livro magnífico tão magnífico que eu sequer consigo apontar um defeito. Não poderia ter uma nota diferente que cinco estrelas, e o favorito como a cereja do bolo. Não vejo a hora de ler outras obras da autora, ou de encontrar alguém no gênero do romance histórico que escreva algo no mínimo parecido com o que ela faz.