spoiler visualizarWinx_stella 03/04/2024
Nos deixem em paz.
Quando peguei para ler esse livro alguns dias atrás, o julguei instantaneamente.
Não sendo o meu tipo de leitura, eu simplesmente imaginei que o largaria antes do desenvolver da história, e no começo realmente não achei que seria tão revelador; eu não poderia estar mais enganada.
"Antes que você saiba meu nome" é com certeza um dos melhores livros que já li, no início imaginei que seria apenas mais um livro sobre um assassinato, não; este livro não é sobre o crime cometido contra a jovem Alice Lee, ele não é sobre seu assassinato monstruoso ou quem o cometeu. Ele é sobre ela, sobre sua história e sua verdade, em certa medida, esse livro não é sobre o presente ou o futuro, mas sobre o passado.
Alice Lee é uma jovem problemática que nunca pôde confiar em ninguém em sua curta vida, mas sempre teve o desejo ardente de viver no mundo; e no momento que ela o tem na ponta de seus dedos, ela é morta.
Essa história não retrata um romance típico de adolescentes problemáticos, essa história conta a vida tão cedo findada de Alice, conta tudo o que ela passou para chegar até aquele momento e nos mostra, quase através de uma cortina do universo, o que ela poderia ter sido, aonde ela poderia ter chegado.
Nesse sentido, a jovem não é apenas uma menina morta, ela é alguém, ela quer que todos saibam seu nome e sua história, ela não quer ser mais uma na pilha de ossos que todos aqueles homens deixaram para trás; ela não quer ser uma manchete esquecida, quer ser uma pessoa de verdade que existiu de verdade e foi assassinada. Ela não quer que lembrem do seu assassino, quer que lembrem dela, como ela era, não como ele quis que ela fosse.
A todo momento no livro, quando descobri sua história, me peguei pensando: "por que você foi ao parque vazio tão cedo?",
"por que não foi mais educada se sabia que ele era perigoso??, ?Por que não fugiu antes?", "por que não gritou?", etc. Então eu percebi, por que estava questionamento a vítima invés do algoz?
Por que eu a estava julgando quando as perguntas que deveria estar fazendo são:
"por que você a matou?", "por que você bateu nela?", "por que você não a deixou em paz?". Nessa história sempre devemos lembrar de quem é a culpa, e nos questionar toda hora: por que temos que sorrir para estranhos? Por que temos que ser gentis a todo momento? Por que precisamos ser graciosas e legais com todos? Por que não podemos dizer não?
Por que é mais fácil ficar desconfortável?
Por que temos que olhar para todos os lados em uma noite escura e apertar o passo? Por que temos que nos antecipar a cada instante? Por que temos que desconfiar de TODOS os homens, até os de nossas famílias? Por que não somos deixadas em paz? Para essa pergunta eu tenho a resposta: porque seremos perseguidas, assassinadas e encontradas na beira de um rio sem nossas roupas e sem um nome. Só mais ossos para uma antiga pilha.
Esse livro retrata muitas coisas, uma delas é a linha tênue entre um evento e outro, uma coisa horrível que aconteceu e que, caso uma borboleta houvesse batido as asas ou uma corredora houvesse chegado mais cedo no parque, poderia não ter acontecido. A todo instante Alice confronta essas realidades paralelas, ansiando um futuro e sabendo que não o teria, ela se agarra ao passado e tenta fazer-nos lembrar dele a todo custo.
Alice Lee. 18 anos. 1,65. 56 kg. Uma mulher. Uma promessa. Uma vítima. Mas não a última.
Quantas Alices Lee existem no mundo?
Quantas jovens morreram e nunca serão lembradas pelo que fizeram ou queriam, e sim por seus destroços deixados ou seu assassino que recebeu uma série ou um filme? Quando a vítima ganha notoriedade? Quando ela ganha um nome?
Nós só queremos viver. Nos deixem em paz.