2666

2666 Roberto Bolaño




Resenhas - 2666


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Rosangela Max 22/02/2023

Uma obra excepcional.
São cinco histórias com temáticas diferentes, mas que se relacionam entre si.
A primeira é sobre quatro amigos intelectuais de diferentes nacionalidades e que são fãs de um escritor alemão misterioso. Achei bem interessante, apesar de ter me dado muito sono sono ao lê-la.
A segunda é sobre a vida do melancólico Amalfitano. Gostei bastante desta, principalmente sobre a parte do relacionamento dele com a Lola.
A terceira também gostei muito. É sobre um jornalista afro-americano chamado Quincy Fate. Aborda o tema negritude.
A quarta foi a que mais gostei. É bem longa e o ponto principal é o assassinato de mulheres (tanto cometido por serial killers quanto de forma passional) em uma cidadezinha na fronteira do México com EUA. Apesar de gostar de histórias deste gênero, achei essa bem cruel porque retrata o dia a dia nos lugares mais pobres. É pura violência.
A quinta e última é a segunda mais longa e conta a história de personagens interessantíssimos como Hans Reiter (personagem principal), Boris Ansky, Sammer, e Ingeborg Bauer, Lotte, ente outros. Gostei saiu um pouco dos cenários dos EUA/México . É o elo chave das demais histórias.
Que bom que resolveram publicar estas 5 partes em um único volume. Acredito que de formas separadas elas não fariam muito sentido. Embora trata-se de um romance inacabado, o final não ficou incoerente.
Roberto Bolaño (um escritor que teve uma carreira curta, mas marcante) fez um trabalho incrível com o desenvolvimento destes enredos e com a criação dos personagens. Não é à toa que é considerada a melhor obra dele, mesmo não estando finalizada.
Recomendo a leitura.
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Ygor Gouvêa 03/04/2021

Monumento Pós-Moderno
Sem dúvidas uma das maiores obras dos nossos tempos. Foi um grande acerto não a terem dividido como passou a desejar Bolaño, pela ciência da proximidade de sua morte. Desejo que mais expressava uma questão prática, financeira. O livro possui cinco parte, cinco histórias que se cruzam, se relacionam, mas em grande parte se desenvolvem de maneira independentes, possuem seu próprio tempo e características narrativas. Nesse sentido, podemos vê-lo como um romance pós-moderno. Até existe uma espécie de núcleo(s), de centro ou centros onde as narrativas vão se ramificando de maneira não hierárquica, arrisco dizer, se aproximando de uma estrutura rizomática (Deleuze).

Uma de suas principais características é a forma com que aborda as questões cotidianas, pela aleatoriedade dos encontros, por devires marcados por vivências contingentes, por conversas desconexas, que não tem a intenção de que tudo faça sentido, que esteja ali por uma história ou por uma lógica maior. Retrata a vida acontecendo em suas trivialidades e casualidades. Claro que mesmo com isso existem seus pequenos fios condutores, certos desenvolvimentos de personagens e de situações, que o permite uma abordagem rica, diversa, caleidoscópica, tratando muito bem diversos assuntos, retratando brilhantemente uma realidade, se confundindo com a vida.

2666 possui muitos momentos emblemáticos, poéticos. Um de seus grandes centros, um atrator que ressoa em todas as histórias é o feminicídio, a constatação de que o mundo é masculino, sociedades doentes construída em cima de práticas de silenciamento, abuso e preconceitos que nos distanciam de qualquer possível solução. Pouco a pouco, de história em história vamos sendo apresentados a um mundo e a toda sua complexidade cultural que licenciam tal mal social, o despreparo de todos os setores da sociedade de lidar com tal situação. Claro que também acaba sendo uma critica a modernidade e ao capital, afinal, o principal foco do problema nos é apresentado numa cidade mexicana fronteiriça, reinado de maquiladoras, o que pode ser encarado como outro núcleo narrativo, que é perpassado pelas questão da falência ocidental acarretada pelos traumas da segunda guerra e ainda pela também falência das ideologias de esquerda, com os expurgos soviéticos, algo muito caro à latinidade.

Como já disse, o livro é muito aberto, rico em abordagens, mas, de toda forma, eu não diria que Bolaño quis fazer um tratado buscando enquadrar todo o mundo, afinal, pelo que percebi e expus acima, ele não parece acreditar em tal possibilidade, que seria muito iluminista. 2666 foge a tentativas limitantes de síntese, abraça o múltiplo, o fragmento, levanta questões, mas está longe de apresentar soluções, de formar imagens estanques.
Helena 04/04/2021minha estante
Vai já para minha lista


Raphael 04/04/2021minha estante
Esse múltiplo permeia toda a obra dele. É monumental. Aproveita e vai p Detetives selvagens. Hehe


Ygor Gouvêa 04/04/2021minha estante
Tenta n homem, hehehe
Pilha tá imensa mas detetives subiu muitos degraus.


Giuliana.Fiori 04/04/2021minha estante
Adorei suas considerações


Vanessa 04/04/2021minha estante
Esse livro são tantos em um só, amo demais! E um final tão incrível! A cereja do bolo


Amanda 04/04/2021minha estante
finalmente uma resenha! muito bom


Ygor Gouvêa 04/04/2021minha estante
?
Me perdoem os errinhos. Rsrs
Obrigado gente.


Tiago600 05/04/2021minha estante
Esse livro é um monumento!!




Danielle 04/08/2011

Unhappy Readmade
Senta, vai demorar.

2666 é um livro póstumo de Roberto Bolaño, esse chileno que viveu no México e na Espanha e que, ainda vivo, foi considerado um dos maiores [e o maior de sua geração] escritores latino-americanos.

