O Alcazar

O Alcazar Simon Lamouret




Resenhas - O Alcazar


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Douglas.Bonin 29/03/2024

Um livro sobre construção, mas não de um edifício
Acredito que tanto eu quanto você pouco sabemos sobre a construção civil indiana, certo? Mas sabemos alguma coisa sobre os microcosmos que as relações de trabalho acabam gerando nos cantos das cidades.

O Alcazar, de Simon Lamouret - quadrinista francês que passou cinco anos morando na India - é uma narrativa muito interessante. Nela, somos apresentados a um prédio que cresce enquanto desenvolve a história de seus trabalhadores.

A forma como esses sujeitos se relacionam é estruturada de acordo com o papel que cumprem enquanto trabalhadores na obra. Ao mesmo tempo reside uma característica que acompanha as relações trabalhistas de modo geral na contemporaneidade: a precariedade na exploração da mão de obra barata.

Ao fim deste Romance Gráfico, lembrei de um caso relatado no livro "Interseccionalidade", de Patricia Hill Collins, sobre o desabamento do prédio Rana Plaza, onde mais de 1.138 pessoas perderam suas vidas em abril de 2013. A tragédia virou manchete por conta da importância que o prédio tinha na produção das principais marcas de vestuário do mundo. "Acidente" seria uma palavra negligente para tratar sobre a temática, talvez "negligencia" seja a mais adequada para se referir ao ato.

As cidades crescem, verticaliza-se o metro quadrado, excluem-se os indesejados e apaga-se da história a presença de seus verdadeiros construtores.

Os espaços de trabalho são constituídos sobre a lógica da hierarquização das relações entre os funcionários. Logo, apesar da precariedade, esses empregados são submetidos a uma espécie de jogo no qual competem por espaço.

A ideologia da meritocracia não fecha na equação diante da inexistência de direitos mínimos para todos.

LAMOURET, Simon. O Alcazar. Tradução: Renata Silveira. São Paulo: Nemo, 2021.
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Felipe HQs e Mais 07/11/2023

Uma obra sobre uma obra
Simon Lamouret ilustrou rica e belamente a HQ 'O Alcazar' usando dois tons de cores em evidência: o azul e o laranja. A edição, mais um capricho da editora Nemo, traz essas duas cores na capa e nas guardas do gibi.

Passada na Índia, acompanhando o nascimento e construção de um prédio de luxo residencial, 'O Alcazar' lança cores não só sobre o azul e o laranja daquele país, mas de uma pluralidade de etnias, crenças, origens e castas presentes na construção.

Um mestre de obras experiente, um engenheiro inocente, azulejistas crentes e operários gente como a gente: tem de tudo no canteiro de obras do prédio, que em seus parcos metros quadrados reflete a pluralidade da sociedade da Índia.

Os desenhos de Lamouret conseguem traduzir essas diferenças com uma leveza no seu traço ímpar. O movimento dos operários no espaço do canteiro de obras é de fazer os olhos do leitor passear pelas páginas. E a passagem de tempo, tendo sempre uma gigantesca árvore como referência, é uma solução gráfica bastante criativa.

Francês, Lamouret escreveu e desenhou 'O Alcazar' durante sua estadia na Índia, de 2013 a 2018. Como estrangeiro, a cultura e sociedade de um país diferente do seu certamente despertou sua criatividade para produzir essa HQ.

Imagino qual produção o francês teria se ficasse aqui conosco, no Brasil, durante um tempinho. Depois de ler 'O Alcazar', com toda a pluralidade daqui, tenho certeza que teríamos uma outra HQ excelente! Mas... quais cores ele escolheria pra gente?

E você, já leu esse gibi? Conta aí! E me siga lá no Instagram: @hqsemais
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Trindade 18/04/2023

Relações sócias nas construções civis da Índia
É um quadrinho bom de ler e rápido também. Ele passa por diversas questões sociais como a exploração do outro, o "jeitinho indiano", o casamento arranjado, a busca pela riqueza e outro temas.

