Segredos

Segredos Domenico Starnone




Resenhas - Segredos


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Flávia Menezes 23/02/2024

GOT A SECRET, CAN YOU KEEP IT?
?Segredos? é o último romance publicado do escritor, roteirista e jornalista italiano Domenico Starnone, tendo chegado às livrarias em junho de 2020.

Ganhador do Prêmio Strega de 2001, o nome de Starnone é sondado há quase duas décadas como sendo a possível identidade real de Elena Ferrante. Mistério esse que surgiu não apenas por sua escrita se aproximar muito da narrativa de Ferrante, mas também porque a esposa do escritor, Anita Raja, é a tradutora da editora que publica Ferrante.

O ?Corriere dela Sera?, um jornal diário italiano chegou a publicar um quadro fazendo um comparativo para demonstrar como a prosa de Starnone possui uma semelhança que vai muito além do razoável com a de Ferrante. Foi uma investigação jornalística de 2016 que buscou encerrar o caso, quando, ao seguir as faturas da editora de Ferrante, trouxe à tona um debate sobre o direito ao anonimato.

Boato ou verdade, a questão é que se tem algo de que Starnone gosta de falar é sobre ?segredos?.

Neste romance, um professor de literatura vive uma paixão avassaladora com uma ex-aluna, e depois de muitas idas e vindas, tem diante de si uma proposta ousada: para que o vínculo entre eles se fortaleça, cada um deveria contar um segredo inconfessável. E é exatamente o que cada um faz, abrindo um para o outro o seu lado mais sombrio.

Uma proposta arriscada, afinal... quem poderia garantir que esse laço um dia não se romperia?

E realmente se rimpeu, e é aí que os riscos de que alguém exponha algo tão íntimo, e que ficou guardado por anos em uma caixa de pandora, seja descoberto por pessoas que ele tanto ama, ou até mesmo para aqueles que o admiram, começa a assombrá-lo a tal ponto que toda a sua vida passa a girar em torno daquele segredo um dia confessado.

Como bem dizia a música do ?The Pierces?, e que foi tema do seriado ?Pretty Little Liars?, transmitido de 2010 a 2017: Got a secret, can you keep it? Swear this one you´ll save / Better lock it in your pocket taking this one to the grave. (Tenho um segredo, você pode guardá-lo? Jure que esse você vai guardar / Melhor trancá-lo em seu bolso, levando-o para a sepultura).

A premissa das confissões de algo tão pessoal, algo que é tão sigiloso que não confessaríamos nem mesmo para a nossa própria sombra, é algo que instiga, afinal... quem é que não tem um segredo que o guarda a sete chaves? Mas tenho que confessar que apesar do começo promissor e fascinante, o ritmo não se mantém o mesmo até o seu final.

Assim como em um outro livro que li recentemente deste mesmo autor, ?Laços?, neste o autor divide os relatos em 3 partes, sendo a primeira a visão do ocorrido pelo professor de literatura, o segundo a filha desse professor, e o terceiro (e a escolha mais óbvia) a ex-aluna que teve um caso com esse professor, e foi a portadora do seu grande segredo.

Starnone tem uma escrita muito fluida e realmente gostosa de ler, com suas frases de efeito que imediatamente nos fazem pensar sobre o que foi dito, nos trazendo de volta ao tempo real, e promovendo essa reflexão sobre como agiríamos, ou o que pensamos sobre determinado assunto.

Porém, apesar de tanto encanto colocado nas palavras, ao inserir à trama uma segunda temática de grande relevância, a questão do papel do professor nas escolas e seu impacto no processo de aprendizagem dos alunos, confesso que a narrativa (para mim!) foi perdendo um pouco a força.

Uma outra confissão que faço, sobre uma visão bem pessoal, é que apesar de Starnone ter dito durante uma entrevista que ?Nós, homens, temos cada vez mais dificuldade para nos narrar?, suas personagens femininas seguem o mesmo padrão de mulheres megeras, (altamente!) manipuladoras e irritantemente geniosas.

