O acontecimento

O acontecimento Annie Ernaux




Resenhas - El acontecimiento


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Bookster Pedro Pacifico 28/06/2023

O acontecimento, de Annie Ernaux
Confesso que, apesar de não ter me fisgado no primeiro contato que tive ao ler “O lugar”, Ernaux conseguiu me fascinar com as leituras que vieram na sequência. “O acontecimento” talvez seja o mais impactante de todos, sobretudo pela forma com que trata um tema tão sensível e polêmico.

Como é característico de suas obras, somos apresentados às memórias da autora, especificamente no ano de 1963, quando Ernaux descobre estar grávida de um namorado recente em sua vida. A difícil decisão, em um cenário de desamparo familiar, é de seguir pelo aborto clandestino. A ilegalidade daquele ato e a falta de recursos faz com que aquele caminho traumatizante ficasse ainda mais desafiador. Uma jovem sozinha e correndo riscos de perder a própria vida.

É impressionante como a autora consegue fazer uma mistura entre suas memórias e um tom impessoal, que expande os assuntos tratados para um cenário mais coletivo. No caso de “O acontecimento”, essa habilidade é somada à inegável coragem de expor uma passagem tão íntima e dolorida. Mas compartilhar com o mundo é, para a autora, quase uma necessidade.

Um relato muito impactante e verdadeiro de um tema que precisa ser discutido, principalmente quando consideramos que O Acontecimento de Annie Ernaux ainda é uma realidade de tantas mulheres. Fico contente de saber que a autora de uma obra corajosa como essa ganhou notoriedade mundial e que seus textos passam a ser cada vez mais lidos. Por isso, minha recomendação não podia ser outra: leiam Annie Ernaux

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aline203 27/11/2022

Importante, corajoso e forte
o tema do aborto é um tema que existe na vida das mulheres embaixo de sussurros. é o disse-me-disse que ouço desde a adolescência...sussurros das amigas na escola, de primas, de minha mãe, de amigas de minha mãe, de filhas de conhecidas, de conhecidas minhas....

ele ronda qualquer mulher desde jovem: o medo de engravidar. e não ser donas do próprio corpo. a lei está contra nosso futuro, caso a gente engravide e não tenha dinheiro para procurar uma clínica segura para interromper a gravidez.

que relato forte, importante e corajoso! 
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Leila de Carvalho e Gonçalves 09/03/2022

Uma Gravidez Indesejada
?Temos apenas a nossa história e ela não é nossa.? (José Ortega y Gasset)

O Acontecimento é o décimo livro de Annie Ernaux e o terceiro publicado pela Fósforo. Lançado em 2000, ele reporta a um assunto que a escritora já comentara em outras obras: um traumático aborto que realizou em janeiro de 1964.

Um procedimento clandestino que antecedeu em poucos meses a descriminalização e legalização da interrupção voluntária da gravidez na França e deu origem a um relato, de aproximadamente 80 páginas, que pode incomodar, repelir e até ser considerado de mau gosto por alguns leitores. Entretanto, como alerta a escritora: ?Ter vivido uma experiência, não importa de qual natureza, dá o direito imprescritível de escrevê-la?. E como ?não existe verdade inferior?, um relato não pode sujeitar-se a escrúpulos.

No caso, essa experiência é uma gravidez indesejada que, se levada adiante, poderia alterar completamente o plano de Ernaux diplomar-se professora, profissão que exerceu até a aposentadoria. Um dilema que traz à baila uma jovem só e desorientada, a ponto de recorrer a uma ?fazedora de anjos?, colocando em risco a liberdade e a própria vida.

Como é característico de seu estilo, a escritora apresenta o ?acontecimento? com distanciamento e objetividade, entrelaçando o público e o privado, a história e a biografia. Uma postura que reivindica ?uma escrita sem julgamento, metáfora, ou comparação romântica? e é considerada pela critica como uma invenção que tem inspirado outros autores memorialistas.

