Livro das Mil e Uma Noites, Volume 05

Livro das Mil e Uma Noites, Volume 05 Mamede Mustafa Jarouche




Resenhas - Livro das Mil e uma Noites


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Regis 02/08/2023

Uma experiência mais ou menos
Esse é o último livro das Mil e Uma Noites... comecei o primeiro em grupo,  lemos quatro juntos, no final ninguém mais aguentou a repetição infinita das mesmas histórias e toda a morosidade; então, ficou decidido que o último livro seria lido apenas por quem quisesse e eu optei por concluir essa leitura.

Apesar de toda a repetição, essa foi uma série com algumas boas histórias e outras nem tanto, fico muito feliz por concluí-la e dar por encerrada essa jornada longa, as vezes árdua, engraçada e interessante em alguns momentos.

Tenho que admitir que esse quinto livro não trouxe grandes surpresas e que o melhor de todos foi o segundo. Apesar da história de Aladim, Ali Babá e Simbad terem tornado válida a leitura de As Mil e Uma Noites, essa não foi a melhor experiência literária que tive e com certeza só recomendo para quem tiver muita curiosidade pela obra.
Alex 02/08/2023minha estante
Muita determinação a sua. Um dia termino o 3 volume rsss.


Bruno Oliveira 02/08/2023minha estante
Leu por birra, determinação, teimosia, curiosidade ou tudo isso junto e misturado?? ;)


Regis 02/08/2023minha estante
Um dia, Alex... rsrsrsr


Regis 02/08/2023minha estante
Li por um desejo de conclusão, amigo Bruno. Não quis me deixar vencer pelo desânimo. ?


Max 02/08/2023minha estante
Parabéns, querida Regis!?


Regis 02/08/2023minha estante
Obrigada, Max. ?


Michela Wakami 03/08/2023minha estante
Parabéns pela determinação.????????


Regis 03/08/2023minha estante
Obrigada, Michele! ?


HenryClerval 04/09/2023minha estante
Você foi determinada e não se deixou vencer, parabéns! ??


Regis 04/09/2023minha estante
Valeu, Leandro. ?




Higor 22/10/2022

"1001 LIVROS PARA LER ANTES DE MORRER": LIVRO 12
É bastante curioso como "As mil e uma noites" faz parte, mesmo que indireta ou inconscientemente, da cultura mundial a ponto de que qualquer pessoa saiba falar sobre, mesmo sem sequer ter lido, graças, principalmente, às muitas mídias em que abordam o livro, de maneira fracionada ou pouco fidedigna, sim, mas que ainda assim se tornam eficientes para a popularidade.

O enredo todos sabem: Sherazade (originalmente Šahräzäd), jovem cansada em ver mulheres morrendo diariamente por conta das loucuras do rei Shahriar (originalmente Šähriyär), um rei traído e que, por não confiar mais nas mulheres, decide todo dia casar com uma nova mulher, quando, ao início de um novo dia, ordena que a mate e encontre uma nova mulher para se casar.

Para quebrar o ciclo vicioso, Sherazade decide, ao final da noite de núpcias, contar uma história ao rei, interrompendo-a em seu clímax no exato momento em que o sol raia, fazendo com que o rei tenha curiosidade em terminar a história na noite seguinte, quando ela prossegue até interrompê-la mais uma vez, evitando assim, as mortes em massa.

E é assim que começa o que o tradutor, Mamede Mustafa Jarouche, intitula de história-moldura: uma moldura para que tantas outras histórias possam surgir, e com elas, as mil e uma noites. Mas é importante frisar: as mil e uma noites não significam mil e uma histórias; pelo contrário, algumas histórias permeiam dezenas de noites.

E o mais interessante: há aí a metalinguagem, pois uma história puxa a outra. Temos como exemplo Sherazade contando uma história, e o personagem da história passa a contar outra história, e nesta outra narrativa, o personagem acha interessante contar mais uma história… tudo com a prerrogativa de ganhar mais histórias e menos mortes.

