Brilliant0 14/05/2023
A escrita de Marian Keyes mudou, mas será que nosso olhar leitor não mudou também?
Sou leitor de Marian Keyes desde 2006, quando comecei a ler seus livros, conforme meu salário permitia.
Li "Melancia", "Férias", "Casório?!" etc, cada qual com temas muito próprios: abuso de substâncias, divórcio, luto, e ler "Adultos" com idade 30+, me fez notar o quanto levamos dentro de nós tudo que nos torna adultos de fato: amontoados de vivências boas e/ou traumáticas.
Confesso que demorei pra finalizar a leitura, diferente dos outros livros de Marian, que sempre devorei. Nada sobre a lentidão deste processo tem a ver com alguma baixa na qualidade de escrita: sempre no ponto. Tem a ver com a realidade adulta diferente da de adolescente, mas a influência maior no ritmo de leitura foi o medo de encarar, a cada página, tantas realidades que podem ser (e algumas são) parecidas com as minhas. Encarar temas de gente grande sendo uma demanda coragem.
Vejo alguns leitores dizendo que a escrita de Marian mudou muito depois de sua depressão, mas será que nosso olhar leitor não mudou também?
Quando paro pra pensar nas problemáticas vividas por Lucy Sullivan em "Casório?!", meu favorito da autora, ainda vejo muitas delas em "Adultos", porém de outra perspectiva: "Casório?!" tem sérios problemas com falas gordofóbicas, mas o mundo é gordofóbico até hoje. Cara, uma personagem de "Adultos" é reflexo dessa sociedade, e sofre com o transtorno alimentar da bulimia. Se a narração de "Casório?!" fosse do ponto de vista de quem sofria com a gordofobia, será que não teríamos ali uma protagonista bulímica também?
Os pontos altos de "Adultos" são os personagens: dolorosamente reais. Além de Cara, Jessie e Nell - as mulheres cheias de nuances que os romances de Marian têm -, encontrei o personagem masculino que mais gostei em suas obras: Ferdia. Mas pra não dar um super spoiler nem de "Adultos", nem de "Casório?!", vou deixar assim: o Juh adolescente que torcia para o boêmio Gus, paixão de Lucy, ser quem a levaria ao altar, se tornou adulto, que torceria para alguém como Ferd - e que a avisaria para que fosse mais gentil consigo e com as pessoas ao seu redor.
Resenha por Juh Brilliant, autor dos livros "O Menino das Meias" e "BRILHANTE?!" 🧦✨
site: https://www.instagram.com/juh_brilliant/