O que mais gostei foram as páginas duplas que dividem a obra e mostram a construção evoluindo. Foi uma sacada muito boa.
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Guilherme Duarte 26/02/2023

Uma bela, mas cansativa construção
Embora o cenário da narrativa seja bem limitado - um canteiro de obra - a narrativa pode ser entendida como um metonímia de toda situação socioeconômica da Índia. Um país de muita desigualdade nos mais diversos âmbitos é representado por personagens únicos que interagem entre si com o objetivo de levantar um prédio.

Embora seja chocante a realidade dessas pessoas e interessante acompanhar a vida delas em um ambiente inusitado para uma história, não é fácil você criar uma ligação com elas. Acabamos por não ter a mesma paciência que os personagens ao construir o prédio para acompanhar toda a construção da história.

As cores são muito bonitas e bem escolhidas para a ocasião. Os desenhos não são muito elaborados, mas satisfazem a simplicidade temática.
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brunaentrelivros 27/11/2022

O Alcázar
Eu particularmente amo a cultura indiana no que diz respeito a música, dança e cinema, quando vi que "O Alcazar" se passava na Índia fiquei interessada de cara. Acostumada a ver muito da cultura indiana pelas lentes pouco realistas de Bollywood, a premissa de ser apresentada a um lado da Índia menos conhecido me interessou ainda mais.

O livro se passa num canteiro de obras num bairro nobre da capital e nos apresenta a realidade de Mehboob, Salma e Rafik, personagens principais da narrativa, e nos apresenta a pequenos universos ao narrar a história dos outros personagens da obra.

Eu fiquei completamente apaixonada nas ilustrações, na paleta de cores e nas paisagens de página cheia. O contraste com a crueza da história deixou tudo ainda mais interessante.

O Alcazar nos mostra uma realidade dura de intolerância religiosa, exploração, falta de segurança no trabalho, vícios e a marginalização das classes menos abastadas. Todo o drama passado pelos personagens principais nos deixa frente a frente com a realidade de uma Índia contemporânea e conflituosa, com diversos choques de castas, línguas e religiões.

Recomendo demais!
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raíssa. 13/11/2022

Muito encantada pela arte e pelo trabalho gráfico desse quadrinho, absolutamente sensacional! Quanto a história, interessante adentrar culturas diferentes e identificar que, apesar disso, o esquema de desigualdade social é o mesmo em todo lugar.
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Odivany 13/07/2022

Alcazar - vale a pena?
Simon Lamouret traça nesta graphic novel um retrato da rica e diversa cultura hindu tendo como pano de fundo a construção de um edifício. O Alcazar parece ser o cenário perfeito para retratar temas importantes como a deterioração das condições de trabalho, intolerância religiosa e social, impossibilidade de ascensão social e as dificuldades do dia a dia de trabalhadores do mundo real.
Em alguns momentos achei que Lamouret retrata bem os relacionamentos muitas vezes disfuncionais entre família, amigos e colegas de trabalho, entretanto em outros momentos sinto falta de uma visão mais profunda dos conflitos sociais.
Recomendo a leitura.
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_Jorgeft 18/03/2022

O ciclo do cotidiano na Índia!
Os dias de hoje, no canteiro de obras de um edifício em construção. Ali, o jovem engenheiro inexperiente; Trinna, um capataz intransigente; Rafik, Mehboob e Salma, operários provincianos que sonham com um futuro melhor… além de Ganesh e seu bando de azulejistas rajastanis, hindus conservadores que engrossam as fileiras desse canteiro supervisionado por um jovem e rico construtor. O Alcazar é o recorde de um mundo que pouco conhecemos aqui no Ocidente. A Índia contemporânea, se compõe com diferentes línguas, religiões, castas, chefes e empregados, tudo rodeado pela precariedade sempre mantida por um ar tragicômico.

