Nino 21/08/2021
Maturidade misturando toda a experiência literária produzida
Fui a este livro sem saber de nada e acabei me impressionando. Na verdade, vi alguns erros sim – por mais que seja difícil de admitir que Machado erre, dada sua posição de ícone –, mas que humano não está sujeito a eles? Jogarei as pedras para depois dar os remendos com curativos.
Alguns dos pontos principais da história já foram mostrados em outros escritos, refiro-me a alguns contos. A indecisão de Flora entre os gêmeos (Trio em lá menor); a adaptabilidade política do brasileiro, a qual não faz ele prender-se em nenhum ideal (Um homem célebre); um determinado acontecimento com o Conselheiro Aires (Mariana). Ainda assim, não desmereço a história, haja vista que, no romance, Machado trabalha tudo com uma maior profundidade que apenas com um espaço mais longo de texto é possível se executar.
A narrativa deixa a desejar em prender o leitor. A insistência no ponto dos amores de Pedro e Paulo com Flora é interessante, porém decai um pouco a partir do momento em que os gêmeos não são tão desenvolvidos ao longo da história quanto a moça, transformando isso em algo cansativo. Comparado aos ciclos da trilogia clássica (Bentinho e Capitu; Cubas e Virgília; Sofia e Rubião), Esaú e Jacó não chega a atingir um ápice que Machado demonstrou ter.
Contudo, é necessário salientar que é um caso de amor interessantíssimo: Machado tomou a insistência romântica – aquilo de permanecer querendo o mesmo amor mais e mais – e combinou às intempéries da realidade, à indecisão, ou, para ser breve, à imperfeição humana.
Os personagens apresentados são incríveis. Fizeram-me pensar, inclusive, que esse é um romance de alheios: não uma história sobre protagonistas, mas sobre o que cerca os protagonistas. Aliás, insisto neste ponto: o que cercava os protagonistas realmente foi comentado com avidez, ironia e uma boa dose de crítica séria. O livro aborda momentos históricos do Brasil, tais quais a promulgação da Lei Áurea(1888) e a Proclamação da República(1889), mostrando que o Bruxo do Cosme tinha, sim, opiniões políticas que entregava para a burguesia rir e, em sua genialidade, fazer a elite carioca gargalhar da própria cara e estupidez inumana.
A impressão final que tive – não posso afirmá-la como certeza, considerando que não li Memorial de Aires – é que Machado tinha uma nova trilogia realista em mente, sendo esta obra a introdutória. Entretanto, é apenas uma opinião: vai saber o que aconteceria se o homem vivesse por mais alguns anos, já que, como ele disse no próprio livro:
"Conte mais com o imprevisto. O imprevisto é uma espécie de deus avulso, ao qual é preciso dar algumas ações de graças..."
Caso alguém precise de comentários acerca da edição, ela tem alguns erros de digitação que não incomodam no ponto de compreensão textual, mas realmente deixa a desejar no cuidado que todo bom editor deve ter.
Boa leitura!