Mar 04/11/2021
Uma música que não vai ficar na memória
"Razoável". Este é o adjetivo atrelado à nota 2 estrelas, e esse é o adjetivo ideal para Amor, Mentiras & Rock & Roll. A única coisa que resgata a obra de um "Ruim" é que Yoon parece ser sincero no que escreve, ainda que o que escreva seja um festival de cinismo calculado e moralismos plácidos.
"Eu nunca tinha sido convidado para uma tradicional festa americana (...). Aquele fenômeno ocorria apenas em programas de televisão insípidos (...) ansiosos para ganhar dinheiro em cima da audiência de jovens adultos.", narra o protagonista, Sunny Dae, na página 237. Sunny também nos conta de sua escola, onde há bullys, meninas bonitas, e todos os outros grupos batidos imagináveis. Sunny se enquadra nos nerds, e sofre, e julga.
Irônico é, porém, que a narrativa de Sunny são as palavras de Yoon. Sua escrita, e sua mensagem. E ao criticar os programas televisivos sem conteúdo, simula-os com perfeição e espontaneidade em seu livro. Amor, Mentiras e Rock & Roll se passa em 2020, fazendo referências à febre de K-pop e até o filme Parasita, mas em suas páginas adolescentes com smartphones odeiam nerds que jogam D&D e acham camisetas de gola V do Linkin Park maneiras. Yoon se perde completamente no mundo que se propõe a apresentar, desconexo e desajeitado, projetando clichês e experiências de suas décadas à um futuro que não entende.
Em meio à esses furos, Yoon tenta construir uma mensagem sobre vergonha, identidade e o poder de outres sobre nós mesmes, uma mensagem bloqueada pelos pensamentos ácidos e cínicos de seu protagonista. À princípio ditos um escudo desenvolvido para se proteger do mundo que o julga, Sunny Dae nunca realmente derruba esse escudo, passando a maior parte das páginas narrando colegas e outres como mais idiotas e menos uniques que ele, uma manada que não vale seu tempo e o aterroriza. Yoon nunca alcança realmente o equilíbrio entre arrogância e medo com Sunny, criando um protagonista que antes de mais nada, é apenas chato.
E para se apaixonar por um chato, precisamos de um interesse romântico que não veja seus defeitos. Cirrus Soh, a menina bonita e estrangeira, é um vazio em formato de Sunny. Vazia tanto que Yoon nem mesmo se preocupa em mobiliar seu quarto; num momento que deveria ser terno, Cirrus levanta uma lata com pequenas preciosidades e diz que a lata é ela, e é. Porque Cirrus é um abstrato de sentimentos, uma criativa sem foco que gruda em Sunny porque assim a história exige, sem nunca se destacar ou definir.
Apesar de uma sinergia tropeçada entre o casal que sucede pouco em fazer com que Sunny pense mais em quem é, e Cirrus seja mais sincera, todos seus diálogos são jargões antinaturais de revolta adolescente, conectados por tudo que odeiam e nada do que amam. E é assim, também, que Yoon acaba definindo o rock em uma página - todos os outros gêneros musicais são ruins, e só resta o rock. A crítica à tudo e todes pinta Cirrus e Sunny com a conhecida cor de adolescente revoltado, e um enorme sinal se lê sobre elus: "É assim que adolescentes falam?"
A maior ressalva é o irmão de Sunny, Gray. Um aspirante à músico profissional em um período de falha, Gray fornece para Sunny um relacionamento real e visceral, uma relação de amor e ódio de irmãos que sustenta a fraca mensagem da história, entre as frustrações e sensatez de Gray e seu amor e inveja que sente de Sunny. Poderia talvez mencionar os amigos de Sunny, também, Jamal e Milo, mas assim como Cirrus, são delegados à concordar e sorrir quando Sunny precisa de apoio, e ficar bravos quando ele precisa de uma lição. O laço dos três é bonito, sim, e uma das fundações da moral de Yoon; mas se perde no rapidamente no egoísmo de Sunny.
Em meio à julgamentos vazios e cinismo destilado, Amor, Mentiras e Rock & Roll perde sua essência aparente, afogando sua mensagem de viver a vida livremente e com orgulho em relações robóticas e tanto ácido calculado que é impossível distinguir sinceridade de comédia, efetivamente resultando em uma obra sem identidade alguma.