Aliás, é importante mencionar os pontos fundamentais para que a popularidade da história de Sherazade e como uma literatura em um local tão fechado e pouco explorado, embora um dia tido como potência mundial, conseguiu sair da bolha: o tradutor do livro, Antoine Galland é o responsável por trazer o livro do oriente e torná-lo acessível no ocidente, embora com problemas. O mesmo constatou que seu exemplar continha pouco menos de 300 noites, então, para completar as 1001, passou a ouvir e ler as mais diversas histórias, adaptando-as para o livro.

Com isso, há o grande problema do livro: não se sabe exatamente onde o manuscrito é original, onde passa a ter interferência, até porque não se sabe nem quem escreveu o manuscrito original, que pode muito bem ter sido uma equipe de escribas que transcreveu histórias orais, a fim de integrar uma biblioteca particular de um sultão, ou se alguém influente nas letras, com a intenção de compilar uma sucessão de histórias locais.

O fato é que as grandes e mais conhecidas histórias, como Aladim e Ali Babá não constavam no original, tendo sua existência graças a Galland; e foram justamente estas histórias que catapultaram as mil e uma noites para o conhecimento geral.

As centenas de histórias em "As mil e uma noites" podem ser do desagrado de muitos, pois, apesar de enaltecer o islamismo e seus personagens sagrados, abordam também, de maneira muito crua e explícita crimes, barbáries e cenas de sexo, com palavras de baixo calão, o que certamente vai surpreender o leitor que espera, se não algo religioso, ao menos ponderado.

Apesar de um marco na literatura mundial, ao ter um protagonismo feminimo combatendo com tamanha força um antagonismo masculino, certamente encarar "As mil e uma noites" é uma tarefa árdua, com histórias que são mágicas e outras enfadonhas; logo o leitor se cansa de alguns demônios, vizires, sultões, gênios e bruxas, ou até mesmo personagens femininas que são ora desmoralizadas, ora tidas como culpadas pela derrocada de um homem. Sim, um machismo gritante que tanto conhecemos vir do oriente, mesmo em uma narrativa com uma protagonista tão importante quanto Sherazade.

Como bem pontuado por Borges, "As mil e uma noites" são um belo, porém árduo compilado de histórias orientais a se encarar, em que as histórias valem mais que a quantidade de noites. Tal como quando falamos "Já fiz isso mil vezes; já pedi isso mil vezes", o termo não quer necessariamente se referir a exatas 1001 noites, mas a infinitas noites, mais uma. Uma sucessão de histórias sem fim. Uma infinidade de narrativas a se debruçar, tal como o rei fez com Sherazade.

Este livro faz parte do projeto "1001 livros para ler antes de morrer", que está mesclado com "O livro da literatura" para eventuais alterações necessárias. Acompanhe os livros anteriores:

LIVRO 01 - A epopeia de Gilgamesh
LIVRO 02 - Ilíada
LIVRO 03 - Odisseia
LIVRO 04 - Fábulas de Esopo
LIVRO 05 - Teatro Grego
LIVRO 06 - Dao De Jing
LIVRO 07 - Eneida
LIVRO 08 - Quéreas e Calírroe
LIVRO 09 - O asno de ouro
LIVRO 10 - Metamorfoses
LIVRO 11 - Antologia poética clássica chinesa

site: https://projetoseleituras.blogspot.com/
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Peter.Molina 29/12/2022

Incrível
Finalmente cheguei ao final das Mil e uma noites e em grande estilo. Este eu considero um dos melhores volumes, a história do rei Umar é empolgante, cheia de reviravoltas e com muita ação o tempo todo, com uma velha vilã que irrita. O trabalho do tradutor Mamede é ímpar, sem sua dedicação esses textos nunca seriam tão completos. Uma observação, dessa vez ignorei as notas de rodapé, mais de 800, e isso fez com que a leitura fluisse melhor e pude acompanhar a narrativa mais atentamente. Ao final temos algumas fábulas curtas, com animais, que são cheias de ensinamentos.
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Gabalis 21/12/2021

