spoiler visualizarJúlia 01/01/2024
O peso e a redenção
Livro pesado de ler, com o mérito de traduzir com precisão alguns sentimentos e sensações desconfortáveis que algumas pessoas sentem mais, outras menos. A timidez, a dor da perda, a auto-tortura, a insegurança, a contradição de querer e afastar o que se quer, são alguns exemplos.
Há também momentos de esperança, raros, em frequência que parece combinar com a situação dura e a personalidade da mulher que vive essa história. Quanto à sua personalidade, creio que justamente o que mais me incomodou na leitura foi a dificuldade dessa mulher em apontar alguma qualidade sua, em perceber suas forças, em cuidar de si. Em contraste, responde frequentemente a si mesma com frases auto-depreciativas, trata-se como adultos que são muito duros com as suas crianças.
Assim, o livro representou para mim o retrato de uma dor necessária, que acomete qualquer um que perca um grande amor, seja por traição ou por morte, ou pelas duas coisas juntas; e o retrato de uma mulher que custa a acolher sua parcela humana, suas emoções indesejadas. E a grande redenção do livro é quando ela pode finalmente voltar para si, se acolher, se dar uma nova chance.
Destaco duas passagens agridoces do livro, que amalgamam a sua maneira luto, amor e esperança. Frases que me tocaram, e faço um pouco minhas:
“Fazer com que ela se cale é virar a página e ter coragem de deixar para trás o seu passado, e eu amo esse passado, amo como se amam as coisas mais escuras e secretas.”
“Ir embora requer uma liturgia que ajuda a transformar os finais em novos começos.”