2666 é um calhamaço de que mais de oitocentas páginas [a edição espanhola chega as mil] e que, desde o seu lançamento, possui uma áurea de obra-prima. Ele possui, fora a história que conta, outras muitas que o envolve. Tanto é que, produzindo uma venda surpreendente nos Estados Unidos, e como sucesso de crítica, surgiu o fenômeno bolañomania.

Bolaño escreve como se estivesse do seu lado e, pedindo uma cerveja ao garçom, dissesse: Chega mais perto que vou te contar uma história. Ele tem técnica e parece totalmente despretensiosa.

Ele te soca o estômago e deixa você vendo estrelinhas.

Ele coloca boa noite cinderela na tua bebida.

Vale lembrar que 2666 merece, como leitor, alguém que já tenha comido muito arroz com feijão na literatura. Merece um leitor que tenha sofrido com um livro nas mãos. Que tenha se desesperado com um Crime e Castigo da vida. Chutado o pau da barraca com um O Processo.

2666 não é entretenimento, é uma experiência.

O livro se divide em 5 partes um tanto quanto independentes entre si, mas que se unem por dois fios narrativos: um enigmático escritor alemão e uma série de assassinatos de mulheres que ocorrem no México.

O escritor em questão é Benno von Archimboldi que se tornou um tanto mítico já que ninguém sabe ao certo quem ele é, se é que existe de fato. Se escondendo sob um evidente nom de plume, Benno abre e fecha a narrativa de 2666.

O outro ponto de ligação são os assassinatos em série que acontecem numa cidade mexicana que faz fronteira com os Estados Unidos. Ao contrário de Benno, essas mortes não foram inventadas por Roberto Bolaño [apesar de achar que Benno possui muito de Bolaño]. As mortes existem de fato e, desde 1993, assombram a Cidad de Juárez que, no livro, Roberto optou por chamar de Santa Tereza.

São mais de 400 páginas dedicadas as lambanças nas investigações e as descrições quase forenses das mortes. E dale 400 páginas de meninas e mulheres mortas brotando no deserto de Sonora, como se fossem já parte da paisagem. E dale 400 páginas de teorias, atitudes obscuras e impunidade que choca, porque acontecem há quase 20 anos.

Bolaño tinha uma obsessão pelos assassinatos, ele morou no México por muito tempo e, para ajudar a construir essa parte da história, trocou cartas com um jornalista que investiga o feminicídio em Juárez. Parei diversas vezes nesse ponto do livro só pra respirar e conseguir forças para continuar. Eu não sabia o que acontecia em Juárez e, cada página virada, era como se morresse um pouco junto com aquelas mulheres, na grande maioria não identificadas. Relegadas a uma vala comum.

No meio disso surge uma luz: Amalfitano. Um personagem divinamente construído: ele pendura um livro de geometria no varal de casa, tal qual o experimento Unhappy Readmade de Duchamp e conversa com ele. Ele conversa com o livro que fica exposto ao sabor das intempéries.

Quando fechei 2666 ontem de madrugada e dei por terminada minha odisséia, pensei duas coisas: 1. Sim, é uma obra-prima 2. Que devia pendurá-lo no meu varal porque a prateleira, por mais espaço que tenha, é pequena demais pra ele.

* Resenha originalmente publicada em: seusuperego.wordpress.com
Marselle Urman 11/11/2012minha estante
Gostei da idéia do varal.
2666, pendurado, pode ter um destino melhor que o livro de geometria?


GustavoCampello 10/05/2013minha estante
Hummmmmmmm.... Já sofri lendo Moby Dick e O Processo. Porém acho Crime e Castigo tão facíl de ler que consumiu apenas 8 dias de leitura, é como cerveja gelada descendo pela garganta.

2666 consumiu 11 dias de leitura desenfreada, achei a escrita do Bolaño como Dostoievski, porém sua narrativa quase lynchiana (é, to falando do David Lynch).

Porque apesar dos assassinatos deixarem a gente perplexo (sim, a parte dos Crimes foi a que mais demorei pra ler e realmente parece exaurir nossas forças e aí é q percebemos a força do livro) não é o desvendar dos crimes que realmente importa. O que realmente importa é a onda de sensações que o livro nos impõe e que acabamos nem percebendo, mas sim sentindo.

2666 é como um filme do Lynch, não da pra entender tudo, não da pra conectar todas as pontas soltas, mas o mais importante é a onde de sensações que nos inunca e vai nos afogando aos poucos.


Danielle 27/05/2013minha estante
Exatamente, Gustavo. A força do livro é a sensação que ele oferece, por isso disse na resenha que a leitura de 2666 é, acima de tudo, uma experiência.


Gustavo Mahler 10/06/2013minha estante
Comecei a ler o livro através de tua resenha, pois tinha curiosidade mas até então não tinha ouvido nada à respeito que me desse um certo "impulso".

Li uns 10% e não me arrependi de ter começado. Como tu disse, esse livro é um experiência. Transcendente.

Parabéns pela resenha. Tem blog ?

Bjos!


Danielle 10/06/2013minha estante
Gustavo,

que bom que minha resenha fez você ler 2666. Espero que goste (quando terminar, venha comentar depois!).

E sim, tenho um blog: seusuperego.wordpress.com

:D


Priscila 23/01/2014minha estante
Parabéns, você me convenceu a ler um livro que antes eu não tinha a menor vontade de conhecer.


Danielle 04/02/2014minha estante
Leia mesmo, Priscila!

