jota 26/12/2022MUITO BOM: vários textos notáveis de Hermann Hesse, com quem sempre passamos bons momentos, aprendemos alguma coisa Lido entre 05 e 25 de dezembro de 2022.
Estava vendo e vi que 2022 foi o ano em que mais li Hermann Hesse (1877-1962), quatro livros no total: Francisco de Assis (1904), Peter Camenzind (1904), O Último Verão de Klingsor (1919) e agora essa coletânea com 22 textos, O Lobo e Outros Contos. São histórias publicadas entre 1903 e 1948 e reunidas em 2001 para uma editora de Frankfurt por Volker Michels, especialista na obra de Hesse. O posfácio é do próprio Michels, Os Contos de Hermann Hesse, e nele não apenas é feito o elogio do autor, destacadas suas qualidades e importância literária, também são apresentadas notas sobre Hesse e sua obra, como cada texto é ligeiramente resumido ou explicado, o que é muito útil para o leitor que pela primeira vez tem em mãos um livro do grande autor alemão (naturalizado suíço em 1923).
Gostaria de registrar que nem todos os textos são exatamente contos, como é o caso flagrante de Meditação (1918-9), que está mais para uma reflexão de Hesse, um balanço acerca de sua vida aos quarenta anos, do que outra coisa. Da mesma forma, não são contos, mas novelas, as três histórias publicadas em 1919, Alma de Criança, Klein e Wagner e O Último Verão de Klingsor, reunidos também num volume único com esse último título. De todo modo, Michaels tentou dar uma ideia do desenvolvimento da literatura de Hesse partindo de um texto mais antigo, O Lobo (1903) até um mais recente, O Mendigo (1948), mostrando que em todos eles, de um modo ou de outro, quase sempre há algum elemento biográfico presente ou algo, alguma ideia que depois será desenvolvida, aparecerá numa outra obra do autor.
Nem todas as histórias são profundamente interessantes, gosta-se mais de umas do que de outras, e tenho para mim que as que certamente permanecerão mais tempo em minha memória são as seguintes: O Lobo (1903), história baseada num acontecimento verídico; O Fim do Dr. Knölge (1910), sobre um vegetarista alemão e seu fim, um texto que chega até a ser meio humorístico; O Padre Mathias (1910), texto longo dividido em seis partes, que narra a vida dupla que levava um frade, dividido entre religião e diversão; e Alma de Criança (1919), que narra um roubo feito por um menino de doze anos (talvez o próprio autor), depois a culpa e a angústia decorrentes desse ato. Mas é claro que nas demais narrativas também sempre há algo curioso ou notável, uma palavra, uma frase, um parágrafo, uma ideia, um pensamento a se destacar. Porque estamos lendo não qualquer autor, mas Hermann Hesse. E como diz Volker Michaels, “Há livros cuja leitura é trabalho e rouba forças, e outros, muito poucos, que possibilitam repouso e regeneração ao leitor, sem que ele precise fazer concessões a modas e gosto editorial.” Assim são as obras de Hesse, assim é O Lobo e Outros Contos.