Taiane.Anhanha 06/04/2022
Meio enrolado no começo, mas depois...só cresce a tensão
Quase desistir de ler o livro pelas resenhas que li por aqui e pela nota que ele tinha. Se você está tentado a isso, aviso: leia e tire suas próprias conclusões. Depois desse, nunca mais vou me guiar por opinião alheia, juro.
Mas acho que tem um motivo específico também, esse livro não vai tocar a todas as pessoas de igual forma. Pessoas negras se sentirão representadas, vistas, ouvidas e se reconhecerão na protagonista, no plot do livro, nos dramas vividos e situações cotidianas vivenciados pelos negros e negras tanto nos EUA quanto o Brasil.
Nella é uma jovem negra que trabalha em uma editora, é assistente, mas se esforça todo dia para alcançar um cargo mais elevado. Ela também é a única negra que trabalha por ali e isso é algo que a coloca em diversas situações complicadas afinal a "negra única" é vista com um totem para a empresa dizer ser "diversa". Nella namora um cara branco antirracista, mas ela pensa o quanto isso a torna "palmiteira" frente aos outros. E também tem uma melhor amiga, que assim como ela, é extremamente consciente e militante contra o racismo, assim, elas trocam informações, se indignam e comentam sobre situações racistas.
Em determinado momento chega outra garota negra para trabalhar na editora. Hazel é estilosa, comunicativa e logo, logo conquista o carinho de todos ali (mais do que Nella). As duas se tornam amigas, também falam sobre racismo, mas algo parece estranho nessa relação e logo, logo a gente descobre o que.
O livro tem outras narradoras que vão ajudando a construir a tensão e o mistério, mas isso, por vezes, acaba ficando confuso porque as narrações além de pessoas diferentes, tem tempos diferentes. Fiquei meio perdida, tendo que voltar algumas vezes.
O começo, por ter todos esses mistérios, pode ser meio maçante e sem graça, acho que a autora podia ter calibrado um pouquinho mais nessa parte. Porém, achei a construção das personagens muito bem feita, a gente consegue entender cada uma delas.
Por fim, o final fica em aberto, nossa imaginação tem que correr solta para encaixarmos algumas peças, quem não gosta disso, melhor nem ler hhahhaha mas assim, a forma que a autora trata do racismo institucional, estereótipos de pessoas negras e outros temas sensíveis e atuais é de uma maestria sem tamanho! Indico simmm, mil vezes, embora entenda as controvérsias que ele tenha os prós são bem melhores, pode acreditar.
AGORA VOU COMENTAR COM SPOILER AQUI, AVISOOOO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
James Baldwin diz que "Ser negro e relativamente consciente é estar quase sempre com raiva." E estar quase sempre com raiva não é legal, não é justo na verdade. Questionar sempre, ser a militante chata do rolê com maioria branca, apontar o racismo constante...isso pode ser desagradável e "pegar mau" ou até mesmo nos prejudicar. Muitos até aceitam negros, mas obedecendo, baixando as orelhas, não questionando ou os chamando de racista.
E aí que tá o plot do livro...uma pomada para cabelo que acaba tornando pessoas negras menos conscientes e "militantes", assim elas conseguem sucesso e sobem de cargos mais facilmente, pois são mais "amorosas" e tranquilas, não se estressando e não ficando com raiva. Achei legal, inovador, talvez tenha se arrastado demais para explicar sobre e quando explicou foi tudo muito rápido. Mas deu para entender a ideia da autora e nossa, achei genial. Ainda mais porque Nella sucumbiu a isso, ela aceitou a pomada e se rendeu a esse sistema, para ela seria mais fácil, era mais cômodo. Será que não é? Quem vai dizer? Depende de ambição?
Mas pensei que nesse final o livro deveria problematizar o porque NÃO usar o pomada, tudo que isso nos leva, a uma "escravidão moderna" de nossas mentes que só obedecem para uma vitória pessoal. Enfim, muitos questionamentos e mais ainda porque não sabemos o que acontece com o namorado, com a amiga, família, etc. Final em aberto mesmo...podemos até pensar: "será que ela realmente usou a pomada ou está por dentro da Resistência?"