paloma 03/12/2021
uma grata surpresa
Luisa é uma jovem formada em cinema que consegue uma oportunidade como roteirista em uma série sobre uma tradicional família do Rio Grande do Sul e para aceitá-la precisa mudar de São Paulo para Santa Maria, uma pequena cidade do interior gaúcho. Essa mudança acentua seu transtorno de ansiedade, uma vez que a mudança de “ares” e rotina não é algo com o que uma pessoa “controladora” lida muito bem. Dessa forma, Luisa precisa lidar com seus medos e anseios para evoluir não somente no campo profissional, como no pessoal. Para tanto, contará com a ajuda de Carol, sua prima-irmã e Júlia, a jovem Montenegro que irá povoar seus pensamentos e provocar sensações até então desconhecidas.
Se eu pudesse resumir esse livro em algumas palavras seria: Cuidado, Sensibilidade, Delicadeza, Dedicação e Imersão.
Antes de falar propriamente do livro, sua história, composição, gostaria de parabenizar Mariana Mello (autora da obra). Lendo a sinopse, confesso, me interessei pelo livro, mas nem tanto, todavia, logo abaixo a Mariana deixa uma série de “avisos” acerca dos gatilhos que a história pode ocasionar, sobre possíveis erros de ortografia (não me recordo de nenhum, aliás) e pede reviews sinceras (APLAUDINDO DAQUI), não sei se por coragem ou por inocência, pois imagino que às vezes algumas críticas podem não ser agradáveis. Ademais, em uma atitude muito bacana a autora pede para aqueles que não possuem dinheiro para adquirir o livro e/ou não possuam kindle unlimited, entrem em contato com ela por email. Atitude muito bacana que demonstra verdadeira disposição em democratizar o acesso a leituras com a temática LGBTQIA+.
Ainda falando sobre a autora, mas agora em relação à construção da história, é possível observar um verdadeiro cuidado em compor uma narrativa que faça sentido e que seja o mais verossímil possível. Essa dedicação é percebida nos detalhes, seja na ambientação dos locais onde as personagens transitam, seja nas informações detalhistas e extremamente imersivas sobre o processo de criação de uma série, e até mesmo quando o leitor, que assim como eu, nunca sofreu uma crise de ansiedade, pode compreender de forma ampla e imersiva os sentimentos e emoções de Luísa durante esses momentos. Nesse sentido, fica evidente o quanto a narrativa é sensível, delicada e poética. Diferente de tudo que já li no lado colorido da força, a história tem uma mistura interessante de “nerdices”, com história, com poesia, entre outras coisas improváveis, que deu muito certo.
A construção da trama se dá de forma tão cuidadosa e coerente que é possível visualizar com clareza as cenas da história no decorrer da leitura. As personagens são bem trabalhadas, há uma preocupação com dosar os sentimentos, mesmo aqueles mais conflitantes, fazendo com que as coisas se encaixem gradativamente, sem atropelos e sem soar “irreal”. À medida que a história progride, à medida que as personagens se envolvem, o leitor também se enlaça, “entranha-se” na trama. Mariana com certeza captura o leitor já no primeiro capítulo, mas de fato ganha seu “envolvimento” conforme a história se desenvolve, na medida que as coisas acontecem.
A obra é toda encaixadinha, bem modulada, bem escrita, fluída e extremamente bem dosada. Há mistério, há drama, há diversão regada a um humor bem característico e singular, há paixão, envolvimento, há cenas quentes, há cumplicidade, amizade e todos os elementos característicos de uma boa história.
No mais gostaria apenas de fazer uma pequena observação acerca da trama, como disse, tudo é bem construído e “encaixado”, todavia, a meu ver, ficou um pequeno incômodo quando a autora deixou de explorar com maior profundidade a personagem Carol, que esteve sempre tão disponível para Luísa que acabou deixando seus dilemas de lado. Fiquei curiosa para saber o que de fato aconteceu com Vitória e gostaria de ter visto um pouco mais sobre Carol de forma individual. Esse sentimento também é presente quando penso em Beatriz, que é uma personagem interessante, mas que foi pouco explorada. Até mesmo Júlia, que foi conhecida apenas pela ótica de Luísa. Todavia, esse cenário se dá pelo tipo de narrativa escolhido que é em primeira pessoa, sendo assim, privilegia a visão de Luisa em detrimento de outras personagens. Nesse sentido, acho que seria surreal se houvesse uma mescla sobre as percepções individuais das personagens acima citadas.
Por fim, resta o sentimento de felicidade por ter encontrado esse livro e ter vivido essa experiência literária! Espero em breve ter contato com outras obras da autora! Deixo aqui minha não tão breve recomendação.