:)


Laura Charlene 12/03/2015minha estante
Já tem um tempinho que não aguentei e parei na parte dos assassinatos pq eu me senti esgotada. mas agora que li sua resenha renovei as forças para terminar de ler essa odisséia!


marcela 21/05/2015minha estante
Também travei na parte dos assassinatos. Já tem alguns meses que tô enrolando pra terminar essa parte, sendo q as três primeiras li muito rápido. É muito pesado, muito baixo astral. Quero muito terminar mas tá difícil....
Sendo q eu li Crime e Castigo e o Processo com muito gosto hahah, esse agora que ta tenso :(


Danielle 25/05/2015minha estante
a parte dos assassinatos é difícil de suportar e, mais ainda, quando se é mulher. entendo quando se trava nesse trecho do livro. nem sei de onde tirei forças pra continuar. lembro que tive crise de insônia e pesadelos nessa parte de 2666.


Ronnie K. 15/01/2017minha estante
É o próximo da fila; estou iniciando a fase Bolaño na minha vida. Terminando Chamadas Telefônicas...


Elizangela.Alves 01/04/2020minha estante
Deve ser muito bom!


Felipe Lopes 03/06/2020minha estante
Depois de Gabriel Garcia Marques, ainda não tenho preparo para embarca numa leitura dessa envergadura.




Mateus com h 07/04/2021

Não sei nem por onde começo
Eu vou tentar ser breve, e se você estiver esperando uma resenha lapidada de descrições e pinceladas técnicas, sugiro procurar outras (infinitamente mais recheadas em detalhes)


Olhei o histórico de leitura, as nuances e recortes e se for para falar de alguma semelhança, o jogo da amarelinha, os cotidianos ?vazios? o jeito de se conduzir os dias, o jeito que a vida conduz nossos dias, o jeito que achamos conduzir a vida.

Os detalhes, detalhes, detalhes.

No meio do trajeto de pesquisa sobre Roberto bolano e suas obras (cheguei muito cru para a leitura de 2666) descobri que o território fronteiriço entre o México e os EUA, é citada em citada em diferentes espaços de tempo, em outras obras. Um detalhe banal que me encantou.

As dores do luto, as crises, inaptidões sabe se lá para que, mas inaptidões escancaradas, a inútil tentativa de fugir da violência, que também nos escancara diariamente através dos veículos de comunicação.

O que bolano escreveu me atingiu como um soco no estômago, sem afago ou comprimidos efervescentes, dilatou minha alma e parto obstinado rumo à sua obra.

É isso. Estou cansado, mas um cansaço bom, um cansaço comparado a uma boa noite de sexo. Uma exaustão densa mas ótima.
Mateus com h 07/04/2021minha estante
O que eu organizei ou desorganizei em palavras ali em cima, não chega nem a ponta do iceberg do sentir que esse livro proporciona. Se alguém aqui se atreve a escrever, é um livro imprescindível.




djoni moraes 11/06/2021

Maximalismo bolañesco.
Uma aventura que me tomou muito mais tempo do que tinha planejado e me fez abandonar quase todas as outras leituras concomitantes, tamanha complexidade da última obra de Bolaño, 2666.

Um romance antirromanesco, antiestético, dividido em 5 partes, cada uma com uma estrutura narrativa singular. Sem dúvida, a parte mais desafiadora, para mim, foi a dos assassinatos, principalmente pela sua descrição gráfica. No entanto, vendo no contexto panorâmico de toda a obra, a necessidade de documentar tudo, como uma testemunha, deixa uma mensagem clara: é a forma de Bolaño não deixar passar, mais uma vez, a violência.

Inclusive, depois de encerrar a última página do livro, posso afirmar que, na minha opinião leiga, o principal personagem da história é a violência, que está presente em todas as partes do livro e que mostra como esta permeia a história de todas as culturas - desde os astecas e seus sacrifícios, até a segunda guerra mundial e os assassinatos das mulheres em Santa Teresa.

Um livro que requer paciência e exige bastante do leitor, mas que devolve reflexões que apenas Bolaño poderia fazer na sua forma enciclopédica e meta-irônica.
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Phelipe Guilherme Maciel 12/06/2013

2666 - Roberto Bolaño | Companhia das Letras (Trad. Eduardo Brandão)
"Humano, demasiado humano" [Friedrich Nietzsche]

Somente esta frase me vem a mente quando penso em criar uma resenha para um livro como este. Antes de mais nada temos que nos situar. Trata-se de Roberto Bolaño, uma recente sensação literária principalmente nos Estados Unidos da América, local justamente peculiar pelo fato de ser extremamente difícil situar um Latino entre os mais lidos e também na Europa. Bolaño é um escritor que apesar de ser citado como o maior nome Chileno (e Sul-americano) dos últimos tempos, mostra incansavelmente em seu texto que não é um escritor latino americano. Ele foge desta métrica.

Embora seja comum quando alguém te vê com um livro de Roberto Bolaño no Brasil, te dizer: "Nossa, o Chaves também escreveu livros?", também há certa popularização por este nome nas terras tupiniquins. E 2666 está nesta lista pop.

Justamente por isto é normal ver pessoas falarem mal deste livro. O texto é intenso, Bolaño vomita cultura em suas páginas, seu texto é prolixo, as sub-histórias são muitas. São 850 páginas, no meu caso, levaram 12 dias de leitura intensa, 5 a 6 horas diárias (Não, eu não vejo televisão), após tal odisseia, é comum a pessoa dizer: "Ufa, Hein?"...
Comum para quem não leu e apenas vê os números, ou para quem leu marginalmente. Este é um exemplo de leitura maravilhosa.