Uma das jóias da literatura de todos os tempos
Levei um mês, mas finalmente terminei de ler As Mil e Uma Noites. Foi uma jornada muito curiosa e divertida. Esta foi a minha segunda tentativa de lê-lo. A primeira foi há cerca de 10 anos mas não consegui passar das primeiras páginas. Acho que não estava à altura do texto. Desta vez foi e tenho muito o que falar, espero que consiga dar uma ideia geral da coisa toda e como foi proveitoso. A própria história de publicação e difusão do texto é uma aventura à parte . Esta vai ser uma postagem longa, vou tentar não bagunçar muito.

O livro é chamado As Mil e Uma Noites, mas por muito tempo ele teve apenas cerca de 300 noites. Essas histórias "centrais" da Noites estavam circulando aparentemente desde o século oitavo, talvez sejam ainda mais antigas que isso. Com o passar do tempo, o título serviu como uma espécie de profecia auto-realizável,pois as pessoas começaram a desejar que o conteúdo batesse com o título, e então escribas de todo o mundo árabe começaram a inserir histórias de outros livros em uma tentativa de completá-lo. Isso continuou por centenas de anos, cada escriba criando sua própria coleção de Noites. Versões de escribas egípcios têm mais histórias sobre reis e cidades egípcias, por exemplo. Os que estavam em Bagdá geralmente tentavam incluir histórias sobre o califado Abássida e assim por diante. No século 18, o livro chamou a atenção de um estudioso chamado Antoine Galland, que o traduziu de um manuscrito sírio, que são as histórias centrais, originais das Noites, e fez sua própria seleção de manuscritos egípcios. Pegou também alguns contos de um contador de histórias maronita que conheceu em Paris chamado Hanna Diab. Curiosamente, duas das histórias mais famosas que conhecemos, Aladim e Ali Babá e os 40 Ladrões, são de Diab e não são encontradas em nenhum manuscrito. Galland publicou sua versão em 12 volumes de 1704 a 1717 e logo se tornou uma espécie de versão “canônica” da obra. Estou escrevendo aqui apenas uma versão curtíssima da história por trás do texto, na verdade, cada manuscrito tem uma longa e complexa história e uma trilha de papel por trás dele.

Agora, quanto as próprias histórias, como você esperaria de um livro que resulta de séculos de compilações, sem um objetivo específico a não ser tentar obter histórias suficientes para chegar a 1001 noites, a coisa toda é uma belíssima barafunda e as histórias oscilam de qualidade, tamanho, tema e gênero. A primeira coisa que me surpreendeu foi quantas histórias não têm nenhum elemento fantástico. Se você é como eu, a primeira coisa que pensa quando pensa sobre as Mil e Uma Noites são os gênios, ogros e lâmpadas mágicas (apenas uma), espadas mágicas (não há nenhuma!), anéis mágicos (uns poucos) e assim por diante. Foi curioso notar que muitas histórias não tem nada disso. Muitos contos são longos ensaios cômicos. Existem muitas histórias que são simplesmente engraçadas. Também há muitas histórias de sabedoria, com provérbios, piadas curtas e assim por diante.Quanto mais fundo você vai no livro, mais claro fica a costura dos escribas, escolhendo essas histórias onde quer que pudessem encontrar e inseri-las no livro. Não esperando o caos que este livro é, mas de alguma forma funciona a seu favor. Depois de passar pelo ramo Sírio, você nunca sabe o que vai encontrar pelo caminho.