O Alcazar foi para mim uma leitura BOA, nada excepcional ao meu ver, ela entrega muito mais uma proposta de como é o ambiente sociocultural da Índia do que uma história com início, meio e fim. A abordagem do autor é mais voltada para o documental do que para o narrativo, isso acaba comprometendo a fluidez das páginas e o quadrinho fica um pouco truncado no início. As narrativas paralelas são muito boas por causa dos personagens abordados, que são pessoas reais e possuem diferenças reais, a construção do prédio serve como uma boa metáfora para o ciclo infindável de início e fim onde quem está na parte mais baixa não consegue se livrar e o que está mais em cima só cabe a satisfação da conclusão e reinicio, afinal para os de cima isso significa dinheiro!

A arte é FENOMENAL! O traço de Lamouret possui uma distinção única e os detalhes que ele coloca nas páginas são fenomenais. Uma barata aqui, um rato ali, um cinto lá… Nesse ponto sua narrativa gráfica consegue entregar muito juntamente com as cores que dão para obra uma ambientação ímpar e bastante bela, o que traz um lado que não costuma ser muito mostrado em obras sobre a Índia o que vemos é sempre algo sujo feio e nojento, mas aqui temos esses pontos ilustrados de forma bela e muito harmoniosa.

O Alcazar é monótono, comum, simples, e muito bem feito! (Mas não é nada genial!)

Autores: Simon Lamouret
Tradução: Renata Silveira
Editora: Nemo

site: https://www.instagram.com/mais_capitulo/
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garotadovlog 24/02/2022

O Alcazar (Simon Lamouret) | por Carol Sant
💬 Nesta HQ, somos apresentados ao mundo da construção mas, acima de tudo, as pessoas que trabalham nessas construções de prédios imensos que vemos todos os dias por aí.
Temos uma família que tem sua luta diária pela sobrevivência em um mundo onde os famigerados "peões de obra" não são bem remunerados e nem bem reconhecidos.

🗣️ O QUE VOCÊ ACHOU, CAH?

É sem sombra de dúvida uma HQ incrível, a arte está belíssima e as cores se constratam entre tons mais vivos e outros tons mais terrossos. Além da arte impecável, temos uma história que nos faz ver o outro lado da construção: o lado dos peões de obra, o lado das injustiças e o lado do chefe (que geralmente não liga para os funcionários, apenas para os lucros).
Confesso que fiquei entristecida em algumas partes da história por perceber tantas injustiças acontecendo e ver os personagens incapazes de fazerem algo por não conseguirem mudar determinadas situações.
Foi uma leitura diferente das que estou acostumada a fazer, mas foi uma experiência incrível, com um tema que não vejo sendo abordado em outras obras com frequência, então, já ganhou uma parte especial no meu coração e na minha estante.

Beijos e até a próxima! 😘✨

site: https://www.instagram.com/p/CVtK2mwrAr6/
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Henry 19/02/2022

Histórias enterradas num canteiro de obra
Alcazar retrata a vida dos trabalhadores dentro da construção civil, seja os pedreiros, empreiteiros, fiscais, arquitetos, até mesmo os donos das obras. Passando-se na Índia, essa HQ aborda as dificuldades desse trabalho e teve uma diferença de cotidiano entre as classes rica e pobre.

Mesmo se passando na Índia e buscando apresentar referências culturais do povo indiano, a obra fala muito sobre o mundo num geral, sobre a soberba, ganância, falta de personalidade e outros aspectos sociais.

Tudo parece as mil maravilhas, mas apesar de ter achado a ideia interessante, não a achei tão bem executada. A narrativa é ok, mas não consegui me apegar a nenhum personagem e os desenhos não facilitaram essa conexão.

