ANDER CELES 28/10/2022
História poderia ser interessante, mas o desenvolvimento...
Então... tá complicado apoiar o trabalho nacional dos autores de editoras pequenas... Realmente, não tenho dado sorte. Eu realmente tava de olho em outros livros da Editora Euphoria, mas fico com muito medo de dar uma chance. Não é que a história é uma bomba, mas falta uma escrita mais profissional. Aqui parece alguém que teve uma ideia legal e resolveu escrever. Mas não é assim, não funciona assim. Você precisa da ideia, mas também de toda uma estrutura narrativa que favoreça a ideia.
A narrativa é muito estranha...uma hora tá na perspectiva de um personagem, aí passa pro outro... O JunWoo querer a amizade do grupo do Takeshi não tem muito sentido. Não desenvolve nada para levar a isso. Os sentimentos acontecem muito rápido.
E gente, é uma chuva de clichês de frases prontas e "desconstruídas", uma chuva de lacração. Fora a situação política do Brasil aparecer de graça na história, sem mais nem menos.
Por falar em Brasil, a história poderia se passar aqui, mas nunca na Coreia do Sul. A atitude dos personagens tá muuuuito longe do que é a sociedade coreana. Será que a autora fez alguma pesquisa de campo? Nunca que numa escola de alto nível, os adolescentes coreanos agiriam dessa forma. É muito ocidental a atitude deles. Parece aquelas séries adolescentes lacradoras da Netflix.
Um ponto chato no livro é que parece que o JunWoo é um personagem desses livros didáticos, que não sabe nada sobre nada, e tem o Takeshi como um professor explicando os temas.
E mais: o que são esses adultos dessa história? Ou eles são vilões muito escrotos, ou eles são p***a louca meeesmo, tipo, falam palavrão o tempo todo, são "amiguinhos" dos filhos... Não tem um adulto meio equilibrado, sabe?
E os personagens parecem não ter falhas. Isso é ruim, né? Porque parece que eles estão certos em todas as ações, nada é questionável, eles não se dão mal...
Outra coisa: é uma enrolação tão grande esse "romance" dos protagonistas! E eu até gosto da coisa do slow burn, mas aqui não acontece nada no meio do processo. Por exemplo, "Aristóteles e Dante". Eles só ficam juntos bem no final mesmo! Mas enquanto isso, muita coisa acontece com os dois. Aqui não. Não acontece nada. Não avança o romance.
A autora também tem umas visões pessoais que são diretamente colocadas no livro, que reforçam esse negócio de "vamos ser moderninhos". Por exemplo, tem uma em que o JonWoo fala que a mãe não trabalha fora, que ela cuida da casa. Isso é o suficiente para o Takeshi realmente ficar chocado, porque, de acordo com ele, é raro mulher que não trabalha fora. Será mesmo? Ou é a visão sobre as coisas da autora aqui? Percebe como é ruim quando a escritora cria personagens que são simples réplicas do pensamento dela? Porque a coisa toda vai na mesma toada, sempre. Não tem nuances.
Não tem o menor sentido os pais do JunWoo serem ditos como extremamente controladores com o menino, mas não se importando com a escola onde ele estuda. Tipo, a escola é mega liberal, mas os pais nem se importam... Não faz sentido. Se era essa a narrativa pretendida, o menino deveria estar em uma escola tradicional, rígida. Entende que não faz sentido?
A narrativa é muito bagunçada, mal organizada. Não fica claro quem são os personagens-narradores. Uma hora o foco tá no JunWoo, mas do nada muda pro Takeshi. Tipo, é comum um livro intercalar a narrativa entre duas personagens, mas isso fica bem dividido, normalmente por capítulos. Não é o que acontece aqui, aí vc não sabe em quem tá sendo o foco. Particularmente, acho que a narrativa tinha que ser exclusivamente do JunWoo, infinitamente mais interessante que o Takeshi.
O livro perde ótimas oportunidades de gerar conflito. Tudo se resolve favoravelmente para os protagonistas. E aqui tem uma mania de todo mundo ser LGBT... pelamor de Deus. Eu sou LGBT, e sei que a sociedade não é assim. Não é assim aqui no Brasil, quem dirá na Coréia do Sul. Falta muito grau de realismo pra história. Parece que a história se passa na cabeça de um adolescente que fantasia uma utopia. Inclusive isso fica claro quando a família p***a-louca do Takeshi é vista como uma família perfeita, que tem pais super permissivos, que falam palavrão a tordo e a direito, e que falam sobre a vida sexual dos próprios pais sem o menor constrangimento.
E é um verdadeiro manual LGBT, meu Deus. Tudo tem que enviar uma lição bem didática sobre "desconstrução".
O livro tem como protagonistas adolescentes. E eu até gosto de livros sobre essa fase da vida, que a meu ver, justamente por conta das descobertas, dá pra explorar muita coisa. Mas a falta de senso de realidade me faz crer que ele foi escrito para ser lido exclusivamente por adolescentes, adolescentes sem muita base de leitura, por sinal. É muito cheia de clichês adolescentes, over. E sempre vem com a aquela máxima "adolescentes com os hormônios a flor da pele". É sério, isso aparece muitas vezes no livro, o que limita toda tomada de decisão dos personagens a essa explicação simplista. Sim, todo mundo sabe que os adolescentes estão com os hormônios a flor da pele, não precisa escrever isso. Escreva ações onde isso é a causa e todo mundo que vai ler, vai entender.
Tem coisa boa no livro? Sim, não é um desastre completo. O JunWoo é o melhor personagem do livro, que claro, poderia ter um desenvolvimento e aprofundamento dramático muuuuito melhor, tendo em vista o background que é dado a ele. As partes do romance, também são legais. Claro que poderiam ser mais diversificadas, ter mais situações de conflito envolvendo o romance. Mas até que é legal de ver.
Esse livro tem uma continuação, são dois livros. Iria ler ainda nesse ano, mas como dei uma saturada com esse primeiro, vou deixar pra ler no ano que vem. Infelizmente, sem muitas expectativas a respeito da escrita da.
autora