Não falarei muito sobre a estrutura do livro, nem resenha seria necessária dado tantas excelentes postagens já aqui. Mas quero meu registro.

São 5 partes.

A Parte Dos Críticos (130 pag.)

Vejo como "A Obsessão".

Além de ver quatro intelectuais, um francês, um espanhol, um italiano e uma inglesa se relacionarem entre si, compartilhando conhecimento, vida sexual, e um desejo obcecado de conhecer mais sobre o artista máximo em comum de todos os quatro, (considerados como os maiores especialistas no assunto, conhecemos também um pouco mais sobre a solidão, o desejo, a obsessão, sobre a loucura. Bolaño cria personagens demasiado humanos, transbordando emoções, e cria ambiente para que estas emoções se ampliem e gritem. Mostra com sutileza desde um desejo de suicídio, até uma trepada sem emoção, apenas carnal, como se todas essas coisas fossem fáceis de escrever como ditar alguém no ato de comer um pedaço de pão. Os quatro intelectuais a princípio apenas trocam informações em conferências sobre literatura alemã, e quando percebem sua afinidade em relação a Benno Von Archimboldi, começam a se freqüentar. Liz Norton, a única mulher do grupo, acaba se relacionando tanto com Jean-Claude Pelletier quanto com Manuel Espinoza. O francês, o espanhol e a inglesa vão para o México, cidade de Santa Tereza, guiados por uma espécie de rastro deixado pelo misterioso escritor, após muito teorizarem sobre ele na Europa, deixando lá apenas o debilitado Piero Morini, o intelectual italiano. Após infrutíferas buscas, conhecem o professor chileno Amalfitano (sim, será o mesmo que aparece em As Agruras do Verdadeiro Tira? De fato é o mesmo, salvo pequenas mudanças). Amalfitano conhece um pouco do misterioso escritor também, mas mesmo com ele, não há grandes avanços na busca. Liz Norton volta para a Inglaterra onde descobre com quem realmente deve se relacionar.


A Parte de Amalfitano. (64 pag.)

Vejo como: "A Loucura".

O texto expõe a vida deste professor de literatura, seu rapport com sua filha, e a história de sua ex-esposa, que ficou louca. Amalfitano no decorrer de sua parte, que também é a menor do livro, dá extremos sinais de loucura, ouvindo e conversando com vozes, tendo altos devaneios e sonhos estranhos. Mostra seu medo de ver Rosa envolvida nos crimes que acontecem em Santa Teresa, e sua relação com as pessoas com quem convive na universidade. Mal necessário na visão dele...


A Parte de Fate. (114 pag.)

Vejo como: "A Angústia".

Fate é um jornalista negro, que sofre pela sua cor, sofre pela perda da mãe, e pelo dilema do poço em que se encontra. Sofre a falta de uma real companhia, sofre com a falta de perspectiva para o imediato. Enviado para Santa Tereza para cobrir uma luta sem grande interesse real, acaba se envolvendo com Rosa Amalfitano e indiretamente com o cenário do horror da cidade, os seus crimes, com uma jornalista que também está envolvida na busca pela descoberta de o que há atrás dos crimes, e com personagens masculinos extremamente duvidosos.


A Parte dos Crimes. (264 pag.)

Vejo como: "A Frustração".

Basicamente vemos a parte árida do livro aqui. A maior parte do livro, são umas DUZENTAS páginas envolvendo dezenas de autópsias de mulheres assassinadas, um louco depravado que profanava templos, e acompanhamos de perto a vida do policial judiciário Juan de Díos, vemos sua frustração por não conseguir descobrir os culpados pelos crimes, sua relação com uma psiquiatra, e vários outros personagens menos recorrentes mas também muito importantes. Atente para todos os personagens desta parte, por mais árida que seja a leitura.

Bom dizer que Santa Tereza é o retrato perfeito de Ciudad Juarez, onde realmente o crime contra as mulheres é o retrato do que Bolaño mostrou neste livro, (e as mortes, também reais, ou baseadas).


A Parte de Archimboldi (243 pag.)

Vejo como: "A Solidão".

É a recompensa para quem passou por este deserto da parte 4. O encontro do Oasis. Leitura esplêndida, te leva de volta para a segunda guerra mundial, e te mostra quem realmente é o escritor desconhecido, sua vida, sua ligação com os personagens do livro, a história de cada um de seus livros. É a explicação de tantas perguntas que Bolaño deixa em sua obra, e em outras obras onde os mesmos personagens aparecem.
Mostra um personagem rico, interessante, e solitário por natureza, mais habituado a viver com as algas que com pessoas.

2666 - Claro que tem explicação! Isto é uma data, que faz com que todos os acontecimentos não fiquem nadando no vácuo. É a liga, o elo.
Junior 24/02/2017minha estante
Parece ser um livro pesado hein! Gostei da resenha, quero ler este livro.


Phelipe Guilherme Maciel 01/03/2017minha estante
É um livro instigante, eu recomendo sempre. Claro que existem leituras mais fáceis de Bolaños, caso queira algo mais rápido, pode ser lido os livros mais populares dele e deixar este controverso para depois.


Ale 24/11/2017minha estante
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 31/07/2010

Roberto Bolaño - 2666
Editora Companhia das Letras - 852 páginas - Publicação 2010 - Tradução de Eduardo Brandão

Publicado mais de um ano depois da morte de Roberto Bolaño (1953-2003), na Espanha em 2004, este monumental romance foi rapidamente promovido à categoria cult após o lançamento no mercado dos Estados Unidos em 2008 o que transformou o autor chileno (e que todos achavam ser mexicano até então) em um novo mito literário, comparado somente aos escritores da geração beat (ver resenhas do New York Times, Guardian e Independent). Vencedor do National Book Critics Circle Award nos Estados Unidos e eleito o livro do ano pela "Time Magazine", Roberto Bolaño é hoje o autor mais prestigiado da literatura latino-americana, um rótulo que não parece combinar muito com o estilo globalizado de Bolaño.

