spoiler visualizardecodeco 09/02/2024
Uma viagem alucinante de evolução com Laranja Mecânica
Lembro-me de quando criança havia o costume de visitar o meu avô. Por ser um aposentando da Polícia, o velho possuía muita grana. Ele adorava ostentar com as televisões de última geração que naquela época eram as recém chegadas no mercado televisões de plasma.
Dentre os itens de ostentação de meu avô, havia um que sempre chamava a minha atenção infantil: sua coleção de edições especiais de DVD's.
Alguns títulos tinham a minha atenção instantânea sempre que eu chegava em sua residência, o primeiro Homem-Aranha com Tobey Maguire era um deles.
Lembro claramente de outras capas como Cantando na chuva, Chicago e aquela capa que chamava a minha atenção principalmente por conta do nome do filme: Laranja Mecânica.
Pensava eu com meus cinco anos "Como pode uma laranja ser mecânica? Ela é uma fruta!"
Este título permeou em minha mente desde então, entretanto, nunca dei uma chance real de conhecer esta obra até então misteriosa, apenas agora, no auge dos meus vinte e tantos anos que enfim mergulhei de cabeça neste universo horrorshow criado por Anthony Burgess.
Laranja Mecânica é um livro bárbaro, que não tem medo de mostrar a que veio. Toda a violência explícita apresentada aqui é importante para o desenrolar da trama, que convenhamos, toma rumos bem inusitados as vezes.
Para começar a falar deste livro, nada mais justo do que parabenizar a sua narrativa. Gosto como Burgess além de criar de certa forma seu próprio dialeto, não torna a leitura cansativa em momento algum.
Ele sabe separar muito bem os acontecimentos em capítulos que duram em média dez páginas que sempre deixam um gosto de "quero mais".
Conforme já dito, Laranja Mecânica é um livro bárbaro, violento, ao mesmo tempo que é uma obra de ficção ele mostra aspectos e pontos extremamente nojentos da nossa sociedade.
O livro foi escrito em 1962, entretanto, os problemas apresentados aqui são extremamente atuais, como a violência de grupos formados por rebeldes e até mesmo um pouco da violência policial.
As críticas feitas a como o sistema utiliza de métodos não ortodoxos para reabilitar aqueles que já não tem condições de viver de uma maneira sadia dentro de uma sociedade são muito pontuais e que nos fazem refletir "Isso realmente vai funcionar?" e sim, pelo menos no livro eles funcionam até certo ponto.
Alex é, acima de tudo, um jovem que deseja aproveitar a sua juventude fazendo tudo aquilo que der vontade e que seus hormônios ditam. Não esquecendo que aqui o nosso protagonista-narrador tem apenas 15 anos.
Ele é um rapaz apreciador de música clássica, gosta das belas artes e principalmente boas doses de ultraviolência, como se fosse um viciado em adrenalina.
Até que, em um belo dia, seus drugues o traem e Alex acaba indo para uma reabilitação estatal onde é submetido a diversas experiências horrendas.
Com críticas muito válidas a sociedade, governos, senso de ética e moral, Laranja Mecânica é, acima de tudo, uma estória de amadurecimento e evolução.
A progressão de Alex durante todo o livro é algo prazeroso e recompensador, apesar dele ter atitudes totalmente controvérsas nós torcemos pelo seu sucesso e, pelo menos eu, vibrei de emoção ao ver o desfecho que o nosso protagonista teve.
Este é sem dúvida um dos melhors livros que li e se tornou automaticamente um de meus favoritos.
Aquela versão minha com cinco anos de idade está totalmente satisfeita por descobrir que uma Laranja pode sim ser Mecânica.
site: @covildoapocalipse