Juni 18/01/2022
E lá vamos nós...
Como não tinha visto o hype ao redor desse livro quando peguei ele para ler, minhas expectativas foram informadas apenas pela sinopse e apesar de não serem altas o que encontrei foi extremamente desapontador. E mesmo que em diversos momentos minha vontade era de apenas largar esse livro de vez e nunca mais voltar, eu continuei na esperança que alguma coisa ali ia compensar, algum momento seria tão bom que ia equilibrar com o resto. E, como sinto que já dá para ver pela nota, esse momento nunca chegou.
Eu tenho muitos sentimentos e vou tentar expressá-los de uma forma coerente e explicada, mas já peço desculpas adiantadas pelo tamanho do textão que está por vir.
- Escrita
Entre as resenhas que passei já vi o estilo de escrita ser chamado de todo tipo de coisa e não concordo com a maioria. No início da leitura senti um desconforto que não sabia apontar, mas que ficou mais claro a cada página passada. Essa prosa não é floreada, essa prosa não é poética, ela é rasa. Rasa, seca e simples. Com algumas frases mais profundas e palavras mais bonitas salpicadas para parecer algo que não era, fingir uma profundidade que não existia. As descrições eram inconsistentes, variando do nada para o mínimo possível para se ter uma ideia. Conseguia ter uma ideia? Claro, mas usando a minha biblioteca mental. Se o prédio era descrito apenas como um castelo eu me lembrava de como castelos são, conseguia pensar em uma aproximação da ideia genérica de “castelo”, mas não como >aquele< castelo específico se parecia.
Outro problema que isso cria foi com os sentimentos dos personagens, em vários momentos a narração me disse que o protagonista e outras pessoas sentiam coisas, várias coisas! Amor, luto, ódio, arrependimento,... Gente como a gente com vários sentimentos. Mas em momento algum me fazia sentir aquilo. Eu não sentia a emoção que a narração me dizia que deveria estar lá, não sentia na narração, nas falas dos personagens, nas ações deles, em nada. Eu posso simplesmente narrar “Cleiton estava triste e começou a chorar”, indiquei que ele estava triste e o fiz tomar uma ação associada a tristeza, mas não estou passando esse sentimento adiante.
Os personagens e romance foram outros que também sofreram com isso, mas vou tratar sobre isso nas próximas divisões.
(Além de uma mania de sempre ter que usar um substantivo para chamar todos os personagens que acaba com os nomes deles e palavras como “garoto” e “garotinho” sendo repetidas constantemente)
- História
O que começou com uma premissa interessante e que ativou minha curiosidade rapidamente se provou entediante, inconsistente e sem graça. A história parecia oscilar entre se queria que fosse algo sobre viagem no tempo ou se queria um livro mágico que recria as memórias de alguém (minha conclusão é que é o segundo), toda hora mudando em como descrevia o que realmente estava acontecendo. Em alguns momentos o personagem estava fisicamente como um fantasma dentro do passado, em outros estava visualizando o que aconteceu enquanto lia o livro sem sair do presente enquanto em outros o processo é descrito como as memórias sendo recriadas pelas sombras.
Mas se fosse só isso não seria tão ruim, não, a história que essa moldura narrativa é usada para contar é chata. Não que eu ache que em conceito não funcionaria, mas ele foi mal executado. Cenas se estendem de forma desinteressante, coisas eram ditas como se já tivessem acontecido algumas vezes sendo que nunca foram mencionadas antes, em alguns momentos apenas parecendo que foram só costuradas juntas, a progressão é inconsistente com coisas que não importam tomando mais tempo que as que importam. Até mesmo o cachorro que é dito como tão importante para um deles apenas some sem explicação e ninguém se importar por uns 25% do livro só para ter uma frase falando dele no fim. Alguns momentos não pareciam ter cuidado de porque aquilo estava sendo falado para aquela pessoa e o sentido que aquilo faria (meu momento favorito disso foi um personagem inglês que viveu a segunda guerra mundial, mandando uma carta para outro personagem inglês que viveu a segunda guerra mundial com um resumo de wikipedia do que foi o blitz alemão para contextualizar ele, que viveu aquilo, nos horrores da guerra numa forma de contextualizar o leitor).