Este romance tem como base para a sua estrutura narrativa principal os assassinatos violentos de mulheres ocorridos em Ciudad Juárez no México, cidade localizada no deserto de Sonora e próxima à fronteira com os EUA, mas resumir assim o ambicioso projeto literário de Bolaño seria uma simplificação e injustiça com a complexidade e abrangência temática deste livro. Na verdade, Bolaño ao sentir que a morte se aproximava, teria pedido ao editor Jorge Herralde que publicasse a obra em cinco volumes independentes, por entender que assim obteria um retorno financeiro maior para a mulher e os dois filhos. No entanto, o editor e a família acabaram contrariando a sua vontade e publicando o romance em um volume único o que hoje parece ter sido a decisão mais acertada. Sendo assim, o romance é dividido em cinco capítulos: A parte dos críticos, A parte de Amalfitano, A parte de Fate, A parte dos crimes e A parte de Archimboldi.

A parte dos críticos - Quatro intelectuais e críticos literários: um francês, um espanhol, um italiano e uma inglesa, especialistas em literatura alemã contemporânea, mais especificamente obcecados pelo misterioso e fictício autor Benno von Archimboldi, um escritor alemão recluso do qual não se conhecem fotos ou dados biográficos, resolvem seguir uma pista que os leva até a cidade de Santa Teresa, no México (ficcionalização de Ciudad Juárez). Na violenta cidade mexicana, entram em contato com uma realidade local bem diferente da que estavam acostumados em suas respectivas capitais européias e as relações entre eles são influenciadas pelo novo ambiente. O tema dos assassinatos é apenas introduzido de passagem neste capítulo.

A parte de Amalfitano - Este capítulo, o mais curto do livro, é dedicado aos problemas existenciais do melancólico professor de filosofia Oscar Amalfitano que relembra a sua relação na Espanha com a ex-mulher Lola que o abandonou por um poeta. Amalfitano sofre o início de um processo de loucura quando começa a escutar vozes e agir estranhamente. Ele teme pela segurança de sua filha Rosa devido aos assassinatos em Santa Teresa.

A parte de Fate - O repórter negro americano Oscar Fate, após o falecimento de sua mãe, vem cobrir uma luta de boxe em Santa Teresa e acaba se envolvendo com o narcotráfico local, em um clima de literatura noir e tendo um caso com Rosa. Bolaño, como em todos os capítulos, costura narrativas secundárias que podem se conclusivas ou não, histórias se desdobrando em outras histórias.

A parte dos crimes - É o capítulo mais violento do livro, com descrições dos cadáveres de mulheres violentadas que são abandonados nos enormes terrenos baldios e lixões clandestinos próximos às inúmeras fábricas maquiladoras da região. Chama a atenção o nome do maior desses lixões: El Chile, homenagem estranha ao país natal do autor. As investigações não conseguem ser conclusivas.

A parte de Archimboldi - Neste capítulo final, o mais perfeito do ponto de vista literário no meu entendimento, o mistério sobre a biografia de Benno von Archimboldi é finalmente desvendado e Bolaño, com a sua cultura invejável, nos leva a uma convincente história que tem início no front oriental da Segunda Guerra até revelar os motivos que levam Archimboldi a Santa Teresa.

Em todo o romance não é esclarecido o motivo do enigmático número 2666, mas nesta mistura de narrativa policial e filosofia, o leitor entre surpreso e fascinado, não consegue abandonar a lenta construção das infinitas espirais formadas pelas histórias que Bolaño vai desenvolvendo no decorrer do livro e que ele sabe contar extremamente bem, podem ter certeza.
Rahmati 21/09/2011minha estante
A explicação para o 2666 existe, mas não na história corrida, e sim na nota final. ;)




Libio 04/02/2022

O livro é composto por cinco partes, na qual não estão totalmente ligados, embora haja alguns elementos em comum. Senti que o autor não se preocupou em responder tais perguntas levantadas – como, por exemplo, quem é o assassino, entre outras muitas perguntas que podem surgir durante a leitura. Suponho que não respondendo essas questões ele tirou-nos o foco dessas questões, pois elas não são importantes. Ele faz-nos redirecionar o olhar minuciosamente para a obra. Diria que é uma obra complexa que te fará pensar. Se você gosta de livros assim, recomendo!
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anna v. 24/05/2011

Abandonei sem remorso
Passei boa parte do ano de 2010 curiosa com este livro. Já em 2008 começava-se a falar em bolañomania nos EUA, dado o enorme sucesso que a edição americana estava fazendo. Em 2009, o auge. Uma coisa digna de nota, haja visto que traduções dificilmente emplacam nas listas de mais vendidos naquele país. A trilogia Millennium de Stieg Larsson é outro exemplo de tradução que virou bestseller no mercado americano, porém mais compreensível, uma vez que se trata de ficção comercial da melhor qualidade, thrillers fast-paced bem ao gosto do leitor contemporâneo. 2666, no entanto, é ficção literária, de um autor chileno saudado pela crítica mas que nunca havia explodido desta forma como fenômeno de vendas, muito menos no competitivíssimo mercado editorial americano.

