JuanSoulAxel 24/07/2021
O Mundo Que Espera Por Você Se Você Estiver Sem Um Tostão
Esse é meu segundo contato com o autor, continuo amando a sua escrita e a forma que o próprio desenvolve as suas histórias. Mostra-se nesse livro, a realidade do povo sofredor que luta a cada dia para ter o que comer ou até mesmo, para ter onde dormir diariamente. Foi uma história interessantemente trágica, é triste saber que até atualmente há pessoas nessas mesmas condições que o personagem principal do livro; curiosamente, esse personagem não foi chamado pelo nome nenhuma vez em todo o livro, então, chamarei de George.
A história começa com George em Paris, seu dinheiro já se encontrava escasso e ele estava tentando se manter de alguma forma no local onde morava de aluguel, mesmo algumas vezes tendo que ficar sem ter o que comer por precisar pagar o aluguel. Penhorou todas as suas roupas até ficar, somente, com as roupas do corpo. Dias de fome se passaram e ele foi em busca de um garçom, amigo antigo, que o prometeu ajuda caso dela o precisasse algum dia. Chegando a encontro do amigo, esse, estava numa situação análoga a do nosso protagonista; os dois se juntaram a procurar um trabalho e depois de tempos, conseguiram um trabalho como plongeurs. Caso não saibam, plongeurs são ajudantes de restaurante, basicamente um faz tudo que trabalha por tantas horas por dia que após o trabalho só há tempo de dormir, acordar e voltar novamente para o trabalho.
Enquanto eu lia, me sentia até mal algumas vezes só de ver as situações que os personagens passavam: humilhação, trabalho escravo, exploração, etc. O autor até especificou no livro, que, mesmo não sendo um dos piores trabalhos do mundo, a vida de um plongeur é praticamente escrava e mal remunerada.
George decidiu partir para seu país natal, Inglaterra, que havia para ele um emprego bom onde ele cuidaria de uma pessoa inválida, mas chegando lá, descobriu que as pessoas que iriam o contratar haviam feito uma viagem para o exterior e só voltariam em um mês. Então começou-se o ciclo de sofrimento; dessa vez, ele teve que se submeter a morar na rua tornando-se assim, um mendigo.
Esse livro fez uma ótima crítica a alguns estabelecimentos, em especial a restaurantes e albergues. Albergues são locais onde os mendigos podem passar a noite para dormir, pagando pouquíssimo por isso. Restaurantes que deveriam dar uma boa qualidade de produto, dão somente uma copia imperfeita do que seria essa boa qualidade. E albergues, desprezíveis (na sua maioria) em questão de boa qualidade de comida e higiene. Fez crítica também aos nossos preconceitos direcionados aos mendigos; os mendigos, mesmo estando em situações deploráveis, não necessariamente são pessoas ruins, são somente pessoas que buscam por ter como sobreviver, assim como "trabalhadores de verdade" os mendigos trabalham de sua forma, e mesmo que sua forma de trabalho seja de longe a última opção, é a única que os restou; afinal, quem há de escolher uma vida assim?
Contudo, foi uma ótima crítica a sociedade europeia de algumas décadas atrás que também serviu para refletir sobre minha realidade na contemporaneidade. Sua escrita é impecável, George Orwell. Que autor! Aliás, tem algumas partes do livro que eu não consigo ler sem ter raiva de como ele representa mulheres e trata a homossexualidade; mas que eu tento desconsiderar, devido a esse ser um livro de uma centena atrás. E mesmo assim ele não trata isso de forma desrespeitosa, porém por ser um livro bem antigo, gera um choque cultural grande. No geral, gosto muito do autor e de suas histórias.