Carlos Souza 27/10/2021
Les malhereux sont la puissance de la terre (Os infelizes são a potência da terra).
Um livro interessantíssimo, Bresciani realizou um trabalho curto, mas pontual.
O tanto que aprendi sobre análise de realidade e condicionamento social foi incrível. Nos primeiros capítulos, a autora busca decorrer sobre o modo como o progresso pelo progresso possui um preço. Sendo esse, sem dúvidas, a intensificação de desigualdade e do sofrimentos das massas.
Vale pontuar que temos aqui situadas, dentro de um recorte temporal curto, as consequências do processo de industrialização e do crescimento de ambas localidades (Londres e Paris), ao longo do livro são usados autores como Engels, Dickens; Edgar A. Poe, Buret, Louis Blanc e inúmeros outros. Suas obras são utilizadas para apresentar diferentes versões da realidade, porém, aquela cuja atenção da autora recai é, majoritariamente, a do não romantismo da situação desumana e degradante imposta ao proletariado (termo esse situado por meio da obra de Engels), explicitado, por exemplo, através dos registros deixados por Victor Considerant, cuja perspectiva apontou: "legiões de operários vivendo o dia-a-dia com um salário inseguro, constrangidos, além disso, pela dureza de um trabalho repugnante, cuja ocorrência caminha para um regime de extermínio do povo."
Outra discussão interessante é como ocorre o processo de transformação do "eu" para o nós, tendo em vista que para que ocorra a sobrevivência do sujeito num ambiente tão hostil, ele necessita se inserir na colmeia popular. Introdução essa que recebe um teor de observação "macro" e "micro" durante o livro, isso pois, é caracterizado como mesmo em grupos ou melhor dizendo, em coletivos nômades(os quais podiam ser identificados por vestimenta, expressão, peso corporal, raça e gênero), todavia, os indivíduos ainda apresentavam traços de personalidade que destoavam entre si.
Antes de concluir, também achei válido como lembrar algumas considerações realizadas sobre estas pessoas que se encontravam em condições de pobreza extrema, dentre elas, o modo como estas massas (aqui coloco no plural, tendo em vista que existiam mais de uma classificação para aqueles que foram vítimas do parasitismo, como por exemplo, segundo Maria Stella pontua, em determinado momento era dificultoso diferencial o que poderia ser considerado um "trabalhador popular" e um "miserável") mesmo nas piores condições ainda causavam medo aos que delas se nutriam, temor esse que era resultado da instabilidade cotidiana, cuja não intervenção poderia levar ao surgimento de um processo revolucionário semelhante ao de 1789 (Revolução Francesa) e a de 1688 (Revolução Gloriosa). Além disso, achei interessante perceber como o medo era literal e figurado, afinal fazendo um paralelo (faço isso tentando ser o menos anacrônico possível e pensando o termo "pobreza", conceito esse que é trans-histórico), temos medo da pobreza, daqueles que estão em situações desfavorecidas. Esse livro me fez questionar o meu próprio entendimento sobre o quão desigual continua sendo o mundo e quais os motivos para tal permanência. Por fim, lembro-os que seja o sofrimento, a miséria e a desigualdade ainda existem é porque de uma forma ou de outra, todos somos responsáveis.