Falando em não saber o que você vai encontrar, vou falar um pouco sobre os heróis das Mil e Uma Noites, porque eles foram o maior obstáculo da minha leitura. Esses homens e mulheres não são, em sua maioria, o tipo de pessoa que você gostaria de ter no seu círculo de amizades. Para ser franco, muitos desses heróis são uns completos desgraçados. Eles não são honestos, não são bons, muitas vezes nem são neutros. Muitos deles são ainda piores do que os antigos heróis gregos, como Hércules. Se você já leu algo sobre Hércules, sabe que o chamamos de herói, não por ser uma boa figura. Na verdade, ele é um assassino e estuprador. Ele é um herói porque é um semideus capaz de grandes feitos. Já alguém como o Super-Homem é um herói porque é capaz de grandes feitos, mas também é uma figura cristã. A figura elevada e abnegada de Cristo. O personagem principal na maioria dos contos das Noites são horríveis. Digamos apenas que sua bússola moral os levaria a acabar na prisão hoje em dia.

Esses personagens têm a tendência de serem extremamente cruéis com seus servos. Eles matam, repreendem, mutilam e estupram e não pensam muito no assunto. Para ilustrar isso, recordo o que é um típico príncipe das Noites, acho que seu nome é Sayf, Barzad ou outra coisa (aliás, digo logo que vai ser comum esquecer os nomes dessa gente toda, há centenas de personagens e os nomes são todos complicados e pouco mencionado. São ditos uma vez e no resto da história eles são chamados por profissão ou posto. O príncipe, o comerciante, o porteiro e assim por diante.) De qualquer forma, este personagem, príncipe típico dessas narrativas, fica muito bêbado uma noite, observa uma escrava passando e decide fazer sexo com ela. Ela tenta fugir, mas aquele a domina e quando ela se recusa, ele estupra e acidentalmente a mata. Quando ele vê o sangue jorrar, a sobriedade volta um pouco e percebe que aquela serva é na verdade a concubina favorita do sultão, seu pai. Quando o príncipe percebe isso, foge do palácio e se esconde no deserto, numa caverna, lamentando o destino que Deus lhe deu. Ele arrepende-se, mas não porque matou uma pessoa de forma cruel, não porque ele é um estuprador sem escrúpulos. Não, ele lamenta porque matou uma das favoritas do sultão e agora está fugindo.

Isso não é incomum. Frequentemente, você verá os protagonistas desses contos mostrando o pior que a humanidade tem a oferecer e, muitas vezes, eles conseguem alcançar finais felizes. Acho isso fascinante e é apenas a ponta do iceberg. O comportamento e a moralidade de muitos desses personagens realmente me desafiaram num nível pessoal. Podia sentir minha mente tentando colocá-los em categorias pré-fabricadas de heróis ou qualquer coisa similar, mas eles se recusaram a ser classificados de acordo com esses padrões da fantasia moderna. Não digo que esses personagens sejam anti-heróis ou mesmo vilões. Eles não são as pessoas charmosas e, em última instância, redimíveis que você vê hoje em dia na fantasia. Refletindo sobre isso, apenas li sem mais nenhuma pretensão, e a leitura se tornou ainda mais fascinante. Você nunca sabe o que esses desgraçados e loucos vão fazer. São como adolescentes selvagens e cruéis.Sabe quando você lê Tolkien e clones de Tolkien e já sabe exatamente o que um personagem será? Eles são claros para você porque você e o escritor compartilham os mesmos padrões de moralidade na maioria das vezes. Você sabe como um anti-herói reage, você sabe como um herói reage. Você sabe tudo sobre o vilão antes mesmo dele estar lá.

Você provavelmente conhece o conselho do velho sábio antes que ele o diga. Não nas Noites. O velho pode aconselhar o comerciante a enganar o vizir, o vizir pode aconselhar o sultão a jogar o homem inocente no poço para evitar que sua honra seja manchada. Eles são rudes, cruéis e fascinantes. Um sujeito age de maneira heróica e corajosa num primeiro momento, mas quando percebe que a maré se volta contra ele, se joga no chão e chora como uma criança, batendo em seu peito com grande tristeza. É diferente do que você está acostumado. Consegue imaginar Aragorn arrancando os cabelos e chorando como uma criança na frente dos portões de Mordor? Este é o tipo de coisa que acontece nas Noites. Muitas vezes esses personagens se encontram em grandes aventuras, eventos lendários pelos quais só heróis seriam capazes de suportar, mas aqui o protagonista é só uma pessoa comum que está ali por acidente ou destino. Muitas vezes os personagens principais são vítimas de forças além de seu controle. É um mundo fatalista e por isso os personagens mesmos são extremamente fatalistas.

