Andre.Pithon 03/01/2023
4.5
The Green Bone Saga é considerada uma das melhores e mais influentes séries de fantasia desses últimos anos, uma trilogia completa que se afasta dos gêneros normalmente esperados, construindo uma história o que parece ser uma narrativa de máfia e artes marciais e se desenvolve em um épico geopolítico familiar, com uma trama que se desenvolve no decorrer de quase quarenta anos através dos três livros, pintando o desenvolver e o passar das gerações da principais famílias envolvidas nos inumeros conflitos aqui presentes.
Para a primeira leitura do ano, muito dela feita sentado na beira da praia com esse tijolo de mais de 700 páginas em meu colo, eu quero algo familiar, confiável, e que fechasse um ciclo que eu abri em 2022, o ano que eu mais li na vida, meu melhor ano até hoje e meu pior ano em alguns momentos de caos. O fim do épico de Fonda Lee cumpriu bem esse papel, amarrando o final em tons esperançosos, mesmo que tenha que ter atravessado muita tragédia até chegar em tal ponto.
Sua construção de mundo é único, e no livro final se eleva para níveis extremamente detalhados, as relações saindo cada vez mais do núcleo de Kekon e demandando influências globais, os clãs se modernizando para o futuro e as tensões internacionais crescendo, mesmo o foco se mantendo no interminável conflito entre os clãs centrais de No Peak e da Montanha. No Peak são os protagonistas, e muitos de seus personagens tem conclusões de arcos excelentes aqui, com Shae e Hilo já consolidados em posições de poder carregando ambos excelentes momentos, e protagonizando algumas das melhores cenas da série. Ayt Madashi, a "antagonista" central e pilar da Montanha se mantém também um enorme destaque, uma de minhas personagens preferidas do ano, e que, mesmo com poucas aparições, sempre as marca poderosamente. Sua duas cenas finais são magníficas.
Eu poderia falar muito sobre esse livro se quisesse entrar em spoilers, mas acho que não vale a pena, então tenho que ficar no superficial. Jade Legacy fecha muito bem sua trilogia, manejando um elenco estupidamente grande, que muda constantemente através dos anos, com longos saltos de tempo, e uma escrita simples e direta, mas evocativa quando deve ser. Fonda Lee construiu um universo muito parecido com o nosso, e é uma sensação magnífica ao chegar no final de uma trilogia se desconectar olhando para um parágrafo, e pensar como metade das palavras naquelas dez linhas não fariam sentido sem milhares de página de contexto, de lenta construção de mundo. Se tem algo que Lee faz bem, é ensinar sem você perceber que está aprendendo, lentamente inserindo conceitos e relações, pessoais e políticas, e deixar isso ser absorvido naturalmente pelo leitor.
Esse não é um livro de espetaculares poderes místicos, as poucas habilidades sobre-humanas presentes nele são quase científicas, proveniente de Jade, e se resumem a aprimorar o corpo humano, saltar, mais resistência, percepção aumentada, as vezes um empurrãozinho Jedi nas coisas. Simples. Mas ver uma sociedade detalhadamente moldada pela existência dessas habilidades básicas, e pensada a fundo como coisas como medicina ou a indústria cinematográfica podem ser alteradas é sempre presente e bem trabalhado.
No fim, é um livro imenso em uma série de livros grandes, geracional, que por vezes parece repetir a mesma história mais de uma vez, deixando os anos passarem e os personagens crescerem. Ela termina bem, com algumas passagem emocionais, mas é um próximo longo até chegar lá, mesmo que prazeroso.
É bom abrir o ano lendo algo que eu sabia que me traria uma experiência satisfatória, e um final, coisa rara de chegarmos. Fiquei bem introspectivo segurando Jade Legacy, olhando para o mar, me preparando para 2023.
E as vezes não estamos preparados, e a vida te força a levantar-se para a situação, jogar com as cartas disponíveis. Ótimo. Que venha. Que seja um ano ainda mais verde.