A Leitora Compulsiva 18/09/2023
? Por onde vamos começar?
AVALIAÇÃO: ????
A capa pode dizer a olhos desavisados que se trata de uma obra devassa, mas este é meu primeiro alerta pra você:
Este livro não é sobre sexualidade.
Ou, pelo menos, não APENAS sobre isso.
O livro aborda a jornada de uma astrônoma, tentando construir seu nome no mundo científico em 1816. Um ano em que o mundo científico não era coisa de mulher. Nem os debates. Nem grupos de discussões sobre nada.
E o livro também é sobre uma condessa que podemos chamar de designer de moda; cada bordado e roupa produzida por essa mulher é pura arte. Mas de novo: 1816 é um ano onde as mulheres não podem ser nada além de inofensivas e submissas.
E o melhor disto tudo: o livro vai convergir esses dois mundos em apenas um. Lucy, a astrônoma, conhecerá Catherine, a designer.
E ninguém poderá parar nenhuma das duas mulheres; não existe submissão nesse mundo capaz de impedir que elas causem uma revolução: uma revolução ousada, apaixonada e sensual.
DEBATES ACALORADOS, SENTIMENTOS EXPLOSIVOS...
A leitura desse livro me foi uma montanha russa emocional. Começa devagar, em um ritmo constante, mas nunca tedioso; então a certo ponto sofremos aquela lentidão ansiosa, que despenca numa velocidade absurda e simplesmente para quando estamos prestes a regurgitar o coração para fora do corpo... Mas ao final, delicadamente realoca o coração no lugar correto do corpo e o induz a descansar como em uma canção de ninar.
Também amei o fato de que trouxe debates importantes e atuais, apesar do ano que foi escolhido para a ambientação da história; enquanto Lucy questiona a todo momento sua posição como cientista numa comunidade de homens absurdamente intolerantes, Catherine vai desconstruindo uma vida matrimonial infeliz para dar espaço a seu lado artístico, sempre oprimido pelo antigo marido, e descobre em Lucy um porto seguro para avançar. Uma tem a determinação; a segunda, tem recursos. E juntas, se complementam num pacote essencial.
Lucy, em especial, pega cada uma das inseguranças construídas em Catherine, e as destrói uma a uma:
? O bordado é um artesanato, minha querida. Doméstico e feminino. Perfeitamente banal. A arte é? mais grandiosa, não?
Lucy rejeitou aquilo com um não firme de cabeça.
? Por que não considerar o que você faz como arte? Catherine ? disse ela mais suavemente ?, isto é arte. Você é uma artista.
E dou um destaque especial para a relação bonita que ambas construíram juntas: não houve nada de mais poético, de mais belo, que ver essas duas mulheres se unindo em uma só alma. Até comentei com minha amiga, e ela comigo: o livro foi tão lindamente escrito que as cenas intensas que costumo pular em livros românticos foram todas passadas com uma delicadeza sensual e apaixonada; foi impossível não sentir como se estivesse acontecendo conosco.
Este livro dialoga com o leitor; o traz pra dentro da história, o faz mergulhar nas frustrações e desejos dos personagens, se exaltar, ficar possesso e apaixonado, tudo junto. É um livro escrito na linguagem universal da paixão: se você o lê, automaticamente sente. Sente tudo, sente muito. Sente até arder.
E ALGUNS PONTOS NEGATIVOS, COMO SEMPRE...
Como todo livro, esse não pôde escapar do nosso escrutínio coletivo; o único fato por que tirei uma estrela, foi porque senti que o livro tentou nos forçar goela abaixo algumas ideias.
A começar: fica claro desde o início que Lucy e Catherine são um casal; mas eu não esperava ver tantos outros casais iguais dentro da narrativa. Considerando o ano que estamos discutindo ? 1816 ? isso não era sequer comum. Sim, os casais diferentes existiam. Mas ninguém sabia onde estavam. E eles não se mostravam, por medo da retaliação da época. Já o livro levou isto de forma irreal, com uma naturalidade forçada. Talvez fosse a intenção da autora, até, e não tenho nada contra: de fato, isso trouxe certa leveza pra narrativa. Mas ficou desencaixado aos fatos históricos que conhecemos.
E o segundo fato que incomodou mais a mim que minhas companheiras de leitura: os antagonistas da história foram muito simples, e me refiro ao personagem da Priscilla. Já estamos saturados de ver na narrativa romântica algum ex tentando destruir a relação atual do ex companheiro. Foi um tanto clichê e previsível para mim.
Ainda assim, nada disso comprometeu a experiência com o livro: é ficcional, afinal. Dá para relevar.
Se você procura por um bom livro de época com um casal diferenciado, debates importantes, muita arte erudita e ciência astrológica voltada a mulheres: você está no caminho certo. Este livro vai te proporcionar tudo isso. E ainda mais: para quem não vive sem livros hot, não pode perder ESTE livro épico.
AGRADECIMENTOS, PARA FINALIZAR...
Eu só comecei esse livro pela indicação da minha amiga do grupo de leitura coletiva, a Gabi; lemos outros livros juntas e ela é minha maior fonte de referência para romances em geral, porque sabe que não costumo ler nada desse gênero. Acho que aqui cabe um agradecimento a ela: obrigada, amiga, por ser uma leitora voraz que nos leva a amar ler. Com você, descobrimos novos mundos literários e exploramos o auge dos sentimentos românticos.
Outro agradecimento vai para as maravilhosas Tatiane e Taylor, que também compartilharam dessa leitura em unânime. Terminaram todas antes de mim ? o que não perdôo, jamais (eu estou brincando, é claro) ? mas a experiência de ler em grupo tornou tudo muito mais divertido.
A Tati, em particular, comentou humoristicamente sobre o fato de que as personagens coram a cada minuto, gerando uma piada interna entre nós; nunca foi tão divertido! Enquanto a Taylor, munida de todas as melhores reações possíveis a cada capítulo, preencheu nossos dias com risadas e muito surto. Obrigada, vocês duas, por esse companheirismo caloroso.
Termino esse livro com uma frase maravilhosa (dele mesmo) que poderia muito bem resumí-lo:
?Somos corpos, e corações, e esperanças, e sonhos. Somos homens e mulheres. Somos poesia e prosa em igual medida. Somos terra e argila, mas somos todos, independentemente da forma, iluminados por uma faísca de algo divino.?