Esse excesso de diálogos femininos intempestivos me deixou um pouco cansada, e como a história fecha com a narração de duas personagens femininas, não posso negar que foi difícil finalizar a leitura, por ter se tornado muito maçante. Mesmo tendo essa sensação de que ele (autor) escreveu alguns desses comportamentos (e alguns bem irritantes) de algum recorte de uma experiência pessoal real.

A conclusão do livro foi bem à lá Starnone, e não há como não dizer que foi maestral, fechando com muita sabedoria a questão dos segredos confessados, e do compromisso de uma vida estabelecido por seus interlocutores em carregar a promessa de jamais revelá-los à terceiros.

Muito embora tenha sentido como se a história tivesse perdido um pouco a força com essa inserção de uma segunda temática igualmente forte, e da repetição de um mesmo padrão (negativo) feminino, há muito nesse livro que eu realmente apreciei, e sem dúvida essa foi uma leitura boa para distrair um pouco à mente de outras leituras mais densas que tenho feito paralelamente.

"Não estou a fim de constatar que os melhores seriam os melhores independentemente de eu ser seu professor, e que os piores continuam os piores mesmo sendo eu seu professor. Salário de merda ou não, apocalipse iminente ou não, quero aqui dizer humildemente que me sinto menos triste - sim, menos triste - se me esforço para que aqueles que de todo modo fariam bem façam melhor graças ao meu trabalho, e para que aqueles que de todo modo fariam mal aprendam graças a mim a fazer bem".
AndrAa58 24/02/2024minha estante
Amo suas resenhas ?


Flávia Menezes 24/02/2024minha estante
Amiga, você é demais!! ?




Leila de Carvalho e Gonçalves 09/09/2020

A Construção Identitária
Após Laços e Assombrações, o italiano Domenico Starnone volta com mais uma novela, gênero escolhido pelo escritor na velhice, provavelmente preocupado em deixar inacabado um romance, projeto mais moroso. Seu título é Segredos e a temática é a mesma dos demais, isto é, a ambivalência das pessoas e por conseguinte, de seus relacionamentos entre a juventude e a velhice.

Por sinal, todas as três narrativas possuem protagonistas semelhantes, isto é, homens que não se encaixam as suas pretensões, demonstrando o quanto a construção identitária pode estar sujeita a abalos. Uma abordagem oportuna para uma história construída em Nápoles, aos pés do Vesúvio, conexão que desponta logo na primeira página, quando o professor Pietro Vella, epicentro dos conflitos, afirma que o amor ?é lava de vida bruta que queima a vida fina, uma erupção que anula a compreensão e a piedade, a razão e as razões, a geografia e a história, a saúde e a doença, a riqueza e a pobreza, a exceção e a regra?.

Resumidamente, Pietro é um professor assombrado por um segredo que, se vier a público, pode arruinar sua vida. Compartilhado com uma ex-aluna e amante, a Tereza Quadraro, pouco antes do término da relação que os unia, o temor que tal confidência lhe desperta, não se arrefece com o passar dos anos, ao contrário, recrudesce, pois ele tem cada vez mais a perder, conforme se casa, tem filhos e usufrui de uma carreira literária de relativo sucesso.

Segredos apresenta três relatos. O primeiro e mais longo, cerca de 75% do livro, é do protagonista, alguém que teve muito na vida e crê não ser merecedor. O segundo, mais enxuto, é de Emma Vella, a filha que o venera. Finalmente, o último, mais sintético que os demais, cabe a Teresa Quadraro, a intempestiva cientista que conseguiu superar o mestre e tem a brilhantismo que Pietro tanto gostaria de possuir.

Curiosamente, Segredos aborda diversos aspectos que também estão presentes na obra de Elena Ferrante, pseudônimo do escritor ou escritora cuja identidade é mantida em segredo. Em especial, essa semelhança transparece na comparação do livro com a Tetralogia Napolitana e um bom exemplo é justamente a questão da genialidade. Portanto, não é por acaso que Domenico Starnone já foi apontado como o principal suspeito de ser Ferrante, apesar de sempre negar tais conjecturas. Entretanto, desde 2016, quando o jornalista italiano Cláudio Gatti publicou um artigo polêmico em que afirma que na verdade ela é Anita Raja, tradutora e esposa de Starnone, o caso ganhou novos contornos, levando-o a perder o protagonismo das apostas.

