vanes.rc 29/03/2024
Direto do inferno
Queime Tudo é um livro insanamente bom, onde ninguém se salva de ter uma moral minimamente questionável e caótica. Durante a leitura, a todo momento você vai se perguntar: "Tá, mas que merda aconteceu?" Então temos o ponto de vista dos dois lados, mostrados em capítulos que seguem uma linha do tempo entre antes, na noite e depois de Elisa Vasconcellos não morrer.
Elisa, o demônio de saltos vermelhos e um batom tão escarlate quanto os seus cabelos, é morta pelo namorado e no dia seguinte está de volta com toda a sua postura poderosa e sorriso brutal. A garota está disposta a queimar tudo, fazer da terra o seu inferno para conseguir a vingança pela qual voltou ao plano meramente mortal.
Não é uma história de lados. Esquece isso de certo ou errado, ou politicamente correto. Elisa ou Silas. Sem essa, mas confesso e entrego que acompanhar a vingança da Elisa teve um gostinho muito, mas muito saboroso e nessa mesma medida a gente percebe como o Silas é patético.
Quando ingressa em um relacionamento conturbado com Silas, com quem antes teve algumas desavenças, Elisa queria conhecer uma São Paulo pelo mundo do rapaz, sem os luxos com o qual está acostumada, mas quem diria que ela seria a próxima a ser enterrada pelos problemas do seu novo-quase-namorado?
A relação entre eles já começou toda e completamente errada e seguiu assim até o fatídico acontecimento. Tenho a impressão de que a mente do Silas traduziu "essa mulher quer acabar com a minha vida" para "eu preciso dessa mulher" lá no início porque (spoiler) ela o acusou de assédio e mesmo assim nasceu o desejo de estar com ela. OK, é inegável a química que rola entre os dois, os momentos que não estavam surtando um com o outro, quase te faz pensar "fofo", mas era coisa de segundos porque logo vinha a atitude mais babaca que poderia ser cometida, de ambas as partes. Tanto que a cada capítulo eu precisava parar, respirar profundamente e tentar, eu, não surtar.
O ciúme que sentem é doentio e tudo para eles se tornava uma competição pessoal, do tipo Elisa não pode ser melhor que Silas e Silas não pode ser melhor que Elisa. Uma coisa controladora, possessiva e muito, muito abusiva. Mesmo se "conhecendo" há tão pouco tempo, o sentimento que surgiu entre eles foi destrutivo e nada saudável. Em determinado momento, eu já pensava que, para o Silas, nunca houve um sentimento romântico pela Elisa, ele gostava da ideia de posse, de ter ela só para ele enquanto era indisponível para todo o resto. Já a garota realmente se apaixonou, a aproximação com o rapaz foi algo novo, uma descoberta de sentimentos e emoções para alguém que sempre esteve sozinha e seria facilmente manipulada por um cara bonito que sabe dizer as palavras certas.
A Andy foi extraordinária na criação dos personagens, na escrita, no desenvolvimento, nas referências. Eu gostei muito de como tudo foi ganhando um sentido ao decorrer dos capítulos até o momento que vem o "BOOM. Queime Tudo te faz passar muita raiva, entra na nossa cabeça de um jeito absurdo e isso não é ruim, pois o livro transmite muito bem a proposta dele.
Enfim, sensacional.