Flávia Menezes 29/11/2021
UMA ANA COM SÍNDROME DE HARDY.
Há tempos que tenho tido vontade de ler alguma história escrita por Rick Riordan, especialmente quando me deparo com algum comentário de algum leitor que está acompanhando a saga do Percy Jackson. Os comentários são sempre os mais animados e divertidos, e por isso, já que esse último ainda não possui nenhuma continuação, decidi que seria por ele que eu iniciaria. Mas, acho que essa não foi uma boa escolha.
?A Filha das Profundezas?, de Rick Riordan, foi publicado este ano, e teve como inspiração ?Vinte mil léguas submarinas?, do autor Júlio Verne. Como não li o livro, nem mesmo me recordo de já ter assistido à adaptação para filme, feita pela Disney, não vou entrar muito nesse mérito sobre o quanto essa história traz daquela que a inspirou.
Muito embora o livro tenha uma classificação infanto-juvenil, confesso que sua linguagem é bem mais infanto, do que juvenil. O livro tem uma linguagem simples, com uma trama sem grandes reviravoltas, ou grandes dramas. De fato, ela é um mergulho em um mundo de faz de conta.
A protagonista, Ana Dukkar, é uma garota de quase 15 anos, mas que não se parece muito com uma adolescente. Ela é o típico clichê do protagonista que se descobre a grande salvadora do mundo. Porém, tenho que confessar que não vi nada de especial nela.
Além disso, Ana é um bom exemplo da diferença entre o líder e o chefe: enquanto o líder seleciona cada um dos membros da sua equipe, atribuindo-lhes tarefas e responsabilidades conforme suas habilidades e competências, o chefe é aquele que comanda a equipe através de ordens, que devem ser expressamente seguidas. Ana era a capitã?a chefe da tripulação.
Confesso que não vi muita habilidade de planejamento em Ana. As ações da protagonista foram tão simples, tão corriqueiras, que não houve nada que eu tenha lido que tenha me surpreendido. Aliás, até as reviravoltas foam muito previsíveis!
Eu descreveria a Ana como aquele personagem com ?Síndrome de Hardy?. Conhece esse personagem dos criadores Hanna-Barbera, que estava sempre dizendo: ?Ó vida. Ó céus. Ó azar?? Nada muito diferente da Ana que passava o tempo se perguntando: ?Por que eu? Por que agora?? Ela se lamentava tanto, que não me conquistou.
Para ser sincera, acho que a única personagem que me ganhou, foi a brasileira Nelinha da Silva. Apesar de não ter tido muito destaque, foi a única que realmente me pareceu ter algum tipo de carisma.
Agora? uma personagem que me incomodou muito foi a Ester, uma das amigas da Ana, que foi descrita como alguém que apresentava Transtorno do Espectro Autista. Não quero desmerecer o brilhantismo do autor, mas como sou psicóloga eu tenho propriedade para dizer que a Ester mais parecia com a personagem Marcie, a amiguinha da Patty Pimentinha da Turma do Snoopy, do que uma garota com autismo.
Outra situação que também me incomodou bastante, foi o autor ter caracterizado a personagem brasileira dentro do estereótipo da pessoa pobre, que mora em uma favela no Rio. Achei tão sem função. Uma visão tão pobre do nosso país. Enfim... desnecessário, né Rick?
Enfim, não foi muito o meu tipo de leitura. Eu até gosto de livros infantis, mas prefiro os que possuem uma moral da história, sabe? Aqueles com uma mensagem no final sobre algo: amizade, identidade, crescimento... Esse, eu confesso, não me trouxe nenhuma mensagem final. Foi um livro de muita criatividade, uma aventura até bonitinha, mas é só.
Sei que as minhas impressões não foram as melhores. Mas se você olhar as outras resenhas, de pessoas que já conhecem bem mais da escrita do Rick Riordan, vai ver que elas adoraram! Então, se você gosta de histórias do fundo do mar, e é fã do Tio Rick, espero que esqueça tudo o que leu aqui (se já leu!), e vá se divertir com a Ana e seus amigos.