Carla.Parreira 20/01/2024
A arte de se agradar: Como parar de agradar só aos outros e transformar a sua vida (Emma Reed Turrell). Melhores trechos: "...Simbiótico e codependente são termos que ouvimos muito sobre relacionamentos de pessoas que buscam agradar. Na natureza, a simbiose é a interdependência mutuamente benéfica entre dois organismos. Na psicologia, significa depender de maneira pouco saudável de outra pessoa para que ela nos proporcione recursos vitais. Não a comida e o abrigo de que precisávamos como bebês, mas a estrutura emocional que podemos buscar na vida adulta quando não aprendemos a dar isso a nós mesmos... Estamos tão acostumados a ignorar nossas próprias necessidades e a resolver os sentimentos dos outros que esquecemos que podemos encerrar amizades que não funcionam mais para nós, a fim de criar espaço para outras que funcionem. Estamos tão ocupados tentando fazer com que os outros gostem de nós que nos esquecemos de nos perguntar se nós gostamos deles... O que sentimos no presente não é apenas dor; suas raízes estarão em uma dor que já sentimos antes. Quando os humanos se juntam para formar qualquer grupo, seja uma amizade, um clube esportivo ou uma equipe de trabalho, primeiro recriamos uma imagem de nosso primeiro grupo — nossa família de origem. Não é uma decisão consciente, mas usamos isso para descobrir que papel cada um de nós vai interpretar e como vamos interagir. É uma ferramenta inteligente da evolução humana: prever nossos amigos e inimigos e nos ajustar de acordo com isso. Claro, quando descobrimos quem uma pessoa é para nós — se, por exemplo, ela nos lembra nossa irmã ou nosso pai —, podemos também nutrir uma esperança inconsciente de que ela possa, no fundo, ser uma boa irmã ou um bom pai, ou seja, a pessoa que preencha o que faltava em nossa relação original. Que corrija os erros originais... Se uma amizade não nos permite sermos nós mesmos ou não nos ajuda a crescer, nunca foi uma amizade de verdade... É preciso generosidade para soltar a corda. Quando conseguimos nos abrir para a possibilidade de que nosso parceiro não puxa a outra ponta para nos controlar ou nos derrotar, mas sim para se manter firme em seu próprio condicionamento, podemos nos oferecer para soltar nossa ponta da corda primeiro, a fim de eliminar a resistência e descobrir o que surge no lugar dela. Se você ainda não chegou a uma resolução, pode ser necessário tempo para soltar de vez; e todos precisamos de um pouco de paciência para ter certeza. Dialogar com generosidade não significa reproduzir estratégias de agradar ao outro. Significa disposição para ouvir as necessidades e os sentimentos genuínos de seu parceiro em vez de atender apenas às necessidades dele que você ou deseja atender, ou sabe como atender ou pode querer em troca. Essas são as estratégias limitadas da criança que busca agradar, e não o caminho para um vínculo adulto, honesto e íntimo. Descubra a verdade sobre quem é o outro, o que ele quer e se você é compatível, em vez de tentar transformá-lo em alguém a quem você pode agradar ou se transformar em alguém que pode agradá-lo... Quando os esforços para agradar não são reconhecidos ou correspondidos, em geral uma das partes — ou ambas —sente raiva e retira sua contribuição da mesa. Esses são os casais que pararam de dar algo um ao outro por sentirem que não estavam recebendo nada em troca. Casais que pararam de ouvir por não se sentirem ouvidos... A questão não é apenas saber o que queremos, é também entender por quê. Se conseguirmos nos desprender do conteúdo de nossa queixa, podemos olhar para o signidicado que associamos a ela e nos dedicar a uma resolução sincera dos problemas. Se conseguirmos entender por que isso importa para cada um de nós, podemos parar de defender nosso ponto de vista singular e sentir empatia e compaixão para aceitar que nossa verdade não é necessariamente a única. Se conseguirmos aceitar radicalmente o ponto de vista do outro por um momento, podemos buscar o fundo de verdade