Karlos.Pinho 29/12/2021
Como doem os olhos na primeira vez que enxergamos a luz... #3
Atenção aos spoilers!
Chegamos ao último volume dessa história. E confesso que tive vontade de mandar um e-mail para a autora, Anna Katmore, perguntando pra ela se seu desejo era moer meu coração e bater com vodka e leite condensado para fazer um drink. Quanta raiva de Rafael, quanto ódio de seu receio, de suas travas emocionais, de seu jeito contido e distante, quase ártico.
Mas não sou exatamente assim? Não somos todos assim? Ou pelo menos, a maior parte de nós, não somos os mesmos que perdemos as oportunidades mais lindas da vida em nome do medo de sermos felizes?
No título dessa resenha, que dividi em três partes, assim como a série de livros, intitulei de "Como doem os olhos na primeira vez que enxergamos a luz..." Pois não há dor maior do que quando todas as suas jaulas são rompidas e você se quebra, você deixa a luz entrar e se vê nu, vazio ou mesmo frágil.
Rafael é um cara de sorte, pois encontrou alguém disposto a amá-lo incondicionalmente. E amar alguém sem reservas ou sem condições é se não estar pronto para amá-lo(a) apesar de seus defeitos. Ou muito mais por eles.
Sua sorte em encontrar Sebastian, em ser o unicórnio da pequena sobrinha do belo homem tatuado, de viver a dor do medo da traição e se permitir destruir cada pedaço dos muros internos, ao mesmo tempo que constroi pontes para o coração do outro foi a história que me arrancou lágrimas muito sinceras. Lágrimas por perceber que apesar da ficção nos fazer experimentar momentos e histórias que gostaríamos de experimentar, também nos mostram desafios e receios particulares. Que sem dúvidas afetam nosso mundo real, e portanto, precisam ser trabalhados.
Chegamos ao momento da morte do antigo Rafael, de todo o seu medo e armadura que criou em seu redor para defendê-lo da felicidade. É um momento traumático para ele? Sim, mas é o necessário para que ele perceba que não está só. Que há uma pessoa que o ama como nenhuma outra. E essa história de amor, que sai da geleira mais fria e perdida no deserto de um coração solitário, que nos leva ao mundo do calor, do afeto e da crença em relações maduras e perfeitas.
Como eu sempre digo. Não existem pessoas perfeitas. Mas se seu nível de perfeição se ajusta a seres existentes, o perfeito pode se encontrar em meio a defeitos toleráveis.
Não me arrependi de ter comido esses livros em três dias. E apesar da raiva que passei de Rafael em alguns momentos, eu entendo sua jornada. Espero que você, que me lê considere experimentar uma tarde na sala de jogos do Rafael, uma viagem para o Sul da Inglaterra debaixo de uma árvore no verão e uma visita à Islândia para ser apresentado ao seu singelo final feliz.