Cristiano.Vituri 05/07/2017O inferno é 2666A arte de escrever sobre trivialidades de forma epicamente sensacional. Mas sensacional
ainda não é a palavra correta. Bolano, conta uma historia, aparentemente comum, mas
expõe as entranhas dos personagens, pra quem já leu Detetive Selvagens, Noturno no Chile vai encontrar as similaridades na narrativa, talento nato, a sensação é de que os personagens na verdade são reais.
3 malucos, professores universitários, conceituados, e 1 mulher, aficionados pelo escritor
Archimboldi, e a procura incessante pelo desaparecido autor. Mas talvez esse não seja
o ponto principal, apesar de não parecer, o que na verdade fica evidente e claro é que
as nossas buscas por objetivos na vida, são rasas e sem sentido, como Juan Carlos Onetti,
Roberto Bolano escancara vidas comuns, e as falhas e defeitos mais intrínsecos.
A parte de Oscar fate, caramba, a autor deve ter feito muita pesquisa de campo, é incrível
como ele descreve os EUA, as relações e o desapego de Fate, por toda a humanidade
e expõe a América, sua pobreza de realces, sua automatizacao nos sentimentos, me senti lendo
Henry Miller, um profundo conhecedor da América mais profunda...
A parte das mortes...
A relação entre o policias Juan de Dios com a chefe de um manicômio é gritante com a trivialidade humana, e as verdadeiras relações que criamos, destaque também pelo modo como trabalha, que nos fim das contas assemelha-se com os professores fissurados em Archimboldi, tédio, convivência forçada, estamos ai pra isso..
A parte de Archimboldi, a mais densa, intrínseca, dramática, por vezes caótica, mas não difere nadinha da vida, da vida real, que chega a ser monótona, mesmo a tragedia e "aventura" da guerra, Bolano faz isso parecer chato, detalhes supérfluos, que povoam e aguçam nossa mente em busca de mais, mais, mais...