Vale a leitura? Acho até que valha por mostrar uma visão que nós podemos não ter, mas recomendo não mergulhar com tantas expectativas.
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Lucas Gama 07/01/2022

O Alcazar é uma obra belíssima.
Temos os bastidores da construção de um prédio residencial num bairro nobre da Índia. Simon Lamouret faz um trabalho de encher os olhos usando os tons de azul e laranja, cores complementares do círculo cromático, deixando tudo muito harmonioso, apesar da loucura do trânsito da Índia e de todos os perrenges de uma construção. Tem um pouco de 'jeitinho brasileiro' em alguns personagens, conseguimos ver paralelos e contrastes grandes com a nossa cultura. A história é simples, mas te garanto que a narrativa gráfica e a beleza de como essa obra é apresentada vale muito a pena.

A edição da Nemo tá bonitona, dá orgulho de ter na estante.
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Daniel 04/01/2022

O Alcazar
O Alcazar é uma história em quadrinhos que narra e retrata a construção de um edifício de luxo em uma metrópole na Índia. É muito interessante notar as diferenças culturais, religiosas, étnicas e socias presentes na história.
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Pedro 28/12/2021

Ótima HQ, mas perde um pouco da força no final
Conforme já disseram aqui, a HQ conta a história da construção de um prédio na Índia e usa esse "pretexto" para discutir e expor alguns problemas políticos/econômicos/sociais que o país enfrenta atualmente. Gostei muito da leitura (personagens cativantes, acontecimentos interessantes, as ilustrações são belíssimas etc), mas achei o final corrido demais. A impressão que tive foi que o autor precisava terminar logo a história, seja por um limite de páginas ou por precisar entregar logo o original à editora. Se a história tivesse umas 20 ou 30 páginas a mais, daria para fechar a maioria dos arcos de uma maneira muito mais satisfatória. Ainda assim, foi uma ótima leitura e eu a recomendo a todos os interessados!

site: Meu instagram: @pedromartinsescreve
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Paulo 01/12/2021

Histórias de vida costumam ter o dom de nos impactar. Ainda mais aquelas que falam do cotidiano, do comum, daquilo que não é épico no geral, mas sim para aqueles que as vivem. Simon Lamouret nos traz uma narrativa cuja proposta possui uma simplicidade única, mas trata de tantos temas diferentes que poderia fazer nossa cabeça fritar. Essas pessoas que são os heróis desconhecidos de cada dia possuem toda uma riqueza de histórias, com os seus dramas pessoas, seus dilemas, seus obstáculos, dificuldades. Representam cada um de nós em sua essência, seja a que classe social pertençamos. Aliado a uma arte de tirar o fôlego, é uma das melhores HQs que li esse ano e está ficando cada vez mais e mais difícil montar uma lista com só 5 ou 10 títulos nela.

Essa é uma história que se passa em um canteiro de construção. Vários personagens passam por ela, mas começamos nossa jornada com Mehboob e sua esposa, além de seu primo Rafik que conseguem um trabalho no canteiro e o supervisor do local, Trinna, permite que eles façam um puxadinho temporário para permanecerem lá. O que veremos a seguir é a construção do edifício Alcazar onde várias vidas passam todos os dias desde os novos funcionários, além dos rajastanis contratados que curtem uma festa, o engenheiro de obras que sonha fazer um mestrado em Dubai, o fornecedor folgado que tem problemas familiares, o supervisor Trinna que saiu de baixo para se tornar um mestre de obras bem sucedido e o ganancioso dono do terreno que faz tudo por dinheiro. Enquanto o edifício cresce e vai ficando pronto, essas vidas se desenrolam em todas as suas glórias e quedas e o leitor vai poder acompanhar alguns momentos dessas pessoas.