Um processo de recuperação do passado, que sujeito a instabilidade da memória, foi guiado por uma agenda e um diário íntimo, guardados pela escritora desde o tempo de faculdade. O resultado tem o cuidado de omitir os nomes das pessoas envolvidas, apresentados por iniciais, e alude a frase final de Os Anos: ?Salvar alguma coisa deste tempo no qual nós nunca mais estaremos?.

Finalmente, a escritora levou algum tempo para decidir se escreveria o livro. Não temia o julgamento das pessoas, mas a validade de abordar uma conjuntura que já está superada na França há décadas. Um impasse encerrado após Ernaux concluir que seu ?silêncio só contribuiria para obscurecer a realidade das mulheres e acomodá-la do lado da dominação masculina do mundo?.

Por outro lado, em países com outra conjuntura, isto é, cujas leis ainda pesam sobre o corpo da mulher, O Acontecimento redimensiona-se ao atrair uma pertinente reflexão que coloca à prova preconceitos e julgamentos antecipados. A bem da verdade, é impossível permanecer ileso ao relato de Annie Ernaux. Boa leitura!
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13marcioricardo 20/09/2023

Conflitos da vida
O acontecimento narra um episódio marcante na vida de Annie, um aborto, em tempos que era prática clandestina. Um olhar peculiar, uma experiência humana, uma visão sobre a qual vale a pena ter consciência. Foi o terceiro livro que li da autora e, o melhor.
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Menino Leitor 29/09/2023

Forte e emocionante
Na verdade mexeu muito comigo, se tratando de fatos da vida da autora.
Mas ao mesmo tempo, aumenta minha admiração pela mesma.
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Mariana Dal Chico 06/03/2022

Em 2019 conheci Annie Ernaux com o livro “Os Anos”, que entrou para a lista de favoritos da vida. Desde então, fico aguardando cada novo livro publicado no Brasil.

“O Acontecimento” foi publicado pela @editorafosforo que me enviou um exemplar e assim que ele chegou, comecei a leitura e terminei no dia seguinte. O livro é curto (80 páginas), mas a memória é dolorosa e o tema é tabu: o aborto.

Em 1963 Ernaux era uma universitária de 23 que engravidou de P., os dois não tinham muita certeza da natureza do relacionamento, mas assim que soube da novidade, Annie escreveu para ele dizendo que estava grávida e não queria o filho.

Sem o apoio - moral e financeiro - do namorado ou de sua família, a jovem se viu completamente sozinha na busca de resolver sua situação com um aborto, que na época ainda era ilegal na França.

A escrita da autora é racional, direta, mas imprime sua desolação, impotência e, principalmente, o sentimento de exclusão do mundo normal. Fui capaz de sentir sua angústia e dor em cada parágrafo.

Algumas cenas são bem gráficas e fiquei impressionada com a coragem da autora em escrever sobre um período de sua vida tão íntimo e doloroso.

“(Pode ser que um texto como este provoque irritação, ou repulsa, ou seja considerado de mau gosto. Ter vivido uma coisa, qualquer que seja, dá o direito imprescritível de escrevê-la. Não existe verdade inferior. E, se eu não relatar essa experiência até o fim,
estarei contribuindo para obscurecer a realidade das mulheres e me acomodando do lado da dominação masculina do mundo.)” p. 35

O livro foi adaptado para o cinema com o nome “L’Événement” (2021), com direção de Audrey Diwan e protagonizado por Anamaria Vartolomei.

site: https://www.instagram.com/p/CaxkdwqvbLO/
Douglas Finger 07/03/2022minha estante
Otima resenha Mariana! Quero muito ler essa autora




