edineideo 16/08/2021
A Longa e firme Linha da vida. Lembra-te de mim.
Hamnet, de Maggie O'Farrell
Ed. Intrínseca, Caixinha de Julho/2021, P. 384.
Literatura: Inglesa. Gênero: Romance.
"Toda vida tem sua essência, seu núcleo, seu epicentro, do qual tudo flui, para o qual tudo reflui.” P. 18
A comovente e poética obra de ficção, inspirada na breve vida de Hamnet Shakespeare, que morreu aos 11 anos, em 1596, sendo desconhecida a causa da morte, apesar de ser uma época acometida pela peste negra. O pai, William Shakespeare, cerca de 4 anos depois, escreveu a peça chamada Hamlet.
“Inspira, expira. Então baixa o silêncio, a imobilidade. Nada mais.” P. 263
Nas primeiras páginas, confesso que estava achando a leitura bastante monótona. Contudo, a partir da página 69, compreendi melhor o rumo dos acontecimentos e devorei um parágrafo após o outro.
“Ela é diferente de todo mundo que você conhece. Não se importa com o que pensam dela. Segue os próprios instintos.” P. 86
“Você ver o mundo como ninguém mais vê. [...] É a principal razão que me faz amar você.” P. 146
Dividido em 2 partes, com escrita impecável, personagens densos e narrativa que flutua entre o passado e o presente.
“Não sabe como, mas sabe; simplesmente sabe.” P. 193
O livro é um misto de contexto histórico, realidade e fantasia, com direito à lenda, poções, bruxa, odores, leitura de mão, previsão do futuro, francelho, floresta... como não lembrar de outros tantos livros.
“Alguém que sabe tudo sobre a gente, antes mesmo que a gente saiba. Alguém capaz de adivinhar nossos segredos mais secretos apenas com um olhar. Alguém capaz de dizer o que a gente vai falar, e o que não vai falar, antes que a gente fale. Isso é, ao mesmo tempo, uma alegria e uma maldição.” P. 329
Contudo, as temáticas atemporais foram o ponto alto da obra. Simplesmente comoventes.
“Como é fácil deixar passar despercebidas a dor e a angústia de uma pessoa, se esta fica calada, se guarda tudo para si, como uma garrafa muito bem tampada, a pressão no interior crescendo e crescendo...” P. 200
A escritora nos faz imergir no luto, dor da perda, culpa, amor entre pais e filhos, entre irmãos gêmeos, violência física e psicológica, depressão, realização profissional, maternidade, família, força feminina, separação, trabalho, traição, perdão.
“Não se pode mudar o que recebemos, não podemos domar ou alterar o que nos cabe.” P. 277
“Não há como voltar atrás. Não há como desfazer o que foi estipulado para todos.” P. 298
Como não se emocionar com as cores do parto: o vermelho, o azul e o branco.
“O que é dado pode ser tirado, a qualquer momento.” P. 207
Embora o livro esteja centrado na história e morte de Hamnet, quem fez as páginas brilharem, na maior parte do tempo, foi sua mãe, Agnes.
“Ela mora lá, mas a casa nunca será dela.” P. 337
Outro aspecto interessante é que, ao longo de toda a história, a autora não cita o nome do pai de Hamnet. Conhecemos ele como o filho do luveiro, professor de latim, o tutor, o irmão mais velho, o marido, o pai, o inútil, vendedor de luvas, inquilino, o ator.
“Ele fez o que qualquer pai gostaria de fazer, trocar o sofrimento do filho pelo seu, tomar seu lugar, oferecer-se em sacrifício em prol do filho para que o menino pudesse viver.” P. 372
Ranços eternos pelos avós paternos de Hamnet e pela madrasta de Agnes.
“A única coisa que a deixa feliz é fazer os outros tão infelizes quanto ela.” P. 334
Amor incondicional por Agnes, seu irmão Bartholomew e seu filho Hamnet.
“Existe um tremendo poder a ser exercido em silêncio.” P. 83
Muitos momentos marcantes: de sorrisos, raiva, coração quentinho, peito apertado, olhos cheios de lágrimas.
“É uma mulher em pedaços, e esses pedaços estão espalhados por todos os lados.” P. 288
Uma história triste, forte, reflexiva, arrebatadora. Um dos melhores livros que li em 2021.
“A morte é uma luta. O corpo se agarra à vida, como hera a um muro, e não larga com facilidade, não se desapega sem lutar.” P. 261
Nota 5 com coração infinito.