A edição brasileira foi lançada com pompa e circunstância pela Companhia das Letras. Linda capa (óleo sobre tela de Rodrigo Andrade), tradução de Eduardo Brandão e o esmero editorial de praxe da Editora Schwarcz. Teve campanha de divulgação no lançamento, e uma subcampanha muito inteligente na época das eleições: quando os jornais ficam coalhados de quadradinhos com números dos candidatos a deputado e senador, eles mandaram publicar quadradinhos semelhantes com "2666 - Roberto Bolaño". Publicidade oportunista inteligente.


O livro ficou na minha lista de desejos por vários meses, mas sem aquela urgência que me fizesse correr à livraria mais próxima para comprar. O preço até não era dos mais ingratos, considerando as 856 páginas: 55 reais. Relativamente não é caro. Mas enfim, 55 reais.

Até que um dia passei em frente a um livreiro de rua e vi o livro à venda, novinho em folha, embalado num plástico. 25 reais. Nem pensei duas vezes, comprei logo, por impulso. Na verdade fiquei surpresa com a dimensão da obra, não sabia que tinha 856 páginas. Mas tudo bem, vamos lá. Tamanho de livro nunca me assustou (na minha lista de calhamaços recentemente lidos estão Queda de Gigantes (912 p.), os 3 Millennium, (528, 608, 688 p.) e o ótimo A Passagem (816 p.), uma distopia futurista interessantíssima e difícil de largar).

O livro sobreviveu à última arrumação na estante, e estava lá, na letra B, entre Boccacio e Borges (momento "oh, como sou culta e minha biblioteca é incrível"). No finalzinho do ano, quando terminei o Roald Dahl, resolvi que era chegado o momento do 2666. Subi no meu banquinho novo (presente de Natal da minha mãe), próprio para alcançar a prateleira lááá de cima, peguei o tijolo, tirei o plástico (ainda com a etiqueta "R$25") com todo carinho e comecei a ler.

Logo de início a gente percebe que o cara é bom. Sabe aquela literatura caprichada, aquele texto que te pega pelo cangote e diz "Presta atenção em mim! Não fica pensando em outra coisa enquanto lê, não! Sem devaneios, leitor!". E assim ele começa com as histórias de quatro críticos literários (um francês, um espanhol, um italiano e uma inglesa) que se dedicam a estudar um misterioso autor alemão contemporâneo, que nenhum dos quatro jamais encontrou pessoalmente, e de quem nem fotos existem, apenas algumas pessoas que dizem o ter conhecido. Os quatro passam por congressos e simpósios mundo afora, e Bolaño vai dando belas sacaneadas no universo acadêmico das "comunicações", "falas", "mesas" e "artigos de revistas especializadas".

A coisa começa a se concentrar na interação entre os quatro, nas viagens que fazem para se visitar, nas viagens dos congressos literários etc. Mas aí o livro começou a decair de interesse para mim. Porque diálogos praticamente não há, a não ser indiretos. Porque parágrafos longuíssimos, de mais de página, há -- e muitos. Mas principalmente porque as digressões começam a abundar, e são aborrecidas. Mil historinhas começam a pipocar a partir dos personagens secundários que encontram os quatro críticos, perfazendo algo que o Milton Ribeiro, que gostou do livro, chamou de "ípsilons". O que o Milton adorou eu achei um saco. Os enredos paralelos não levam a lugar algum, são como ideias (para contos, talvez?) que o autor teve e achou por bem incluir ali, sem muito motivo que eu, em minha infinita ignorância, conseguisse perceber.

Pelo que li a respeito do livro, depois desse núcleo dos críticos, boa parte da narrativa se concentra em misteriosos assassinatos de mulheres no México, e depois mistura o recluso autor alemão à cidade mexicana. Entre outras coisas.

2666 está dividido em 5 partes: A parte dos críticos (130 p.); A parte de Amalfitano (64 p.); A parte de Fate (114 p.); A parte dos crimes (264 p.); A parte de Archimboldi (243 p.). Segundo a "Nota dos herdeiros do autor" que abre a edição, Bolaño deu instruções para que cada parte do romance fosse publicada num livro separado. (Ele morreu aos 50 anos em 2003, de insuficiência hepática, e 2666 foi seu último trabalho, publicado postumamente. Aliás, não há nenhuma explicação para este número misterioso no título, o que, creio, só faz aumentar o hype.) Diz a nota ainda que "com essa decisão (...) ele acreditava ter assegurado o futuro econômico dos filhos". Não sei bem o que pensar dessa informação. Dá ainda mais a impressão de que ele espichou desnecessariamente o livro para que cada parte rendesse um livro propriamente dito. Além do quê, tenho cá pra mim que talvez publicar num só volume, como foi feito no fim das contas, tenha sido mais lucrativo. Não é segredo que os primeiros volumes de qualquer coisa vendem até 10 vezes mais que os volumes seguintes. Eu certamente teria parado no primeiro livro.

Do jeito que foi, não cheguei nem a isso. Por vários dias forcei-me a prosseguir lendo, mas já não estava mais dando nenhum prazer. Parei na página 93 de 856 - pouco além de 10%. Na verdade, num mundo um pouco mais ideal, eu nunca deveria ter comprado este livro. Como nunca tinha lido nada do autor, mas nutria por ele uma curiosidade, poderia ter pego numa biblioteca pública, para ver se gostava. O mesmo posso dizer de tantos livros que tenho. Se apenas tivéssemos esse tipo de cultura, tantas estantes seriam mais leves, subtraídas de curiosidades literárias.