Max 04/05/2023

Hipocrisia e sofrimento...
O acontecimento não possui um tema agradável, mas a forma como a autora desnuda sua experiência cruel, é como se olhasse diretamente em nossos olhos e sem nenhum pudor, quase catártico, discorresse sobre uma experiência desgraçadamente exclusiva de uma mulher.
Além de se submeter à perfidia do julgamento dos outros, em meio a toda essa hipocrisia, me vem à mente a certeza de que isso não diz respeito a mim e muito menos a você, mas, sim,
à própria mulher, ela que é senhora e dona de seu próprio corpo.
Os fantasmas?
Esses, que cada um conviva com os seus...
Super recomendo!
Regis 05/05/2023minha estante
Adorei a resenha, Max! ???
Essa é uma autora que sempre vejo você ler e recomendar e que tenho muito vontade de ler também. Vou colocar na lista para incluir nas minhas leituras futuras assim que possível. ??


Max 05/05/2023minha estante
Inclua, sim, Regis, a autora ao falar de si , das suas dores e paixões o faz de uma maneira que gosto muito. Esse livro, pelo tema, é visceral, sem fazer juízo de valor, a leitura é uma lição do que passa pela vida dos humanos...?




Flavio.Vinicius 23/10/2022

Curto e arrebatador, O Acontecimento me amarrou à triste história de um aborto vivido e contado por Annie Ernaux.

A história ocorre quando Ernaux era uma jovem estudante na França de 1960, e se trata de um exercício de auto ficção. Embora seja um relato pessoal, não há lirismo, mas uma prosa crua, sem romantizações, e - o mais importante - Ernaux não cai no individualismo tão comum hoje em dia. Ela entende o que aconteceu com ela como algo social.

É uma reflexão interessante sobre um tema polêmico, e uma realidade que existe mas da qual pouco se fala.
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Aléxia 20/03/2022

O pragmatismo necessário para encerrar a questão
?Se eu não relatar essa experiência até o fim, estarei contribuindo para obscurecer a realidade das mulheres e me acomodando do lado da dominação masculina do mundo?.

No caso, a imersão na mente da autora revisitando seu aborto clandestino - na época, 1963, ainda um crime na França.

É logicamente incômodo. Li com ansiedade até ela encontrar um caminho. Comecei a travar por me colocar no lugar dela e imaginar a solidão daquele momento. Até chegar, então, à crueza da cena que separa a vida da morte. Tão forte em minha imaginação quanto a cena equivalente em Ninfomaníaca, do Lars von Trier.

Tenho certeza de que para muitos, esse livro seria não apenas polêmico, mas indigesto. Certamente seria um gatilho pra muitas mulheres. Mas ela mesma adverte: ?ter vivido uma coisa, qualquer que seja, dá o direito imprescritível de escrevê-la?.

O aborto em condições de insegurança é uma das principais causas de morte materna no Brasil e no mundo: isso é fato. Não falar sobre isso só aumenta o quanto esse assunto é um tabu. No caso do livro, a discussão política é implícita na maior parte do tempo. Ela toma forma apenas mais ao final, mas muito por conta dos julgamentos que ela vem a receber. Pra mim, o livro é um argumento de defesa indiscutível por melhores políticas de saúde pública para mulheres.

Assim como em outros livros, ela intercala o público com o privado em uma objetividade analítica. O quanto ela não moraliza o texto é um pouco surpreendente, até chocante, talvez por morar num país onde essa discussão é tão polarizada. Talvez uma consequência do pragmatismo dos franceses? A comparação é inevitável.

As 74 páginas te mostram a mulher adulta reconstruindo a rotina de preocupação na época, algo já diluído pela neblina da memória. É poderoso. Li numa manhã, e me tirou o fôlego. Gostei muito.
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Carol.Sumie 04/04/2024

Sobre a vida
Este livro já estava na estante há algum tempo. Não sei porque, achei que o acontecimento não fosse um aborto e sim um estupro.
Ao ouvir o episódio "Lugar nenhum" da Rádio Novelo e o Clube do Livro com a Roberta Martinelli sobre a obra da autora, com algumas semanas de intervalo entre eles, resolvi movê-lo para a mesa de cabeceira.
A escrita é capaz de trazer para a pele as sensações, imagens e angústias vividas na juventude da autora, permeada pela reflexão sobre a escrita do acontecimento em si, com um entrelacamento envolvente.

