Hamnet

Hamnet Maggie o'farrell




Resenhas - Hamnet


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Regis 25/02/2024

Os extremos do luto e sua ressignifição através da arte
Maggie O'Farrell é uma autora original da Irlanda do Norte que atualmente mora em Edimburgo, ela possui dois livros premiados "A Mão que me Acariciou Primeiro" e "Hamnet". Esse último, um romance histórico lançado em 2020 que teve origem na curiosidade da autora que, ainda uma estudante adolescente, ouviu falar, pela primeira vez, do filho que William Shakespeare perdeu e que deu nome a peça considerada por muitos sua obra-prima.

No verão de 1596 a peste alcança um pequeno lar em Stratford e os efeitos arrasadores desse acontecimento cobrirá, inexoravelmente, uma família com o manto negro do luto e a tristeza pela impotência diante de uma perda tão cruel.

O romance é divido em duas partes, uma (mais feliz) que se passa antes da morte de Hamnet e outra (completamente tomada pela tristeza e o desalento) que se passa após sua morte. A autora opta por narrar o romance com foco na história de Agnes (a versão ficcional de Anne Hathaway, esposa do dramaturgo) e seus filhos Susanna e os gêmeos; Hamnet e Judih. Shakespeare, no livro, é chamado de ?seu marido?, ?o pai?, ?o tutor de latim? nunca tendo seu nome real citado.

Agnes é uma personagem forte, excêntrica (para a época) e considerada selvagem pelos cidadãos de Stratford por causa de sua, total, comunhão com a natureza, de onde retira as ervas que necessita para ajudar as pessoas, aliviando suas dores físicas e até mesmo as emocionais. Agnes herdou o talento de sua mãe, que faleceu no parto do terceiro filho, deixando Agnes e seu irmão mais novo, Bartholomew, ainda pequenos e à mercê de Joan, uma madrasta mesquinha e cruel, que prioriza sempre seus filhos dando um tratamento nada maternal aos enteados.

O irmão de Agnes, Bartholomew, aparece poucas vezes, sempre em momentos pontuais, mas ele carrega uma áurea de proteção tão reconfortante que produz uma sensação, quase palpável, de aconchego e segurança.
Eles possuem uma linda e maravilhosa ligação que transpõe o tempo e a distância mantendo-os sempre próximos.

A alternância de espaço temporal na história serve ao propósito de abordar o início da vida do casal, Agnes e "Shakespeare", sutilmente preenchendo as partes que faltam na biografia do bardo.

A autora aborda a difícil relação de "Shakespeare" com seu pai John, um luveiro caído em desgraça e com péssima reputação em Stratford, que permite seu casamento com Agnes (alguns anos mais velha e herdeira de uma razoável quantia) apenas por ver a possibilidade de ter uma dívida saudada através do enlace de seu filho.
A esposa, na vida de "Shakespeare" se torna a força motriz que irá intermediar e possibilitar sua ida para Londres; livrando-o da opressão de um pai abusivo e rancoroso, conseguindo libertá-lo das amarras de uma vida de insatisfação, arrancando-o das garras da depressão e permitindo-o chegar a londres para trilhar seu próprio caminho e liberar todo seu potencial criativo.

Hamnet é mostrado no primeiro capítulo do livro tentando buscar ajuda para sua irmã Judith, que caiu de cama com uma febre altíssima durante uma tarde em que não havia ninguém em casa. Enquanto ele procura desesperadamente por sua mãe, irmã e avó a autora vai desenvolvendo sua personalidade e nos mostrando a ligação profunda que possui com sua gêmea idêntica, Judith. Tudo isso é mostrado alternando com o passado, mostrando o casamento dos pais e o nascimento da irmã Susanna e o dos gêmeos e a profunda devoção de Agnes pela vida dos filhos nos fazendo conhecer o garoto desde seu nascimento e tornando sua perda tão insuportável para nós como será para a família. O luto que se segue após a morte de Hamnet é doloroso, atormentador e torturante.
Agnes se culpa por sua impotência em salvar a vida do filho mesmo com todo seu conhecimento e tendo ajudado tantos outros em momentos semelhantes.
O momento que o corpo está sendo preparado por Agnes e Mary (a avó) é tão agoniante que parecia que eu havia perdido Hamnet também. A autora transmite a dor e o desespero por essa perda de forma tão avassaladora que é impossível não vivenciar o luto e a angústia de Agnes e sua família revivendo nossas próprias perdas pessoais nesse momento tão tenebroso da narrativa (sim, a narrativa da perda de Hamnet é potente a esse ponto).