Frequentemente, você os ouvirá dizer “Não há poderio nem força senão em Deus altíssimo e poderoso”, o que é algo que você diz quando as coisas estão além do seu controle. Os povos das Noites se encontrarão em tais situações o tempo todo. Muitas vezes eles são salvos por acidente, coincidência ou sorte, Os eventos que ocorrem nas Noites realmente expressam toda a força da predeterminação e do fatalismo. Se você já leu Lovecraft, provavelmente tem alguma ideia do que estou falando. Em Lovecraft, a humanidade nada mais é do que uma coisa pequena e sem esperança em um universo muito terrível, antigo e misterioso. Nas noites você tem uma compreensão muito mais profunda disso. Nas noites, o universo tem um plano e esse plano vai contra todas as criaturas. Os homens não tem poder sobre nada. Você é impotente contra o ladrão que o mata. O ladrão é impotente contra o soldado mameluco, que o mata durante o sono. O mameluco é impotente contra o sultão que lhe corta a cabeça. O Sultão é impotente contra o Anjo da Morte, que vem e leva todos os seus herdeiros masculinos e a si mesmo. Eles são todos arrastados pelas mãos do destino e não há nada que eles possam fazer a não ser chorar e chorar muito. Existe uma quantidade extraordinária de lágrimas neste livro. Atrevo-me a dizer que é um horror muito mais eficaz do que o de Lovecraft, que parece ingênuo por comparação. Lovecraft é uma coisa imediata, você olha para a abominação e enlouquece. Nas noites, a abominação devora você lentamente e faz você assistir enquanto ela apodrece lentamente tudo o que você ama. Não é de se admirar que os personagens continuem se jogando à mercê de Deus o tempo todo.

Enfim, o medo é uma presença constante. Os momentos de medo superam em muito os momentos de coragem, compreensivelmente. Este é outro aspecto muito interessante de várias dessas histórias. O mundo está além do seu controle, o mundo e os homens e demônios são cruéis, é muito raro que as figuras povoando as Noites andem sem medo de alguma coisa. Não há defesa contra o destino. Várias histórias você vê homens tentando evitar um acontecimento apenas para ver como seus esforços são insignificantes. É em vão. Um rei é informado por geomantes que sua filha será sua perdição. Ele constrói um palácio para ela bem longe, no meio do deserto. O destino acontece e ela realmente é sua perdição. Outro rei é informado pelos profetas que seu filho vai morrer ainda jovem pelas mãos de um homem de tal e tal reino. Tentando evitar esse fado, ele constrói um cofre subterrâneo no meio de uma ilha abandonada e esquecida. Mesmo assim, o filho acaba morrendo pelas mãos daquele tal homem de tal reino. E o fulano nem queria matá-lo, foi apenas um acidente. Acidente escrito há muito tempo como destino. O destino e a sorte favorecem os bravos em muitas histórias no ocidente. Porém nas noites não é incomum que o destino acabe por não favorecer pessoa alguma. Mesmo quando a história acaba com um final feliz, o narrador não tarda em nos avisar sobre a morte. ''E assim viveram todos, usufruindo da hospitalidade do rei, até que lhes adveio o destruidor dos prazeres e a morte os atingiu a todos.''

O mundo é um lugar mágico e seus mistérios o colocam além do seu controle. Você cospe uma semente, ela atinge e mata o filho de um poderoso gênio, que quer vingança. Três velhos que passam encantam o gênio com contos estranhos e ele acaba por lhe perdoar. É quase uma lógica de conto de fadas, mas não exatamente. Acontece que sua morte ou salvação depende do destino e a você só resta torcer para que esse ainda não seja o seu dia. Nem mesmo os próprios demônios estão além do fado. Muitas vezes eles são vítimas dessas forças da mesma maneira que são os humanos.