A ideia por trás da composição da narrativa é genial. É daquelas histórias que passa pelas nossas cabeças "por que não pensamos nisso?". Claro que apesar da proposta simples por trás do roteiro, existe a genialidade do autor que foi capaz de criar um mosaico de vidas que se intercruzam naquele espaço. Aqui precisamos fazer aquele exercício de pensar fora da caixa porque o protagonista é o próprio Alcazar. Apesar de os acontecimentos se passarem nele, é a partir dele que a história se desdobra, início, meio e fim. Os personagens humanos são transitórios já que as pessoas podem passar pouco ou muito tempo ali. Temos algumas referências de personagens que passam mais tempo e nos guiam através das diversas histórias, mas mesmo estes deixarão o palco em algum momento. O corte temporal é o da construção do prédio. Quando ele está terminado, Lamouret dá um jeito de sabermos o que aconteceu aos personagens que passaram por ali. Outro ponto curioso é como o autor faz para separar os capítulos. Ele coloca splash pages com o momento específico da obra no qual o Alcazar se encontra.

E temos que falar da arte que está assombrosa. Os cenários são de cair o queixo dada a qualidade do traço de Lamouret. Cada detalhezinho recebeu o máximo de atenção seja as motocas, as lojinhas, o que é vendido nelas, os transeuntes que passam pela rua seguindo suas vidas, os vários personagens da trama que estão fazendo diversas coisas. É uma aula de composição de cena. Quero dar os parabéns para a editora Nemo por ter trazido essa obra de arte ao Brasil porque essa é uma daquelas HQs que podem ser usadas como base para qualquer artista. A HQ é toda trabalhada em tons básicos de azul, laranja e cores terrosas o que dá um estilo bem diferente a ela. Quando o leitor começa a observá-la, ela tem uma identidade características que define a arte sendo pintada nos quadros. Não apenas isso como a pesquisa feita sobre o cotidiano de uma cidade grande da Índia como Nova Délhi, Bombaim ou qualquer outra. Essas características estão presentes em pequenas coisas como os programas de televisão que a esposa de Mehboob gosta, as noitadas e até expressões típicas. A arte ajuda a dar forma às ideias.

Posso falar de inúmeros temas, mas queria começar com o forte tom crítico sobre a desigualdade social existente na Índia. E, apesar de estarmos observando uma história que se passa em um bairro residencial indiano, o Brasil não está longe dessa realidade. As condições em que a família de Mehboob vive são bem complicadas. Eles dão um jeitinho para conseguir tocar a vida, mas imaginem dormir e acordar todos os dias com uma lona sobre suas cabeças ou um puxadinho temporário que amanhã não será seu. É uma família que sonha um dia ter um teto só seu. E o mais curioso: Mehboob sonha em ir para o campo. Ele faz parte de todo um contingente de pessoas que migraram do campo para a cidade em busca de uma vida melhor, mas aconteceu exatamente o oposto. Perderam muito do pouco status social que tinham e agora vivem de favor de lugar em lugar. Esse é um sintoma dos tempos atuais que iremos perceber com mais força ao longo desta década com os migrantes retornando aos seus lugares de origem porque o Estado e as instituições não foram capazes de fornecer aquilo que eles precisaram. O abismo social só cresceu e os deixou ainda mais sem posses.

Ou a história do pobre Rafik, um garoto novo e cheio de vida que se comove quando o supervisor Trinna observa a dedicação que ele tem em seu trabalho e diz a ele que iria ensiná-lo o ofício para que um dia possa se tornar como ele. Rafik vê em uma promessa vazia a esperança de sair de sua condição pobre e alcançar novos voos. Mal sabe ele que esta é uma estratégia típica de pessoas do meio da hierarquia para criar um vínculo torpe de fidelidade quase familiar. Através de promessas vazias, a pessoa se torna escrava de um sonho que nunca virá a existir. E esses funcionários fazem de tudo para manter esse sonho vivo, mesmo que tenham que trair a confiança de seus iguais. Quando se descobre que essas promessas nunca serão realizadas e a ficha cai, o desespero toma conta e parece que toda a sua trajetória até ali não fez o menor sentido. É como uma bigorna caindo na cabeça.

