Sparr 29/07/2022
Para além de um romance, um enaltecimento à mulher do Pampa.
A escrita de Letícia Wierzchowski é extremamente rica e de uma poética que aquece o coração sem pedir passagem. O retrato de uma época marcante para o cenário nacional que, para além de demonstrar o descontentamento da burguesia com o Brasil Império, ainda retrata o desponte das lutas abolicionistas por todo o país (finalmente, não é mesmo?!). Sobre isso, preciso dizer, não há poética que cubra o embrulho e o asco que sinto ao ler sobre os tratamentos dos próprios brasileiros para com os negros à época, isso me faz questionar que espécie de ego frágil é esse nosso, sim, nosso porque sou branca e reconheço a posição que tenho ante os privilégios sociais, ainda hoje, que não são dados, aqui, neste solo às pessoas negras. Não há o que apague essa parte da história. Não há o que apague o que ainda hoje existe. Racismo não é findo. Ainda há luta.
Sobre a trama, a ausência da linearidade das notas dos cadernos de Manuela enriquecem o contexto e o momento em que as coisas acontecem. As chegadas, as partidas, a vida e a morte. Letícia faz um retrato vívido de batalhas, mortes, baixas, de uma terra manchada pela luta. Tanto, que os homens são descritos como "crescidos para as pelejas".
Ainda sobre Manuela, é de uma tristeza e poesia o tamanho do amor que essa senhora detinha por Giuseppe Garibaldi, que me fez pensar muito na peculiar e real figura histórica. Jamais saberemos as juras trocadas que a tocaram tão fundo a ponto de não mais conseguir se permitir outros tipos de felicidade, passou pela vida como Espectadora. Triste, ao mesmo tempo, belo.
Nem preciso dizer como a narrativa torna Giuseppe Garibaldi uma figura extraordinária. Daqueles seres que o mito sobrepõe o homem que os veste.
É um livro onde a mulher tem destaque. Feito por mulher, que toca aos sentimentos e as visões das mulheres e destaca que, na paz ou na guerra, a força de equilíbrio da mãe Terra, é sim a sua filha, a mulher.