Hamnet ao sucumbir à morte abala gravemente a relação de seus pais, mas principalmente pela recusa de "Shakespeare" de não conseguir ficar junto de sua esposa e filhas para vivenciar e superar o luto ao lado delas.
Isso abala, particularmente, Judith que além de perder sua outra metade, sente-se culpada por sua semelhança com o irmão possivelmente ser a causa do afastamento do pai.
Ele foi completamente obtuso e avilanado ao abandonar Agnes e as filhas à mercê de tanto sofrimento ao invés de ficar e apoiá-las.

Ao final, a profunda dor, que ele tentou ocultar de todos, é demonstrada ao trazer Hamnet de volta à vida do único jeito que era capaz: através de uma peça, onde exorciza seus demônios ao entregar-se nas garras da morte para ressuscitar Hamnet em seu lugar.

Esse foi um livro profundo que  preenche algumas lacunas da vida de "Shakespeare" ao focar na devastação de uma família arrasada por uma perda surpreendentemente rápida e assoladora, através de um clima nostálgico, com personagens extremamente bem desenvolvidos, enquanto aborda de forma mais aprofundada o luto e sua ressignifição através da arte.

Maggie O'Farrell guia a narrativa com leveza e uma fluidez harmoniosa, tornando impossível fechar o livro sem sentir que foi completa e definitivamente enlaçada e obrigada a se envolver em nível pessoal com as emoções dolorosas da perda e do luto acachapante desenvolvido pela autora.

Recomendo para todos.
Caio380 25/02/2024minha estante
Ótima resenha!


Regis 25/02/2024minha estante
Obrigada, Caio!??


Ellen Seokjin 25/02/2024minha estante
Está na minha wishlist! Essa capa é linda (a azul tbm). Eu gostei de Hamlet então me interessei por ele.


Fabio.Nunes 25/02/2024minha estante
Tu escreveu tão bem que tô com medo do sofrimento que este livro pode trazer.


Fabio 25/02/2024minha estante
Eu fico de fora uns dias, e já escreveu mais uma resenha? Assim não dá para acompanhar seu ritmo Regis! kkkk
Brincadeiras a parte, mais um resenha muito bem escrita, minha querida!
Parabéns!???


Regis 26/02/2024minha estante
Você nem ficou fora tanto tempo. Rsrsr
Agradeço imensamente suas palavras, Fábio! ?


Regis 26/02/2024minha estante
Eu sofri um pouco, Fábio, mas não tenha medo, é um ótimo livro.


CPF1964 26/02/2024minha estante
Este mundo literário é fantástico !!! Resenha calhamaço...... Não conhecia. Consegui ler 20 %. Até sexta-feira eu termino......


Regis 26/02/2024minha estante
Acho que vai gostar de saber um pouco mais sobre a origem do nome da peça de Hamlet, Ellen. ?


Regis 26/02/2024minha estante
???? Vou aguardar até lá, Cassius. ??


@tigloko 26/02/2024minha estante
Que resenha maravilhosa, parabéns Régis ??. É realmente um livraço ?


Regis 26/02/2024minha estante
Obrigada, Tiago! ?


HenryClerval 05/03/2024minha estante
Não conhecia o livro Régis, mas sua resenha está sublime e instigante, parabéns! ?????
Deu vontade ler Hamlet de novo.


Regis 05/03/2024minha estante
Obrigada, Leandro! Também estou com planos para ler Hamlet esse ano.??




Leila de Carvalho e Gonçalves 01/10/2021

Hamlet
Com o selo da Intrínseca, em setembro chegou às livrarias o romance ?Hamnet?, da irlandesa Maggie O?Farrell, entretanto dois meses antes ele já fora distribuído para os membros do Clube de Leitura da editora.

O título refere-se ao único varão da prole do poeta, dramaturgo e ator William Shakespeare. Filho do meio, Irmão de Susanna e Judith, a caçula de quem era gêmeo, Hamnet faleceu em 11 de agosto de 1596, aos 11 anos. Uma fatalidade praticamente esquecida pela história, à medida que são essas as únicas informações conhecidas a seu respeito.

Inclusive, William jamais publicou um poema mencionando o filho ou a dor pela sua perda. Já na dramaturgia, há reincidências de duplos ou gêmeos idênticos, mortes precoces e, a tragédia ?Hamlet?, uma variante de Hamnet, que sempre foi alvo de especulações quanto a uma possível semelhança entre o filho e a personagem além da relação envolvendo memória e ficção.

