Luiza 09/02/2023
Angustiante!
antes de tudo, gostaria de falar quanto a escrita desse autor é incrível. o livro, apesar de trazer um tema muito sensível, se mantém muito fluído do início ao fim. é muito bem escrito, a pesquisa muito bem feita, traz muitos detalhes sobre a vida criminosa do pedro chavarry, que não é possível encontrar em uma simples matéria, por exemplo.
é doloroso até mesmo imaginar quantas crianças foram estupradas por esse ser perverso. foram longos anos, usando da vulnerabilidade financeira e social, de mulheres mães, para praticar inúmeros abusos. difícil também, imaginar o número de facilitadores e cúmplices, que estiverem envolvidos em tudo, ao decorrer dos anos e que nunca serão descoberto e responsabilizados.
mas a dura verdade é que nunca saberemos o que realmente aconteceu nesses "passeios". nunca saberemos o que tinha nos aparelhos eletrônicos que ele conseguiu se livrar, dentro da delegacia. e do início ao fim, podemos dizer que ele nunca não foi tratado como deveria, como um estuprador de crianças. nunca foi punido e responsabilizado de forma justa, diante da lei.
o trecho em que o policial afirma que "o chavarry a gente deixa passar" me faz pensar, quantas outras vezes antes do flagrante em 2016, ele poderia ter sido responsabilizado pelos seus crimes, mas foi mantido em liberdade pela sua influência e poder no meio policial.
dois pontos que me incomodaram, é a forma como a pedofilia é colocada como doença, sei que é um fato científico, entretanto, sempre irei discordar. acredito, que essa colocação é extremamente desonesta e injusta e que inevitavelmente apenas protege pedófilos.
o segundo ponto, é como a narrativa foi criada em cima de uma cronologia que é muito confusa. em muitos momentos, o leitor acaba se perdendo nas datas e acredito, que essa linha possa deixar algumas coisas se perderem no meio do caminho.
termino essa leitura, com uma sensação de desespero, aflição e incapacidade. me gera enorme revolta, saber como nossa sociedade está tomada por uma hierarquia quase que inquebrável, onde a classe, muitas vezes, vem antes de qualquer coisa, e atrelada ao sexo masculino e a cor de branca, pode chegar até mesmo a criar seres quase intocáveis pela lei. homens, que detém tanto poder, que mesmo quando "pegos", sempre conseguem formas de escaparem.