Para encerrar, fico com o escritor e crítico literário Marco Belpoliti: ?A artimanha dos livros de Starnone é expor as histórias sem nunca terminá-las. Perto do final, quando a moral do livro tem que aparecer, ele desaparece: faz seus personagens fugirem para a saída de emergência, abre a porta, multiplicando as tramas e pontos de vista, de forma mínima, mas substancial. Nenhum de seus protagonistas pode se parecer com o escriba de Melville, Bartleby, nenhum pode pronunciar a famosa frase da subtração: Prefiro não. Eles não dizem não, porque nem mesmo disseram sim. Estão suspensos no limbo do luto por um pecado inexistente cometido, não uma falta terrível, mas uma pequena falta, porque são pequeno-burgueses. Em Segredos Starnone atinge o seu clímax: ele descreve algo que conhece muito bem, algo que se assemelha a todos nós, algo que não podemos rejeitar, mas nem abraçar totalmente. Um moralista, embora pela metade. E com isso ele acerta e nos descreve perfeitamente: somos todos traidores medíocres de nós mesmos?. (Doppiozero, 9/12/2019)

Nota: Comprei o e-book e recomendo
Patresio.Camilo 09/09/2020minha estante
Ah como eu gosto de suas resenhas.... Cada uma que leio tenho vontade de comprar e ler o livro...


Leila de Carvalho e Gonçalves 09/09/2020minha estante
Grata. Você não imagina o quanto me faz feliz com esse comentário. Abraços!


Clarissa 01/11/2020minha estante
Terminei de ler o livro ontem e que resenha maravilhosa! Acuradíssima!


Leila de Carvalho e Gonçalves 02/11/2020minha estante
Grata, Clarissa. Abraços!


Adriano.Couto 20/06/2021minha estante
Que bela resenha! Acabei de ler esse livro e você soube sintetizá-lo perfeitamente.


Leila de Carvalho e Gonçalves 21/06/2021minha estante
Grata, Adriano.




Anninha 31/10/2021

O que um segredo é capaz de fazer conosco? O que pensamos ser um segredo horrível pode n significar nada para os outros.
Nesse livro o primeiro narrador é assombrado por um segredo que compartilhou n pelo ato em si e sim pelo que a revelação pode causar a imagem que ele criou para si mesmo.
O livro trouxe muitas reflexões sobre muitos temas atuais, porém n explorou muito.
A leitura foi instigante.
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Marcelo 28/04/2021

Um livro bom, mas o autor tem melhores
Após Laços e Assombrações, o italiano Domenico Starnone volta com mais uma novela, Seu título é Segredos e a temática é a mesma dos demais, isto é, a ambivalência das pessoas e por conseguinte, de seus relacionamentos entre a juventude e a velhice.

A história começa sem rodeios: o leitor é logo apresentado aos altos e baixos do relacionamento de Pietro e Teresa, que, embora curto, deixa marcas duradouras.

Confesso que esperava mais do livro. Starnone sabe contar uma história de forma envolvente, nos prendendo na leitura. É o que ele faz na primeira parte do livro, que flui muito bem. Nas duas outras partes, que são bem curtas, ele traz outro tipo de narração, que me parece muito superficial, pouco convincente, insuficiente para gerar uma conexão entre o leitor e a personagem que narra. Resumindo: o livro é bom, mas poderia terminar no fim da primeira parte.

Apesar disso, o livro suscitou boas reflexões e pode ser considerado um bom livro, se o leitor conseguir transcender a escrita e se conectar com as emoções e reflexões que o autor apresenta
Cristiane 28/04/2021minha estante
Ainda não conheço este autor...


Marcelo 28/04/2021minha estante
Recomendo começar pelo livro ?Laços?. Eu gostei bastante e é curtinho


Cristiane 28/04/2021minha estante
Obrigada.




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regifreitas 19/07/2020

SEGREDOS (Confidenza, 2019), Domenico Starnone; tradução Maurício Santana Dias.

Pietro, um professor de 33 anos, mantém um relacionamento conturbado com Tereza, uma ex-aluna sua, dez anos mais jovem, na Itália dos anos 1970. Após uma das muitas brigas entre o casal, Tereza faz uma proposta: cada um deve compartilhar com o outro um dos seus segredos mais obscuros, algo realmente vergonhoso, que se viesse a público seria humilhante. Alguns dias depois, o relacionamento acaba de forma amigável, e cada um segue seu rumo.

