Luccubus 16/02/2024
Esse livro se dirige a um tal "tu-lírico" Fernando, um homem branco que esnobou a eu-lírico. Francisco consegue fazer transitar entre a dor um deboche fortíssimo carregado de extrema potência política. O que pensam Fernandos, com sua vergonha sensata, seu senso comum transfóbico, sua falta de curiosidade e afetuosidade, além de estragar sonhos, condenando-nos a sonhar que os matamos com nossos fios de cabelo. Uma ferocidade que sempre foi isso, não foi felicidade.
E uma forma de se integrar ao mundo entre nomes, Francisco invoca figuras muito persuasivas e com suas próprias subjetividades, mesmo que mesquinhas ou gentis em sua irmandade, com Inês, Isabella, Federico, muito além de Fernando. O livro mais se dirige a ele. Pelo ódio por amar alguém que não se compromete, que mesquinha e debocha, e aí a autore devolve na mesma moeda. É múltipla, muito além do que Fernando pode achar. Um mistério, mesmo que pra isso não use grandes palavras ou finja ser gênio, afinal isso nem existe. Mas mesmo assim existe uma forma muito afetuosa de trabalhar todo esse trauma. Francisco invoca Fernando não só para debochar dessa figura arquetípica privilegiada e desconectada da realidade, mas pra falar diretamente com ele. E em muitos momentos até o entende, acolhe suas dores, mas não esquece. Não pode esquecer e nem perdoar o que não foi mudado e pelo que nem se pediu desculpas.
Realmente esse livro é muito vivo. Ele fala como se fosse uma amiga numa reunião de fofoca, chorando as pitangas, lavando a roupa suja. Uma amiga que decide apesar disso viver. "Sou poeta a pesar"