Para cada aspecto que mencionei aqui, haverá histórias que vão contra isso. Existem personagens heróicos que resolvem situações, existem homens e mulheres que se apegam à sua coragem e prevalecem contra todas as coisas, etc. Como eu disse, são muitas histórias. Aliás devo mencionar rapidamente uma ou duas coisas sobre isso. A quantidade de histórias e o quão mal organizadas elas são. Você provavelmente sabe que as Noites estão todas dentro de uma narrativa moldura. Esse é o personagem que todo mundo conhece. Sheherazade, a filha do sábio vizir, que todas as noites conta uma história espantosa ao marido, o rei Shahryar. Até aí tudo bem, mas ela não é a única contando as histórias. Frequentemente, ela está contando a história de um comerciante que está contando uma história para outra pessoa. Essa linha de narrador narrando o que outro narrador narra facilmente embaraça.Às vezes, Scheherazade está contando a história de um comerciante contando a história de um rei contando a história de um carregador, contando uma história sobre suas aventuras no mar. Você vai se perder em algum momento e é uma sensação estranha afundar em todos aqueles contadores de histórias e seus contos. É um alívio quase físico quando você consegue chegar do outro lado.

O processo de atravessar as Mil e Uma Noites é longo e labiríntico. Um dos motivos por que estou escrevendo essa postagem é porque no final de julho desse ano saiu o último volume da tradução direta do árabe pelo estudioso Mamede Mustafá Jarouche. Embora ele tenha ganhado vários prêmios por conta dos seus esforços, eu acredito que não tenha sido o suficiente. Na minha opinião esse é um dos maiores eventos literários da história moderna da língua portuguesa e poder ler essa tradução, que aliás tem várias histórias inéditas que nunca foram traduzidas em nenhuma outra língua, é uma das jóias que recebem aqueles que sabem ler português. Os cinco volumes somados têm cerca de 2500 páginas de histórias.

Às vezes você ficará entediado, às vezes vai perceber que está lendo uma história que tem os mesmos tipos de uma história que você já leu 800 páginas atrás, de qualquer modo, são excelentes e interessantes 2500 páginas. Existe uma despretensão nessas histórias que as tornam extremamente cativantes e os seres fantásticos, as tramóias, as lágrimas e ofadário que empurra o mundo faz com que esses volumes sejam uma espécie de mina de jóias da novelística. Você nunca sabe o que vai te chamar a atenção ou que tipo de evento vai testemunhar. Se você estiver cogitando em ler alguma fantasia clone do Tolkien de trocentas páginas, tente As Mil e Uma Noites no lugar. Acho que vale a pena.
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vicniro 09/07/2023

Muito bom apesar do começo arrastado
O trabalho do tradutor, assim como nos outros volumes, é incrível. O processo é todo detalhado e o livro é rico em notas. Não tenho o que falar de crítica quanto ao trabalho da editora azul.

Em relação à história, eu não consigo comparar com os outros volumes direito porque faz tempo que eu os li, mas achei bem diferente por seguir a saga de Umar, apesar de algumas histórias serem contadas ao longo dela, e não aquele esquema de história dentro de histórias sem uma história principal que ocupe o livro todo (a não ser a Sahrazad contando ao rei como acontece nos demais volumes). Eu achei muito bom essas histórias ao longo da saga porque deu uma quebrada, já que, algumas vezes, ficava um pouco cansativo.

Uma parte que quase me fez desistir da leitura foi em que as jovens começam a fazer exposições porque foi muito cansativa, longa e chata, mas acabei gostando bastante da história geral. No final, tem algumas fábulas bem gostosas de ler.

Na minha opinião, se gostou dos outros volumes, vale bastante a pena a leitura dele, mas tem que ir com paciência em algumas partes.

P.S. só estou dando 3.5 por conta dessas partes que foram bem chatas, porque a história como um todo e a edição são excelentes!
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