É precisamente por isso que estou incluindo 2666 no meu Mini Sebo Terapia Zero. Pelos mesmos R$25 que paguei, para que não me acusem de querer levar vantagem (mais o frete, que não há de ser barato...). E para liberar preciosos quatro centímetros de lombada na minha estante.

Atualização: Vendido! Em tempo recorde! Para um antigo cliente no Mini Sebo, do interior de Pernambuco. Meu deus, isso está virando mesmo um negócio no sentido business do termo...

http://terapiazero.blogspot.com/2011/01/2666-de-roberto-bolano.html
Felipe 28/06/2011minha estante
Também abandonei o livro, só li A parte (chata) dos críticos. E também vendi! Consegui até mais do que paguei. ;)


BIU VII 14/11/2011minha estante
Estou mais para o final do livro do que para o começo agora já não abandono mais, peguei o ritmo, e estou achando um excelente livro, inovador, alguns personagens fantásticos e a história vai se fechando e eu já sinto a falta que o livro vai me fazer. Livros bons são difíceis de se encontrar.


Eduardo 07/07/2012minha estante
Também abondonei..que livro sacal :(


Marselle Urman 11/11/2012minha estante
Fiore,
Eu gostei do livro, especialmente porque ele "des-satisfaz" de uma forma inédita pra mim, mas respeito muito sua resenha. Abraço.


GustavoCampello 10/05/2013minha estante
Poxa, achei a Parte dos Criticos uma das mais legais. Li o livro em 11 dias, não conseguia parar de ler. Acho dificil a pessoa dar uma nota sem passar dos 10%, mas blz, nem todo mundo precisa gostar da mesma coisa... O livro não é mastigadinho, é um quebra cabeça mesmo, vai do gosto de cada um...


Bertizola 21/04/2015minha estante
Também abandonei o livro. Que porre!! Estórias que saem do nada e chegam a lugar nenhum.




Valéria Cristina 16/02/2023

Que livro é esse!
Esse é um livro difícil de comentar porque não consigo classificá-lo, pois essa leitura foi uma das mais intrigantes que já fiz. Não é uma história que possa ser lida com rapidez, muito menos com falta de atenção.

A narrativa é dividida em cinco partes. A primeira, “a parte dos críticos” relata o fascínio que quatro literatos (um francês, um espanhol, um italiano e uma inglesa) têm pela obra de Benno von Archimboldi, um recluso escritor alemão que há anos não aparece em público. Ao longo desse capítulo, vemos a procura que eles fazem por Archimboldi e como essa busca os leva à cidade de Santa Teresa, no México, local onde diversas mulheres (de todas as idades) são sequestradas e mortas e no qual dizem que o alemão foi visto pela última vez.

Na “parte de Amalfitano”, acompanhamos as lembranças de um filósofo melancólico e depressivo que vive com a filha em Santa Teresa, México. Suas digressões o levam ao passado, ao casamento, à mulher, à vida em Barcelona.

A “parte de Fate”, relata as ações de um jornalista que é designado para cobrir um evento esportivo em Santa Teresa e que, nessa viagem, se interessa pela história das mulheres assassinadas.

Na “parte dos crimes”, o mais extenso capítulo do livro, os homicídios de Santa Teresa são descritos de forma minuciosa e informativa. As investigações, os suspeitos, os presos e tudo o que está relacionado com esses acontecimentos são narrados e diversas especulações são deixadas para que o leitor reflita.

Na última parte a “de Archimboldi”, acompanhamos os movimentos de diversos personagens, inclusive de Hans Reiter, e maioria do capítulo é ambientado durante a Segunda Guerra Mundial, mas se estende até o ano 2000.

Ao longo da leitura, ao passarmos de um capítulo para outro, temos a impressão de estarmos lendo livros diferentes, escritos por autores diversos. Tal é a inventividade de Bolaño. Além disso, são discutidos temas relacionados à literatura, livros, escritores. Ainda, vemos um perfil da banalização da violência urbana, doméstica e policial, bem como a inércia, a ineficácia e a ineficiência do aparato policial; a pobreza da população e o seu abandono também são explorados nessa obra monumental.

A linearidade é uma característica que não faz parte dessa narrativa. Bolaño dispõe, em todos os capítulos, um quebra-cabeça com histórias de surgem de outras histórias e compõem um panorama maior do que as partes individuais do livro.

Recomendo, por fim, que a leitura abranja a nota à primeira edição, no final do volume.

Roberto Bolaño Ávalos foi um escritor chileno, ganhador do Prémio Rómulo Gallegos por seu romance Os Detetives Selvagens, que ele descreveu como uma carta de despedida à sua geração. Bolaño foi considerado por seus pares o mais importante autor latino-americano de sua geração.
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Bertizola 21/04/2015

Um oásis de horror em meio a um deserto de tédio.
Essa citação, que abre o livro, de Charles Bauderlaire representa o que é esta obra. É o que há de melhor no livro. Desculpe-me aqueles que consideram isso uma obra "cult" e comparam Roberto Bolaño à Garcia Marquez.
Um livro que sai do nada e chega a lugar nenhum. Muda-se de cenário e estórias à todo momento como se tivéssemos passando por uma noite de sonhos sem conexão. Infelizmente uma perda de tempo terrível.
Grande sacada do editor convencer a família do Roberto Bolaño publicar todos os livros num só. Pois, com certeza venderia somente os primeiros dois ou três volume da coleção.

Bia0210 19/08/2017minha estante
Concordo totalmente!