O?Farrell optou por tal perspectiva para escrever o livro e surpreendentemente, tornou O Bardo de Avon um personagem secundário e, em nenhum momento, seu nome é mencionado. Ele surge ainda jovem, antes do reconhecimento de sua genialidade, incapaz de adequar-se a um ofício e uma vida regrada, isto é, sem muito empenho leciona algumas aulas particulares de latim, vez por outra realiza alguma tarefa a mando do pai, um luveiro charlatão, e todas as noites, frequenta às tavernas da vizinhança.

Se o protagonismo do romance não recai em William, também não pertence a Hamnet, mas a Agnes, pronuncia-se Ann-yis, mais conhecida por Anne, esposa de um e mãe do outro. Essa troca pode parecer estranha à primeira vista, mas deve-se ao nome mencionado por Richard Hathaway, o pai de Agnes, em seu testamento. Por sinal, o vistoso dote que recebeu, quando ela era uma criança, assemelhava-se a uma bênção para uma mulher que, até os 26 anos, parecia destinada a não se casar, visto que era ?estranha e selvagem. Costumava caminhar pela propriedade da família com um falcão pousado na luva e tinha dons extraordinários: adivinhava o futuro, intuía sobre a natureza das pessoas e sabia como curá-las mediante poções e plantas?.

Portanto, ?Hamnet? não é somente uma narrativa que tematiza o luto, mas também uma história de amor entre duas pessoas excêntricas, fora dos padrões, que deságua num casamento constantemente posto à prova. Agnes mostra-se habilidosa ao lado de um marido dotado de imaginação mas destituído de senso prático. Sem crédito, ela apoia as ambições de William, ao mesmo tempo que é uma mãe dedicada. Resumidamente, ela assume a responsabilidade pela felicidade dos seus, sacrificando a sua, resultando num delicado equilíbrio que se rompe com a morte do filho, pois o casal responde de maneiras distintas ao luto. Enquanto Agnes passa a conviver com a depressão e a sensação de ter falhado na missão de proteger o filho, William dá-lhe as costas e sem demora, retorna a companhia teatral que fundou em Londres.

Quanto ao tempo narrativo, a escritora exibe destreza na sua construção. Ela alterna duas linhas temporais: a primeira começa em 1596, quando a peste negra exibe os primeiros sintomas na pequena e frágil Judith; a outra, retrocede 15 anos, na ocasião que William e Agnes se conhecem na propriedade dos Hathaway, enquanto ele dava aulas para seus futuros cunhados. Aliás, essas linhas encontram-se na última parte do livro que principia após a morte de Hamnet.

Outro ponto sugestivo está no meio do romance. Em 18 páginas, a escritora comenta como as viagens marítimas contribuíram para a disseminação das doenças infecciosas, ou seja, como um macaco na Alexandria, um grumete da Ilha de Man e um vidreiro veneziano foram cruciais para a transmissão da peste bubônica que teria alcançado a Inglaterra no final do século XVI, afetando profundamente o destino dos Shakespeares.

Nesse caso, o vetor são as pulgas infectadas que saltam de um corpo para outro, semeando grande sofrimento físico e, costumeiramente, a morte. Causa surpresa as medidas sanitárias adotadas na Renascença e como 400 anos depois, a despeito do avanço da ciência, essa questão continua e continuará desafiando a humanidade, acelerando as desigualdades e exigindo o persistente combate ao negacionismo, comumente associado a interesses econômicos e políticos.

Finalizando, ?Hamnet? é atemporal e, conduzido por vividas descrições e presságios sombrios, remete a um desfecho comovente. Sem dúvida, está entre as melhores leituras que fiz este ano. Recomendo, sobretudo, para quem se encantou com o premido romance ?Lincoln No Limbo?, de George Saunders.

?Então baixa o silêncio, a imobilidade. Nada mais.? (Página 201)
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Matheus 09/07/2021

Terminei a leitura e fiquei com uma grande dúvida quando pensei em que nota dar pra esse livro, foi uma leitura de grandes altos e baixos. Quando recebi o livro já não fiquei tão animado, essa premissa não me chamou a atenção, mas ao andar da leitura acabei gostando bastante da história e de alguns personagens e a forma como foram construídos. Infelizmente achei muito confuso o modo que a autora escolheu de intercalar presente e passado, na minha opinião ela não acertou nisso. Confuso também é o desfecho escolhido, apesar de ter a impressão que foi a melhor decisão, podia ter sido um pouco mais trabalhada. Vale a pena a leitura. Por fim, destaco o quanto consegui enxergar o amor materno em Agnes para com seus filhos, talvez o ponto alto da experiência.

site: www.instagram.com/cadapaginaumaviagem
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Karina Greco 26/07/2021

A dor dilacerante da perda
Uau! Que leitura!

