pirocadeperuca 28/09/2023
Morreria por ele
Escutai,
camaradas herdeiros, ao agitador,
ao locutor em chefe!
Abafando
a torrente de poemas,
passarei por cima
de líricos livrinhos,
para falar aos vivos
como se vivo fosse.
Chegarei até vós
no comunismo longínquo,
mas não
como os cantores saudosistas
à moda de Essênin.
Meu verso chegará
através do cume dos séculos,
por cima das cabeças
de poetas e governos.
Meu verso chegará,
não como chega à seta lírica de Cupido,
nem como velha moeda
às mãos do numismata,
nem como a luz
das estrelas extintas.
Meu verso
com esforço
irromperá
e grosseiro,
pesado,
de sob o peso dos anos
gritante,
como a nossos dias chegou
há de chegar,
o aqueduto de Roma,
tal como o fizeram os escravos.
Entre pilhas de livros,
túmulos de poemas,
ao descobrir
o ferro de minhas estrofes,
vós, com respeito, as apalpareis,
como a velhas armas,
perigosas.
Eu,
com a palavra,
não costumo acariciar
ouvidos;
nem ciciar
quase obscenidades
a orelhinhas virgens
escondidas,
sob cabelos inocentes.
Minhas páginas desfilando
como tropas,
as linhas do front
eu as passo em revista.
Os versos se perfilam
pesados como chumbo,
prontos para morrer,
ou para a glória imortal.
Os poemas postados
como um canhão atrás doutro,
apontam à distância,
com seus títulos de letras enormes.
Os ditos mordazes,
minhas armas preferidas,
ei-los prontos,
sofreado o cavalo, a lança em riste,
com rimas agudas,
prestes a galopar
lançando um grito de guerra.
E todas essas tropas
até os dentes armadas,
que vinte anos de vitórias
atravessaram,
a ti as dou,
até a última folha,
a ti,
planeta proletário.
Todo inimigo
da classe operária
é desde muito
meu inimigo jurado.
Tivemos
sob a bandeira vermelha,
anos de sacrifício,
dias de fome.
Mas,
cada tomo de Marx,
nós o abríamos
como se fossem janelas,
e, mesmo sem ler,
saberíamos
onde ficar,
de que lado
lutar.
?