Candido Neto 01/01/2024BomLivro escrito por um homem maduro, branco, cis, hétero, burguês. Hummm...
Mas é sobre paternidade.
Bom. Crônicas é aquele campo de literatura não ficcional repleto de afeto.
Há crônicas em que ele fala como filho de um pai senil com Alzheimer, mas a maior parte é sobre ser pai do bebê, da criancinha, do molecão e depois do quase adolescente Martin.
Prefiro os relatos do filho Leo que do pai Leo. Há muito de afetuosidade sem melosidade no texto. Causos curtos, esquecíveis como os nossos causos também o são.
Aí está a mágica da crônica, os desacontecimentos são a matéria de trabalho, o atravessar da rua na faixa de pedestre, os óculos 3D no cinema, a barata voadora, o palavrão na frente do pirralho, a banalidade que nos humaniza.
Não me tornei um fã do fotógrafo, jornalista e colunista. Mas é um livro que recomendo, que gostei, leria outros do sujeito que tinha tudo pra ser um boçal bolsominion, mas desses o Leo tira sarro e faz chacota.
Não bastasse tem prefácio da Adriana Calcanhotto (sou fã desde sempre - ela escreveu o bom livro Saga Lusa, divertidíssimo sobre estar doente e trabalhando em turnê), Adriana escreve tão bem, que se o texto de Leo fosse ruim, o prefácio pagaria o livro. Mas ele escreve tão bem, que tive uma surpresa ao terminar o livro e relembrar do prefácio.
Não é um marco na literatura nacional, não vai constar no top dez de nenhuma lista, mas nada que fale sobre reunião de pais e mestres em escola, sobre o celular de crianças e de perguntas sobre a razão de o pai idiso esquecer-se dele, talvez não sejam as temáticas dos grandes livros.
Os top livros também não dão conforto. Esse é um livro para dar quentinho no coração, me emocionou algumas vezes, me fez rir em tantas outras, sobretudo foi leve.