Comecei não gostando muito da escrita. Pareceu-me, a princípio, arrastada, que não deslanchava. Mas, de repente, as coisas foram crescendo de uma forma tão intensa, que o livro então me pegou. Não consegui largá-lo até terminá-lo.

A forma como a autora descreve o sentimento de uma mãe, principalmente dela, com a perda de seu filho pequeno é algo avassalador. O sofrimento esmiuçado em seus mínimos detalhes... como ela, a autora, consegue transmitir cada milímetro da dor, como ao mesmo tempo essa dor separa e une. Uma força que muitas vezes a gente acredita que não é capaz de superar.

Fatos da vida de Shakespeare são o pano de fundo para que a escritora crie seu enredo fictício. A tragédia real que golpeou a família no século XVI, a perda do pequeno Hamnet aos onze anos de idade, é o ponto principal da obra, com o qual a autora tenta construir e imaginar como poderia ter sido a vida de um dos grandes dramaturgos da história. Alguns anos após a morte de seu filho, ele escreveria a peça Hamlet para, sem saber, eternizá-lo afinal.

Um livro emocionante, em que a gente sofre e chora junto com os personagens. E o tanto de significado que a última frase transmite! Lindo! Mais que recomendado.
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Carlos Nunes 29/06/2023

Um livro sensível
Não sou muito fã de literatura contemporânea, e raramente leio os livros que estão "bombando" por aí, mas esse me chamou a atenção pela quantidade de resenhas (positivas) sobre ele vindas de pessoas confiáveis, leitores mais experientes, que têm um gosto parecido com o meu e em cujas indicações eu confio. Motivado pela visita à cidade natal do Shakespeare, Stratford-upon-Avon, peguei HAMNET para ler e foi uma ótima experiência. Mais do que a história (quase desconhecida) do único filho do dramaturgo, o livro fala da vida de sua esposa, a Anne Hathaway (aqui chamada de Agnes, apelido dado pelo pai) mas, principalmente pelos efeitos do luto nela e no pai famoso, e em como cada um lida com essa perda dolorosa à sua própria maneira.
Um livro de leitura fácil, que intercala capítulos sobre a juventude, tanto da Anna quanto do Shakespeare, seu casamento e o início de sua vida conjugal, com os fatos e o desenrolar da morte do filho, evento que marcou de forma indelével toda a família, especialmente os pais. A se destacar, um capítulo que mostra o trajeto do vírus da peste negra, desde os portos do Oriente a uma tranquila cidadezinha do interior da Inglaterra, de uma forma pouco convencional e brilhantemente narrada. No geral, um livro muito bem escrito, fluido, envolvente e sensível, uma leitura que vale conhecer, mesmo que não se torne um livro da vida.
priscyla.bellini2023 29/06/2023minha estante
Me chamou atenção pelo mesmo motivo, darei uma chance.


Carlos Nunes 29/06/2023minha estante
Acredito que irá gostar, não se tornou um livro das vida, mas é bem gostoso de ler, embora também doloroso e bastante sensível, em especial sobre o luto.


Kio 21/07/2023minha estante
Amei igualmente esse capítulo da pulga




kaunescau 13/11/2021

A princípio não gostei muito do começo, mas conforme a história foi avançando também foi me conquistando, me fazendo ler mais de 100 páginas no mesmo dia.

É uma história delicada, uma obra de ficção que nos remete ao falecido filho de Shakespeare, Hamnet, e os acontecimentos em torno dessas pessoas.

O personagem principal ao meu ver não foi o menino que dá título ao livro e nem ao famoso pai, mas sim a mãe Agnes e toda a sua jornada como jovem mulher, mãe e curandeira em 1580, uma década em que nada que as mulheres fizessem por vontade própria era bem visto.

Fiquei muito emocionada na segunda parte do livro e em como os detalhes nos fazem sentir o que os personagens estavam passando, achei as descrições muito sensíveis e belas, até chorei!

"No limite da floresta, uma moça.
Há uma promessa do contador para o ouvinte, disfarçada nessa introdução, como uma espécie de bilhete enfiado furtivamente num bolso, uma sugestão de que algo está para acontecer."
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Cissa.Clarkson 16/11/2021

Surpreendente!!
Uma pequena biografia, com varias especulações, como a própria autora afirma, do filho de Shakespeare, Hamlet!
Estou encantada com a escrita de Maggie O'Farrell que lindeza, fácil de envolver, um primor!
Vale muito a leitura e ja valeu a grana que gasto no Clube Intrínsecos!
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JuBarbosa 14/03/2024

Gostei
É bem interessante, principalmente por ser baseado na história de Shakespeare, mas como mãe, quando chega a morte de Hamnet, dói na alma.
O livro me prendeu bastante, eu indico a leitura.
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