Toni 24/04/2018

Acabei as 856 páginas — fonte 6? — do Bolaño e vocês acreditam que não teve equipe de reportagem irrompendo na sala? Nenhum facho de luz incidiu sobre o livro fechado? Nem sequer um coro dos anjinhos mais desafinados desceu dos céus para saudar o término do calhamaço? Humf.
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Desvarios meritocráticos à parte, 2666 é composto por 5 partes originalmente pensadas como cinco romances interligados mas que, com a morte do autor, acabaram publicadas num único volume para malhar bíceps e antebraço.
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Resumindo bem superficialmente, não é possível resumir a obra de maneira superficial. Cabem no projeto-síntese-do-mundo-inteiro de Bolaño a busca de quatro críticos acadêmicos por um autor de renome desaparecido, a história de sobrevivência desse mesmo autor durante a segunda guerra, as angústias de um professor e um repórter perdidos numa cidade dominada pela violência, a descrição minuciosa dos mais de duzentos casos de mulheres brutalmente assassinadas numa região fronteiriça no México (aqui a revolta acumulada a cada corpo encontrado logo se mistura à monotonia das autópsias, causando um mal-estar terrível). "Ninguém presta atenção nesses assassinatos, mas neles se esconde o segredo do mundo", alerta o narrador sobre as 250 páginas que constituem "A parte dos crimes", um dos pontos altos do romance que visa denunciar o descaso e a naturalizacão de uma cultura feminicida de longa data, engendrada pela impunidade do governo corrupto dos homens.
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2666 é uma valiosa meditação sobre a violência e a criacão literária: leitura que eu considero incrível mas que, é preciso admitir, sem a dose certa de entusiasmo pode ser massacrante.
Julyana. 10/05/2018minha estante
A parte dos crimes é mesmo tão árida para atravessar...


Raquel 10/11/2020minha estante
Toni, sempre gosto de ler tuas impressões sobre as leituras! Me faz perceber coisas com olhos renovados e mais atentos. Obrigada!




Fernando 05/08/2022

Precisamos falar sobre 2666
2666, de Roberto Bolaños, me acompanhou no último um mês e meio.
Todas as noites, provocando pesadelos, acesso de riso, excesso de angústia, repulsa, amor, perplexidade, confusão mental ou clareza. Um ou mais itens ao mesmo tempo.

No fim, a sensação de privilégio por ser contemporâneo, portanto, estar entre os primeiros leitores, de um monumento que ficará - o livro já é considerado por muitos especialistas como o maior romance do século XXI até o momento. Algo como ser leitor de Shakespeare já no século XVII, ou de Machado de Assis no início dos 1900.

Mas classificações e comparações à parte, 2666 é um jato incessante, ansioso, fulminante de personagens, paisagens, histórias e tramas. É impossível imaginar que o autor revisou a obra, algo assim não precisa e não deve ser revisado, não há como reviver o mesmo furacão.

Um furacão que te arrasta para os mundos independentes, mas nem tanto, de um autor alemão que ninguém nunca viu; seus críticos/cultuadores europeus; um professor universitário chileno; um jornalista norte-americano; uma camponesa mexicana prestes a virar santa; uma deputada quatrocentona/feminista do PRI; um editor de livros judeu; uma baronesa prussiana; um general romeno; o assassinato de mais de duzentas mulheres e mais uma centena, sim, uma centena, de personagens que se tornam reais logo na segunda linha.

Essa multidão, ao invés de acrescentar, destrói cada retalho da colcha empoeirada que cobre a relação Europa/América Latina, ou, mais precisamente, expõe à luz como a tradição de convulsões e conflitos do velho continente deu origem ao inferno particular instalado em cada país latino-americano até hoje.

Ao finalizar o livro, me lembrei de um episódio vivido em 2011, quando recebi um prestigiado diretor de fotografia italiano radicado em Hollywood. Entre uma gravação e outra, nós, da equipe local, procurávamos mostrar um detalhe e outro do Brasil para o excêntrico romano/californiano. Entre caras de nojo e expressões de surpresa mal disfarçadas, o tipo disparou: "a textura deste lugar é idêntica a do México".

Sim, a textura da vida na América Latina é a mesma. Nossas dores e gozos, tão diferentes e tão idênticos entre si. A mesma textura da Europa latina do pré-Segunda Guerra.
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Mário Lucas 18/08/2011

Digressões dentro de digressões.
Não há dúvidas de que a escrita de Bolaño é competente e muito original. Além disso, sua capacidade de criar estórias e construir personagens é notória. Porém, há uma característica em seu estilo que agrada alguns leitores e desagrada a outros: suas digressões intermináveis e seu texto prolixo.
2666 é isso. Bolanõ começa uma estória, essa estória se bifurca, dentro dessa nova estória surge uma digressão, essa digressão passa a ser a nova estória, de modo que a antiga estória é abandonada por completa, e assim sucessivamente. O livro é dividido em cinco partes, mas dentro de cada parte existem outras tantas partes, e que nem sempre se concatenam. A mim, particularmente, isso não agrada, mesmo admitindo que dentro dessas digressões podemos encontrar ótimas estórias.

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arthur966 20/10/2020

"ninguém presta atenção nesses assassinatos, mas neles se esconde o segredo do mundo"
para narrar as centenas de assassinatos de mulheres num cidade de fronteira mexicana, bolaño conta sobre um trinagulo amoroso entre literatos, um professor viúvo, um jornalista que perdeu a mãe, o submundo do crime no norte do méxico, um soldado muito alto que se parece com uma alga e centenas de milhares de outras pequenas (algumas nem tanto assim) e personagens de diferentes países e épocas, que mesmo não se envolvendo nos crimes, estão inseridas no mundo que explica e justifica as mortes das mulheres mexicanas.
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