Alanna. 06/08/2020Como avaliar essa leitura?Eu fui da geração Crepúsculo. E quando eu digo isso, inclui todos os clichês que você possa imaginar de uma pré adolescente. Eu tinha pôsteres na cabeceira da cama (não um ou dois, mas VÁRIOS) lia fanfics infinitas dessa história, comprava revistas Todateen pra ler reportagens sobre livro e filme (e claro, pra pegar mais pôsteres e lotar mais ainda minha parede), li amanhecer umas 8 vezes seguidas na época, eu discutia direto em fóruns da internet, obviamente eu era Team Edward e arrumava briga com todos que elogiassem Jacob, eu estava nas comunidades de Orkut de Crepúsculo, eu baixava cps pro the Sims 2 pra ter todos os Cullen na minha família, e por aí vai. Sim, eu era essa pessoa. Eu já amava ler, já tinha hábitos de leitura, mas Crepúsculo mudou demais minha forma de leitura, porque acho que foi a partir disso que eu comecei a procurar por sagas e a me envolver no universo literário além do livro em si (sei que pra muitos Harry Potter tem esse peso, mas pra mim Harry Potter só veio anos depois, eu era proibida de ler, mas essa é outra história).
E sendo essa pessoa, obviamente eu li, anos atrás, os capítulos vazados desse livro, e fiquei decepcionada quando a autoria anunciou que desistiu do projeto. E ler esse livro nos dias de hoje representa pra mim um misto de pensamentos, porque o que fica é o forte sentimento nostálgico que Crepúsculo tem para mim, mas ao mesmo tempo aquela Alanna lá de 2008 a 2011 não existe mais. Então minha resenha tem esse paradigma em mente.
Vamos lá, claro que hoje em dia a gente entende muito mais de vida e de mundo, sabe que tem N problemas em Crepúsculo, não vou entrar nessa questão, e convenhamos que a escrita já não envolve mais como envolvia laaaa atrás. A narração no ponto de vista do Edward esclarece algumas questões que ficam muito vagas no livro original, porém a sensação que eu tive durante quase todo o livro foi de uma artificialidade nos comportamentos e pensamentos do Edward. Tudo bem, o cara é um vampiro a quase 100 anos (considerando o ano de lançamento de crepúsculo, e considerando que sol da meia noite se passa no mesmo ano de crepúsculo, ok galera), e de acordo com a própria história não tem os mesmos pensamentos e sentimentos naturais dos humanos, mas parece que a autora usa isso pra a todo momento julgar os próprios personagens. Exemplo: Jéssica. A gente sabe que a personagem é uma amiga não tão amiga assim, a gente sabe que ela fica com inveja da Bella, mas nesse livro aqui a autora parece querer mostrar pro leitor que cara ela é uma pessoa muito invejosa mesmo, é pra ter raiva dela mesmo. E o recurso que ela usa é a habilidade do Edward de ler mentes, só que os pensamentos são tão artificiais e completamente distantes de pensamentos que pessoas teriam. Esse recurso é reutilizado várias vezes, seja pra reforçar que Mike não é um cara com sentimentos tão honestos para com Bella, seja pra falar que Angela ou Ben são personagens maravilhosos e puros e sinceros, ou que Billy Black é um enxerido, ou ainda que Rose tem problemas com a Bella (volto a falar da Rose depois). A gente entende esses detalhes sem que a autora praticamente nós chame de burros e repita esse artifício diversas vezes, e se tem uma coisa que eu detesto é autor que acha que leitor é burro.
Ainda falando da história em si, além desses esclarecimentos de algumas questões deixadas em aberto, os poucos detalhes acrescentados não são nada interessantes. Cara, eu não quero saber sobre o carro que eles roubaram pra chegar em Phoenix(ou sobre as inúmeras informações de carros tunados, modelos diferenciados e afins, afinal eu já sabia que Edward é fã de carros sem que a autora esfregasse essa informação a todo instante nos 4 livros anteriores), eu não ligo a mínima pra como Edward matava os homens ruins em sua fase rebelde, eu não me importo em como foi a ligação de Carlisle pra Billy Black nem nada disso. São acréscimos que na verdade não são relevantes nem interessantes na história. E fica pior, porque o que já existia soa repetitivo, então nem os acréscimos funcionam, nem o que já existia só que agora contado por outra perspectiva.
Sendo bem sincera, o que mais sinto lendo esse livro é que a autora parou lá em 2008, não sinto evolução na escrita ou qualquer coisa do tipo. Chega a ser um pouco decepcionante, principalmente porque eu reli os 4 livros esse ano, e pra mim não parece ter ocorrido nenhuma evolução nem mudança na escrita. Você pode até pensar: talvez seja para manter a fidelidade com a obra, mas sinceramente é bem frustrante e decepcionante se você lê um personagem com mais de 100 anos que tem pensamentos nada condizentes com essa esperada maturidade trazida com os anos de experiência. Você espera esse tipo de narrativa da Bella, desajeitada, jovem, inexperiente, mas não espera isso do Edward. Outra questão, que inclusive acho que vi em uma outra resenha aqui, é o modo como a autora é injusta com alguns personagens, principalmente a Rose. Quando li Crepúsculo e os demais livros, óbvio que fiquei com raiva da personagem, mas nos dias de hoje não só compreendo a personagem como não acredito que ela seja má, na verdade acho que a autora é muito injusta e imatura ao retratar a personagem nesse livro. Acho que é uma das coisas que mais me incomodou nessa leitura.
Eu vou encerrar por aqui, mas não sem antes tentar pensar em algumas coisas. Como eu disse, esse livro tem um peso nostálgico em mim, por causa da minha relação com esse universo. Então como a gente dá nota ou avalia esse tipo de leitura? Eu claramente tive alguns (muitos) problemas lendo esse livro, mas existe sim o peso da nostalgia, e mesmo não tendo sido a mesma leitura prazerosa que tive lá atrás quando li os capítulos vazados, eu ainda tive o saudosismo e a nostalgia daqueles dias, de me lembrar de como era ser tão doida por esse universo. Eu sinceramente não sei como avaliar esse livro, e para mim esse é o maior conflito.