Um tempo depois, ele acaba se envolvendo e casando com Nadia, uma colega do colégio, com quem terá três filhos. Passam-se os anos e o nome de Pietro se torna conhecido no mundo acadêmico, por conta de uns artigos de sua autoria sobre educação pública e a situação da escola na Itália, rendendo-lhe certa fama.

Entretanto, mesmo depois de anos, ele vive assombrado pela ideia de que de uma hora para outra Tereza ressurja e revele seu terrível segredo a todos, arruinando sua vida e sua carreira.

Esse basicamente é o enredo de SEGREDOS, e ainda não sei bem o que pensar a respeito desta leitura. Ao seu término, fiquei durante algum tempo tentando avaliá-la de alguma forma. Não é um livro ruim, passa longe de sê-lo; a prosa de Starnone é elegante e descomplicada. Também não parece, a princípio, ser aquele tipo de obra que cai logo de cara na lista dos favoritos. Mesmo assim, deixou uma sensação de que ela parece dizer muito mais do que foi captado num primeiro momento. E isso por si só já é um bom motivo para se aventurar futuramente em outros títulos desse autor.
Rosana 19/07/2020minha estante
Gostei da resenha. Terminei de ler há pouco e fiquei com sensação parecida com a descrita por você. Não gostei muito do relato de Pietro, achei um tanto cabotino e cansativo. Li de má vontade. Mas ao final o relato dele melhora bastante e, complementado pelos ótimos textos de Emma e Teresa, assim como a voz e personalidade de Nádia aparecendo esporadicamente aqui e ali, mas dando sentido às narrativas, me fez gostar do livro.
Não achei tão bom como Laços, o primeiro que li e que continua sendo o melhor, pra mim.


regifreitas 20/07/2020minha estante
oi, Rosana. foi o primeiro dele que acabei lendo. mas o próximo acho que será Laços. a maioria das resenhas que li realmente consideram esse último a melhor obra do autor.




Luciano 02/04/2021

não conhecia a escrita de domenico, mas li críticas positivas sobre seus livros. Segredos foi minha porta de entrada para o autor, estava com um dos últimos na minha lista de leituras para 2021, mas que bom que eu decidi dar prioridade para esse livro, viu?!

tão misteriosa e agradável quanto a própria estética da capa, a leitura de segredos é muito fluida - tanto que quase li tudo em um dia sem nem me dar conta.

a história é dividida em três relatos. Os dois últimos são muito mais curtos que o primeiro, e acabam deixando um gosto de quero mais, como se não fosse a hora de terminar, como se ainda houvesse muita história pra contar.

só que isso não diminui a qualidade do enredo. Na verdade, retrata um aspecto muito importante da vida: às vezes, a vida segue sem que a gente saiba o que de fato aconteceu.
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Elle 22/08/2020

Eu não sei o que esperava desse livro, mas não era isso. Com uma sinopse interessantíssima tinha tudo pra ser bem marcante mas o livro em si não soube desenvolver isso, acredito que o que mais me chamou a atenção foram os personagens que foram muito bem desenvolvidos. Pietro, o principal, é extremamente machista, mesmo que aparentemente a história foi há muito tempo, ele é um personagem que vive do orgulho e em função ao respeito e admiração dos outros.

Eu esperava que no mínimo eles revelassem qual o segredo que gerou a sinopse do livro, mas ele só serviu pra mostrar o medo do personagem e a raiva dele na condição de que ela teria algum poder sobre ele.

A escrita é realmente muito boa e gostei de ter a oportunidade de conhecer mais desse gênero e ler algo que não seria o que eu escolheria naturalmente, sendo essa a proposta do clube do livro que me enviou ele mas não o recomendaria.
Daniel 28/08/2020minha estante
Mas a questão é exatamente esta: o tal "segredo" só era importante na cabeça, ou melhor, na consciência (talvez alimentado por muita culpa) do narrador da primeira parte - Pietro.Tanto que na terceira parte, narrada pela Teresa, ela afirma que nem se lembra que segredo era....