Mesmo a obra tendo começado corretamente, vemos que aos poucos as coisas começam a ficar mais complicadas com os atrasos, os rearranjos, as modificações. Os materiais se tornam mais caros e o dono do terreno deseja lucrar o máximo possível com o que ele está construindo. É aí que o perigo começa e vemos as pequenas corrupções do cotidiano. É o mestre de obras que atrasa o pagamento dos funcionários, mesmo recebendo corretamente de quem o está pagando. É o dono do terreno que faz um pedido surreal ao engenheiro que concorda apenas para não contrariar o chefe. São os peões que, por melhores condições de trabalho, sabotam a obra. São os acontecimentos comuns que fazem parte de toda uma linha de produção que deveria funcionar corretamente, mas não é isso o que acontece. Isso é perceptível em uma cena onde Trinna observa o prédio ao lado que começou depois deles e está bastante adiantado. Por que será? O que eles fizeram de diferente? Contrataram mais funcionários? Modificaram a planta?

Sem falar no engenheiro Ali que foi contratado para verificar a segurança, a integridade e o andamento da planta do prédio. Um típico intelectual acadêmico que está trabalhando em um lugar que está aquém de suas capacidades. E que possui uma irritabilidade transportada para a maneira como ele se relaciona com os peões de obra. Ele é uma pessoa indócil e não consegue fazer amizades com ninguém. Isso porque a frustração está patente em seu olhar e na maneira como ele encara o que está fazendo. Seus sonhos estão além daquele pequeno espaço e ele sente que até seu chefe o está atrapalhando em alcançar seus objetivos. A questão que fica para ele é: o que fazer? Largar tudo, se arriscar e partir para o mestrado ou buscar uma estabilidade mesmo que precise engolir alguns sapos no meio do caminho? A caminhada dele é a jornada que cada um de nós que passou pela academia passa quando sai dela e se depara com um mercado de trabalho que não nos recebe de maneira gentil.

O Alcazar é uma HQ repleta de vivacidade, de histórias e de dramas pessoas. Ela toca fundo em nossos corações porque conta verdades. Nos expõe cara a cara com a vida cotidiana acontecendo bem diante de nossos olhos. E ela gera uma identificação, por menor ou mais adjacente que seja porque em algum nível narrativo passamos por aquilo que algum dos personagens viveu. Sejamos nós os peões esperançosos com um novo ofício, o engenheiro em busca de um sonho, o mestre de obras que demonstra sua competência, o malandro fornecedor de materiais ou o chefe ganancioso. Temos um pouco de cada um deles. O que posso dizer é que fiquei impressionado com essa HQ e fui capaz de lê-la avidamente por um dia inteiro e me esbaldar nessa linda obra de arte.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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Kévia @letrasdakevia 15/11/2021

Um retrato da vida como ela é de forma fluida e rápida de ler
A construção de um edifício em um bairro residencial traz consigo várias histórias que se cruzam e se separam, todas muito reais e diversas que retratam bem a sociedade indiana nos dias de hoje.

Rafik e Mehboob, operários, enfrentam grandes dificuldades e tem que lidar com as injustiças tão comuns no dia a dia. Ao mesmo tempo que acompanhamos o mestre de obras, o dono da obra e o engenheiro, entre outros, lidando com seus próprios percalços.

O Alcazar é uma viagem para uma Índia atual que passa por toda a pirâmide social e mostra como cada um faz o que pode, nem sempre honestamente, para vencer ao final do dia. É muito real, não tem heróis nem vilões, é um retrato da vida como ela é de forma fluida e muito rápida de ler.

Essa HQ tem cores lindíssimas e o traço do Simon, autor, é muito bonito, arrasta pro lado pra ver. Vale a pena para ver as enormes diferenças da cultura e entender melhor como esse país tão distante de nós funciona.
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