BetoOliveira_autor 26/09/2022
O FILÓSOFO DESPRECAVIDO
Nunca li qualquer obra de Agamben, a não ser essa compilação de artigos sobre a pandemia COVID. Entretanto, conheço basicamente os conceitos de biopolítica etc.
Parece-me que ele, ao tentar aplicar seus conceitos à crise pandêmica se desprendeu totalmente da realidade e produziu os textos mais imbecis que eu já li na minha vida.
A prefaciadora do livro, Carla Rodrigues (Professora de ética do Departamento de Filosofia da UFRJ), deve ter tido a mesma sensação de náusea que eu tive, mas ela tenta salvar alguns aspectos da ?boa filosofia? de Agamben, pois, escreve : ?não se trata tanto de estar certo ou errado, mas de levar o pensamento a limites críticos que são, por isso mesmo, tão necessários em tempos de crise?.
Não, longe disso. Ao menos nesses textos compilados não houve qualquer proximidade de ascensão ?do pensamento a limites críticos?. O que se vê, o que se lê é uma enxurrada de tolices, de estupidez. Um idealismo cuja ilustração é um velho senil correndo pelas ruas da Itália gritando ?liberdade, liberdade, liberdade ?... tal como assistimos até hoje no Brasil de Bolsonaro.
Segundo consta, Agamben seria um marxista, mas quando leio algo do tipo ?O que é uma sociedade que não tem outro valor que não seja a sobrevivência??, divago: quanto de Nietzsche, quanto de saudosismo romano, viking, carrega no coração esse filósofo?
O grande teste de um filósofo é quando ele, saindo do seu campo de conforto (reflexões genéricas e abstratas,digamos assim), passa a interpretar um fato real, um episódio, um acontecimento concreto. De forma pontual e determinada. É muito perigosa essa empreitada, e até deve ser evitada, sob pena de manchar toda a história como bom filósofo. Voltaire se propôs a tal aventura e se saiu muito bem quando escreveu o magistral Ensaio Sobre a Tolerância.
Dadas as devidas proporções ( Agamben é minúsculo diante de Voltaire), o nosso contemporâneo mostrou, ou toda a tolice da sua filosofia, ou, o mais provável, o declínio da sua capacidade filosófica.
Certamente, ele não é esse imbecil que lemos nesses artigos. Já no primeiro artigo, o qual ele escreveu de forma irrefletida diante da prematura situação pandêmica ( ao estilo do neófito), ele nos brinda com um prognóstico fracassado e desastroso. No alto de sua sabedoria e "conhecimento científico" (devemos rir?), ele escreve:
?Diante das frenéticas, irracionais e totalmente imotivadas medidas de emergência motivadas por uma suposta epidemia do coronavírus, (...)?
Como definir Agamben com base nessa e só por essa obra?
O FILÓSOFO DESPRECAVIDO. Um idealista tolo.
Perdemos, só no Brasil, em torno de 700.000 pessoas. Perdi um tio, acompanhei seu sofrimento até o fim, dia a dia. Foi naqueles meses em que o governo brasileiro defendia as mesmas ideias (embora com propósitos e argumentos gradualmente diferentes) do Agamben. A vacina só chegou nos braços dos brasileiros meses depois da morte do meu tio. Este meu comentário é, portanto, também é um dsyabafo contra um velho FILÓSOFO senil, que se embruteceu no apego da razão pela razão, e no desejo egoísta, no mal dos filósofos de buscarem distinção com uma suposta ?novidade?.
A única novidade da novidade: a tolice enviesada, a vontade de verdade cega e destrutiva. O uso do senso comum, do clichê, na filosofia. Aquela insensatez de quem já está sem energias e culpa o mundo pela velocidade do tempo. O "abraço do afogado", como dizemos por aqui. Você só salva o afogado, sem sofrer perigo, se o agarrar pelos cabelos. Mas Agamben já não tem mais cabelos.
Agamben foi incapaz de enxergar o óbvio: que a sua crítica biopolítica, que sua defesa à suposta liberdade individual, é exatamente a necropolítica que ocorreu no Brasil, vitimando esmagadoramente os pobres.