Ana 10/09/2020minha estante
Concordo com Daniel, acredito também que o segredo era a unica forma que ele tinha de manter uma relação com a Tereza que representava uma outra fase da vida dele. Não revelar o segredo é algo que possibilita a gente viajar no que seria ele. Imagino que seja algo relacionado com a morte, talvez uma tentativa de suicídio ou ate mesmo assassinato de um membro da família. Quem sabe uma ajuda negada, o que acabou gerando uma morte ... não sei... mas sempre que penso naquele segredo imagino morte xaxaxaaxaxax
De forma geral apreciei mais a escrita do autor do que os personagens em si, a forma como o Pietro é autocentrado me revoltou. Mesmo entendendo os motivos que fazem sua esposa ser infeliz/não realizada na vida, não tomava uma atitude para que ela chegasse mais perto da felicidade. Se contentava apenas em refletir e entender o motivo, me simpatizei por Nádia, mesmo me revoltando com sua história ... Interessante que esse é quarto livro que leio esse ano que o personagem principal é homem, e o escritor também, e nos 4 encontrei o discurso que adultério é algo natural e que não se deve sentir culpa. Vocês também encontram isso muito presente em livros narrados por homens e menos em livros narrados por mulheres?




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vitxor 11/02/2024

Uma das piores experiências literárias que já tive
Primeiro de tudo, não acho que a escrita do autor seja ruim, nem muito menos que seja equivalente a da Elena Ferrante, essa comparação é até ridicula.

Essa foi uma das minhas piores experiências de leitura, simplesmente porque é uma história completamente insuportável de um cafajeste/crápula que se acha bom sujeito e, além de tudo é um machista extremamente narcisista. Aliás, o título do livro é mais pelo fator de ele ser tão machista a ponto de remoer isso porque alguém "teria poder sobre ele" a partir desse segredo. A única personagem digna de alguma simpatia nesse livro é a Nádia que infelizmente é esposa dele. Talvez a construção que o autor propôs não foi tão bem aproveitada por mim porque eu passava a leitura inteira irritado tendo que ler as asneiras que esse personagem pensava e falava e achando que tava abafando como um macho alfa de ego ferido. Sinceramente não tenho mais vontade nenhuma de ler outro livro do autor e nem muito menos recomendo esse livro, foi uma péssima leitura.
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Itamara 11/12/2020

"... de fato estamos nas mãos um do outro "
Gostei do livro, adoro histórias que se parecem tão reais que consigo imaginar os personagens como pessoas conhecidas minhas, cheias de defeitos, problemas, inseguranças. Questionei por muito tempo o que ali estava sendo compartilhado, principalmente no primeiro relato (que é maior)e pelo fato da relação tão tóxica entre Pietro e Tereza. Enquanto lia, associei muito a escrita com a da Elena maravilhosa Ferrante. Será que são a mesma pessoa?
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Augusto Stürmer Caye 12/12/2022

A fiel depositária de nossas falhas
O jovem professor Pietro Vella inicia um relacionamento com uma ex-aluna, Teresa. Eles brigam, dormem com outras pessoas, se provocam e, finalmente, fazem um pacto: ambos contam um ao outro seus segredos mais sombrios. Dias depois, se separam.

Pietro constitui família com Nadia, torna-se um respeitado autor e crítico do sistema educacional apontando desigualdades, enquanto Teresa ganha fama como cientista. Mas seus caminhos se cruzam novamente e, especialmente, Pietro continua assombrado pelo conhecimento que passou para Teresa e o que ela pode fazer com isso.

