May Pereira (Maira) 25/11/2021
Uma questão de empatia
Em “Quem eu escolhi para ficar”, Aelita Lear continua a explorar esse gênero tão dela que é o romance com sci-fi. Nesse novo conto do fio vermelho, porém, a atração irresistível é entre duas mulheres.
Lívia é responsável por uma inteligência artificial que levará alguns escolhidos em missão espacial, em busca de um novo planeta habitável, já que a natureza finalmente reagiu à presença danosa dos humanos e um misterioso pólen está adoecendo as pessoas.
Foi isso que aconteceu com Henrique, o marido de Lívia. Por isso é muito urgente para ela viabilizar a missão e levá-lo para fora da Terra, para longe daquilo que o está matando. No entanto, antes disso ser possível, eles passam dia e noite no hospital, com Henrique sendo cuidado por uma bela enfermeira chamada Helena.
Exausta e preocupada, Lívia está sob muita pressão, então a amizade com Helena é a única coisa que a faz sorrir. A identificação é tanta que logo se transforma em algo mais e ela se descobre profundamente atraída pela enfermeira. Mais do que isso, é amor! Muito mais avassalador do que seus sentimentos mornos por Henrique. Mas essa situação tem dia e hora para acabar. Afinal, Lívia precisa estar na nave e só pode levar uma pessoa consigo.
Confesso que, a princípio, tive um pouco de dificuldade em sentir empatia pelo amor de Lívia e Helena. Na verdade, na maior parte do tempo eu só conseguia pensar no quanto Lívia parecia desleal com o marido acamado e traído.
Então precisei de um certo esforço de maturidade para reconhecer que sentir empatia por Henrique não me impedia de sentir isso também pelas duas. Só assim, me colocando no lugar delas, e principalmente no de Lívia, pude reconhecer a dor e a delícia da história delas. Mais do que tudo a dor, aliás.
A protagonista Lívia, particularmente, passa pela descoberta tardia de sua sexualidade e de um novo amor em um momento de extrema vulnerabilidade para ela, quando a pessoa a quem dedicara seus afetos até então estava gravemente doente. Ela e Helena passam pelo drama de não poder assumir seus sentimentos durante uma época crítica e assustadora, em que a humanidade está provavelmente com os dias contados. Isso sem falar nas decisões difíceis que elas têm que tomar.
Gostei bastante também das referências ao conto anterior da autora, também com temática Akai Ito, com direito a crossover de personagens e tudo.
No fim das contas, superada minha resistência inicial, descobri outra história linda dessa autora que eu adoro.