nele e nos assegurarmos de que ele fará o mesmo por nós. Assim que nos oferecermos para aceitar que há validade e boas intenções no ponto de vista do outro, nosso sistema nervoso pode deixar de lado a reação de lutar ou fugir e podemos voltar a pensar de forma racional, buscando soluções criativas e agindo de maneira colaborativa, agora com dois fundos de verdade para seguir em frente e boa vontade mútua para chegar a um meio-termo... Como alguém que busca sempre agradar, pode ser que você venda uma boa impressão no começo do relacionamento, compromete-se a agradar, mas está fadado a desapontar. Na tentativa de agradar (ou não desagradar) a um parceiro, você não conta como realmente se sente. Deixa as coisas rolarem fingindo ser quem você acha que ele deseja que você seja — até o dia em que não consegue mais. Ele termina a relação quando vê seu verdadeiro eu, ou você termina quando nota isso em você mesmo e não consegue ser a pessoa que se dispôs a ser. Quando resolve se esforçar mais ou ser menos exigente da próxima vez, você se dispõe novamente a ser a pessoa que acredita que deveria ser, em vez de ser quem você é, e o ciclo recomeça... Tentar evitar os relacionamentos disfuncionais que presenciou na infância pode levar você a uma hipercorreção. Em vez disso, vá atrás do que deseja, e assim poderá ir ao encontro de relacionamentos saudáveis. Algumas dessas pessoas que buscam sempre agradar nunca descobrem que poderiam ter vivido o que desejavam se tivessem simplesmente pedido. Ou se tivessem parado de se esforçar tanto para ter um 'bom' relacionamento e, em vez disso, tivessem vivido um relacionamento real. Talvez o que você queria já estivesse lá, à sua disposição. Incapaz de aceitar que você é desejável ou de confiar que é digno de amor, você inconscientemente sabota seus relacionamentos com sua carência e os conduz à inevitável e decepcionante conclusão que sempre imagina. Você assimila a mensagem de que fracassou de novo de alguma forma, de que não agradou ao outro ou não foi bom o bastante; e com isso passa por mais uma experiência que reforça sua sensação de inadequação, levando-a para o próximo relacionamento e incorporando-a nessa trajetória rumo a mais uma decepção futura... Ninguém falou aos agradadores que eles são responsáveis por apenas cinquenta por cento, por metade da relação. Os outros cinquenta por cento dependem de como a pessoa recebe o nosso 'não', e não podemos nos responsabilizar por isso... Às vezes, agradar a si mesmo significa fazer uma escolha que incomoda os outros. Para um agradador, isso pode gerar sentimentos avassaladores de culpa. A culpa é um sentimento natural, destinado a nos alertar quando fazemos algo errado. Se fizemos, então é bastante simples; a ação que precisamos tomar é reparar o mal, pedir desculpas ou corrigir o erro. Contudo, e se nossa atitude não é errada? E quem é que decide se ela é ou não errada? Talvez sejamos apenas culpados do crime de sermos nós mesmos, de termos uma opinião diferente ou uma necessidade diferente da do outro. Chatear uma pessoa de maneira intencional ou descuidada é errado, mas chatear uma pessoa por querer algo diferente dela não é... A raiva é o sentimento saudável de que precisamos para reafirmar nosso limite e para devolver à outra pessoa a responsabilidade por essa necessidade. Culpa é um sentimento paralisante quando não está fundamentada em um ato culpado, em um ato que nossa própria moral julgue inaceitável. É o disparo em falso de um sentimento e não temos como fazer nada em relação a ele. É importante manter nossa bússola moral e nos responsabilizarmos quando cabível. Devemos fazer reparações quando nos encontramos na origem de uma ruptura, mas não temos como emendar uma ruptura que não criamos... Se os agradadores se sentem ansiosos e por isso olham as redes sociais, ou se olham as redes sociais e por isso se sentem ansiosos, os efeitos parecem ser correlatos. Recorrer às redes sociais pode fazer você se sentir mal, e se sentir mal pode fazer