Dividido em três partes, a primeira e de longe a mais longa seção do romance é contada por Pietro, e Starnone encontra uma maneira elegante e sutil de revelar a maneira como esse personagem difícil vê o mundo: aparentemente com a mesma idade do autor (que era nascido em 1943), Pietro não percebe o desequilíbrio de poder entre ele e sua ex-aluna como problemático e não apóia particularmente sua esposa, que poderia ter feito carreira na universidade; mas, ao mesmo tempo, ele não é um vilão clássico, pois ele, o estudante universitário de primeira geração, é atormentado por dúvidas sobre seu trabalho, se é ou não uma fraude, e suas conexões com quatro mulheres:

Teresa, a mulher forte e independente, torna-se um fator de controle simplesmente pela verdade que ela sabe sobre ele e pelo fato de que ele teme que o mundo possa ouvi-la. Nadia, sua esposa, é uma brilhante e promissora universitária que é assediada por seu professor. Ante a recusa desta de se submeter, recebe uma negativa no avanço do seu trabalho e tem sua carreira drasticamente encerrada. Nádia é interessante por se manter fiel à Pietro mesmo que isso significasse o fim de sua carreira, tudo em nome do bem estar de sua família; a forma como ela processará isso ao longo das décadas, em atitudes por vezes muito passivo-agressivas, são, para mim, completamente justificáveis ante a falta de reconhecimento e atitude que Pietro tem para auxiliar sua esposa. A terceira, Tilde, é a elegante editora dos livros de Pietro que simboliza seu flerte com a própria carreira e ascensão de classe. Pietro a quer mas não se sente merecedor; a quer, a considera a própria finesse, mas não acha que deve, e, ao fim, não consegue, o que nos lembra de todas as dúvidas que ele mesmo tem sobre si. Por fim, a quarta mulher é a própria filha, Emma, cujas poucas menções durante o relato do autor principal é significativo da própria ausência do pai junto à filha. Só nos relatos seguintes, da própria Emma e de Teresa, que ela toma um protagonismo, o que me faz questionar se é a ausência do pai na infância da filha e o sucesso do pai que a fazem admirar tanto, querendo que este a note, em que pese os demais filhos Sérgio e Ernesto tenham o comportamento contrário: estão longe no mundo e sequer verão as fotos e vídeos do pai.

A segunda parte é contada pela filha de Pietro, Emma, ??e, por último, a supostamente incontrolável Teresa. Essa mudança de perspectiva abre a narrativa para vários tipos de decepções: até que ponto os personagens traem uns aos outros e, mais importante, a si mesmos? Quem são eles, percebidos por eles mesmos, quem eles querem ser para o mundo? Todo o conto continua emocionante até a última página que é, então, subitamente interrompido, deixando-nos à mercê de nossa própria imaginação do que acontecerá, e nos leva a refletir sobre como a nossa própria moralidade e história são relativas aos nossos próprios pontos de vista.

Concluindo, Segredos é também a terceira obra do autor a tratar da perspectiva do transcurso do tempo e das nossas reflexões sobre a própria vida, em uma coletânea de 03 pequenas obras: Segredos, Laços e Assombrações, todos maravilhosos, curtos e reflexivos. De minha parte, o ponto que me mais fez refletir é a confiança que depositamos aos demais: em nós mesmos, em nossos amigos, em nossos parceiros, em nossos parentes, e no que somos para nós e para os outros. Recomendo fortemente a qualquer um que queira pensar sobre o assunto.
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Dudu Menezes 20/01/2021

Leitura boa e rápida: permite reflexões profundas
Afinal, quem não tem segredos? E o que esses segredos são capazes de fazer não só com as nossas vidas, mas, também, com a de todos que com nós acabam convivendo, seja nas relações afetivas ou profissionais?

Aliás, quando somos parecidos com Pietro, em pelo menos algum aspecto, sabemos muito bem que é difícil separar o profissional do pessoal, porque a vida é apenas uma e, como sujeitos das nossas vidas e assujeitados pelas nossas ações e suas consequências, acabamos nos tornando responsáveis por todos que cativamos.

A leitura é rápida e fluída, mas o desfecho apresenta surpresas não sobre os segredos, em si, mas sobre o que decidimos fazer com eles e, consequentemente, com as nossas próprias vidas. Amor, sentimento de culpa, ciúmes, vaidade, possessividade... Somos um emaranhado de sentimentos, do início ao fim, e nos pensarmos sob um viés maniqueísta não fará com que sejamos melhores; apenas mais humanos.
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Miri 11/04/2021

?Pensei: a gente se apaixona por pessoas que parecem verdadeiras, mas não existem, são uma invenção nossa; (?) Uma coisa é a pessoa amada, outra é a pessoa real que, enquanto amamos, nunca vemos realmente.?
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