Resenhas - Um Circo Que Passa

jota 12/07/2023

BOM: Conhecendo Modiano, lembrando Paris...
Lido entre 02 e 11 de julho de 2023. Avaliação da leitura: 3,5/5,0.

O circo do título tem a ver com a personagem que diz se chamar Gisèle - porque também pode ser que se chame verdadeiramente Suzanne, como diz um personagem secundário a certa altura da narrativa, informando ao narrador que ele pode estar envolvido com uma falsária. O ex-marido de Gisèle é proprietário de um circo itinerante, um circo que em si mesmo não tem papel relevante nessa história.

É dessa jovem envolvida em algum mistério que o narrador Obligado, ou Jean, se recorda em suas memórias dos anos 1960. São lembranças do tempo em que ele tinha apenas dezoito anos e com Gisèle, três anos mais velha, viveu em Paris por poucos dias um episódio estranho ou misterioso, povoado de vários outros personagens dos anos de sua adolescência - ou da adolescência do autor, Patrick Modiano, que nasceu em 1945.

As andanças do casal por Paris, que se conheceu numa delegacia de polícia - ela lhe pede um favor e tudo começa aí -, dá à narrativa certos momentos digamos assim, kafkanianos, porque parece que eles estão sempre prestes a cair nalguma armadilha preparada pelos outros personagens, não se sabe direito. Bem, essa é a primeira vez que leio o autor premiado com o Nobel de literatura de 2014 e mesmo não tendo apreciado tanto assim o romance senti o clima tipicamente francês de sua literatura.

Não estranharia nada se os personagens de Um Circo Que Passa tivessem saído de algum filme antigo de Godard ou Truffaut, porque enquanto eu lia sobre as andanças dos jovens por Paris – embora o sonho de Jean e Gisèle fosse ir para Roma – certas imagens dos filmes desses ilustres cineastas me vieram à mente, em branco e preto. Quer dizer, tudo me pareceu francamente francês mesmo e eu de certo modo me senti mergulhado na Paris que visitei apenas uma vez há vários anos. Por isso essa viagem valeu...