você recorrer às redes sociais... Não é indelicado recusar o 'amor' de alguém que o oferece de forma manipuladora, controladora ou com segundas intenções — trata-se de uma questão de autopreservação, e é vital para agradar a si mesma... Um stalker pode até achar que as ações dele são movidas por amor. Uma paciente há pouco tempo me contou que vivera uma situação de violência doméstica porque, 'nos momentos em que é bonzinho, ele é maravilhoso e me coloca em um pedestal'. Não é no pedestal que você deve querer estar... Lena nunca quis chatear ou irritar um homem porque, de certa forma, achava que ele poderia atacá-la... A raiva é a energia transformadora que vai ajudar você a parar de agradar às outras pessoas e começar a agradar a si mesma... Existe um vasto espectro de relacionamentos disfuncionais. Em uma ponta, há o amigo carente que manda mensagens todo dia. Como isso às vezes esgota, você pode adiar os encontros e arranjar formas criativas de ajudá-lo a se sentir amado de longe. As demandas dele podem ser exaustivas, mas, em termos gerais, ele não é mal-intencionado. Na outra ponta do espectro está a manipulação mais patológica: pessoas que coagem alguém a se comportar de maneiras que sirvam aos interesses delas. Isso pode acontecer em amizades, mas penso como é particularmente perigoso quando se trata de relacionamentos amorosos. Relacionamentos em que as mulheres passam por um inferno e chamam isso de amor... Ao contrário do que podem ter lhe sido ensinado na infância, a vulnerabilidade não o torna indigno de amor, mas suas defesas sim... Os agradadores podem ser muito irritantes em relacionamentos. Claro, às vezes pode ser bom estar com alguém que parece atencioso e generoso, flexível e modesto. Contudo, na maior parte do tempo, existe uma troca inconsciente sendo feita. Se você é o lado que recebe, deve aceitar os agrados do outro e tranquilizar a pessoa com a garantia de que ela é corretamente altruísta, deve elogiá-la pela subserviência e ser grato por tanta dedicação... Se um agradador conseguir ser honesto consigo mesmo, vai reconhecer que não faz isso pelo outro, mas sim para remediar a própria insegurança. No fundo, é uma atitude egoísta enfeitada com um laço altruísta, e é garantia de acabar irritando as pessoas. Tentar agradar a todos, na verdade, não agrada a ninguém, e perceber isso pode nos ajudar a nos permitir parar de agir dessa maneira. Na melhor das hipóteses, isso pode ser irritante, e na pior é desrespeitoso e traiçoeiro quando agimos deixando o outro em uma posição que é confortável para nós... Para um agradador, não é comum prestar atenção nos próprios sentimentos. É seu papel prestar atenção nos sentimentos dos outros, fazer com que os outros sejam felizes e tratar a dor dos outros. Se você tiver sorte, seus esforços de agradar serão recompensados pela reação positiva deles a você e, ao menos por um tempo, você pode se sentir aceitável graças a isso. Quando um agradador não consegue ser agradável o bastante ou passa por uma dificuldade ou necessidade própria, sua programação original de priorizar os outros o impede de pedir ajuda, o que pode resultar em ansiedade ou depressão... A depressão não é o mesmo que se sentir triste. Seria mais verdadeiro dizer que é não sentir nada. É o ato inconsciente de deprimir todos os sentimentos até restar um descampado plano e estéril onde antes havia alegria e motivação. A depressão costuma ser o resultado da supressão inconsciente do luto, da raiva ou do medo, sentimentos que poderiam ameaçar derrubar o agradador se ele lhes dedicasse total atenção. Sentimentos que arriscam deixá-lo incapaz de agir ou interagir como pensa que deveria, falhando assim em suas regras de agradador e tornando-o rejeitado por aqueles a quem deve agradar... Aceitar ou elogiar todos os comportamentos de um agradador vai reforçar que é isso que você espera da pessoa, mesmo quando não é isso o que você quer, e vai levá-la a manter uma pose que ela acredita ser fundamental para a relação..."