"Legaliza | O corpo é nosso | É pela vida das mulheres"
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underlou 17/10/2022

A memória reimaginada
Um livro de memórias quase sempre se aproxima da prática de expurgo ao recriar passagens da vida de determinada pessoa. Em "O Acontecimento", Annie Ernaux não é diferente. Ainda que uma obra romanceada, ela faz uma incursão para além da necessidade de rememorar o acontecido que o título sugere; e choca ao não omitir detalhes.

Todavia, ao "alcançar a outra vida, a vida passada e perdida", a autora aparentemente reimagina sua própria memória, que é parte com a qual se ocupa sua escrita. A introdução de sua narrativa é um já-desconcerto, mas o desenvolvimento acaba por revelar certo truncamento de ideias. Em paralelo, somos tomados pela dúvida a respeito da veracidade dos detalhes que cercam "o acontecimento" uma vez que a própria autora revela a hesitação diante do fio da memória (e essa é a graça da ficção).

"Escrevendo, sempre surge a questão da evidência: além do diário e da agenda do período, acho que não disponho de nenhuma certeza a respeito dos sentimentos e pensamentos [...]"

É por meio da escrita, portanto, que Ernaux se re-descobre mulher ao reinventar sua própria história, seu corpo, sensações e pensamentos, como ela própria sugere ao final.

"Terminei de pôr em palavras isso que se revela para mim como uma experiência humana total, da vida e da morte, do tempo, da moral e do interdito, da lei, uma experiência vivida de um extremo a outro pelo corpo."

Finalmente, vencida a hesitação inicial, a passagem em que ela descreve o fatídico ato que originou o romance memorialístico é, por ventura, o trecho em que impera a sensação litúrgica de veracidade a partir da riqueza de pormenores escatológicos até. É um retrato duro mas necessário sobre nosso poder de escolha.
antuan_reloaded 17/10/2022minha estante
Como lacra!




Marcia 09/12/2022

Esse foi difícil! Muito difícil e sofrido.
Livro "O acontecimento" de Annie Ernaux. História real, história que ela viveu, sobre um tema complicado e polêmico: Aborto.
Livro que devemos ler Sem julgamento.
Gostei da escritora e a repeito demais por se expor, por nos trazer o relato de quem viveu e quase morreu.
A história se passa na França em 1963 quando Annie era uma universitária de 23 anos.
Ela tinha um namorado e num descuido engravidou.
O aborto era ilegal na França e ela não sabia a quem recorrer. O namorado não se envolveu, se afastou e a deixou sozinha. Ela não encontra suporte e nem orientação e nem apoio de ninguem. Sozinha decide que vai abortar. Vai a um médico que confirma a gravidez e quando ela insinua que não quer seguir em frente com a gravidez ele se faz de desentendido. Desamparada e desesperada ela busca a forma clandestina, caminho que tantas meninas e tantas mulheres buscaram.
A partir daí a jornada dela é muito dolorida, tanto fisicamente como emocionalmente. A cada dia ela enfrenta julgamento das pessoas, o desamparo, medo, dores e quase morte.
Annie só conseguiu colocar no papel todo esse processo traumático 40 anos depois do acontecimento. Com a ajuda das anotações do diário e da sua memória é que ela revive tudo e coloca no papel de forma brilhante.
Eu a admiro pois escreveu/ descreveu tudo que passou depois que já era uma escritora famosa. Muito importante ler esse livro e entender o que realmente acontece e como acontece. Esse livro faz ressaltar em minha mente a necessidade de ter mais empatia, ser mais fraterno, buscar orientação e não julgar!
Independentemente de ser contra ou a favor do aborto, milhares de meninas e mulheres sofreram e sofrem muito. Muitas morreram por, no desespero, procurarem caminhos clandestinos.
Considero esse livro uma leitura necessária.
Valeu!!
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