Assim como os sentimentos dos personagens são apenas ditos para quem está lendo, vários detalhes da história são entregues assim, um parágrafo direto e sem sal falando sobre o que alguém fazia, o que algo era, o que aconteceu, etc.
As histórias do passado? Conseguiram ser mais rasas e arrastadas ainda que a atual deles.
E, olha, eu não sou o tipo de pessoa que liga para consistência histórica, não sei quase nada sobre diferentes eras e décadas além de curiosidade aleatórias, mas essa foi meio difícil de descer. Não sei explicar o porquê, nem o que não encaixava e encaixava, só que não conseguia me imergir o suficiente para acreditar em qualquer uma das épocas (tanto 1830, como as décadas de 40, 50 e 60), isso quando eram momentos com coisas que definitivamente não aconteceriam.
Falando em fim finalmente é o momento de falar dele e, desculpe-me a linguagem, ai santo deus.
Quando eu digo que esse fim foi sem graça, é porque foi. Dolorosamente sem graça. O “vilão” apesar de ser constantemente tratado como poderoso e assustador (novamente algo que o livro diz, mas não demonstra) foi estupidamente fácil de derrotar.
No fim as ações dos personagens que eram tratadas como algo que teria consequências não tiveram repercussão nenhuma e o “vilão” foi derrotado mais fácil e rápido que um vilão de desenho animado que recebe seu fim gritando um “NÃÃÃOOO COMO OUSAM” indignado (e que consegue ser mil vezes mais interessante só por ter uma reação).
- Personagens e Romance
Os personagens não eram personagens, eram nomes com uma ou duas características atreladas para dizer que tinha algo ali que era difícil saber até mesmo a idade.
Em alguns momentos Atlas é descrito como um garotinho e é infantilizado, em outros é competente e trabalhador, independente, em outros um adolescente brincalhão e impulsivo. No fim Atlas é frustrante e chato. O livro tenta, ah como tenta, nos convencer que tem mais para ele, que tem algo sombrio atrelado a esse garoto, um ódio profundo e uma predisposição ao caos, alguém que vai ser decisivo no destino… Na prática, o que temos é o livro, novamente, nos contando essas coisas e em nenhum momento parando para dar essa complexidade para ele.
O mesmo acontece com o romance. O livro grita: “Eles se amam! Acredite!”
Porque foi narrado que eles se amam o que mais precisa, não é mesmo?
E depois de cenas e cenas e cenas entediantes de casal, cenários que derreteria de fofura se estivesse investida no casal, ainda não sinto esse amor. O que sinto é obsessão, obsessão e codependência.
Poderia falar do interesse romântico de Atlas, poderia falar dos personagens menores, mas pra que? Também falharam em me cativar, também falharam em parecer personagens.
- Mensagens
Além de tudo isso, o livro tenta passar mensagens para o leitor, mas como já foi tendência com o resto tudo: Não foi bem feito.
A primeira mensagem que ficou aparente era sobre a magia dos livros e de ler. Ler é ótimo, concordo, mas… Como posso dizer isso? Foi entregue de um jeito tosco. Seria adorável uma história de um garoto redescobrindo a magia da leitura depois de muito tempo e com um resumo da história até ache que é isso, mas na prática Atlas decide que não gosta mais de livros quando algo ruim acontece e depois decide que voltou a gostar quando um garoto bonito insiste um pouquinho, com alguns discursos sobre como ler é ótimo jogados no meio.
A outra mensagem foi contra a homofobia e, surpresa, essa também foi tosca! Mas dessa vez com direito a lacres e um momento que me fez gargalhar que tão ridículo (se não quer um spoiler pule esse parêntese: o fato que um livro mágico é homofobico é a coisa mais engraçada que já li na vida, eu gargalhei nessa hora)
Conclusão:
Tive azar na escolha do primeiro livro para ler no ano e desgostei da experiência, sendo tão frustrantes que escrevi um testão de resenha. Realmente tinha como sair algo legal, mas foi mal executado deixando tudo maçante e raso.
Ps.: Se não concorda está livre para ter a própria opinião e essa é a minha. E eu sei que o autor é iniciante, mas essa resenha é para outros leitores (seja para dar catarse a um que concorda, se um aviso para alguém procurando perspectivas diferentes antes de ler ou alguém só curioso das diferentes experiências)