Rodrigo 08/05/2022
"A" de água com açúcar
Na França de 1886, o renomado engenheiro Gustave Eiffel é contratado para construir, em comemoração ao centenário da Revolução Francesa, um monumento que representasse as glórias do seu povo, e que, posteriormente, se transformaria numa das mais famosas obras de engenharia do mundo... Com essa introdução, vi nesse livro uma promessa de ficção histórica diferente, com uma linda capa e um preço que cabia no meu bolso (livros físicos abaixo de 50 reais em Salvador? Nem gibi).
Contudo, qual foi a minha surpresa, iniciada a leitura, ao me deparar com um romancezinho meio açucarado se sobressaindo como tema principal; uma história de amor proibido a lá Romeu e Julieta, misturado com luta de classes e um triângulo amoroso. Acabei criando um certo ranço de quem se sentiu lesado pela propaganda enganosa, mas segui em frente, já que a livraria não aceita devolução.
Então, eis que, para felicidade geral, a narrativa foi aos poucos me envolvendo - o texto, que (novamente) se divide entre presente e passado se alternando a cada capítulo, vai sofrendo algumas reviravoltas, e quando me dei conta, lá pela metade, já estava gostando! Apesar da má impressão inicial, o livro é extremamente fluido, tendo sido criado a partir da adaptação de um roteiro pra cinema (normalmente é o contrário). Os passeios pela Paris da "Belle Époque" foram agradáveis, assim como acompanhar o estilo de vida da sociedade francesa e as tecnologias de construção civil empregadas pelo engenheiro-protagonista.
Quando a torre sai do papel, todo tipo de dificuldade vai surgindo - greves, boicote do governo e até um abaixo-assinado feito por Alexandre Dumas (!) e outros artistas da época contra aquele "elefante branco", mas o espírito aguerrido de Eiffel toma a frente do canteiro de obras como se sua vida dependesse daquele empreendimento. E a trama amorosa, que no início parecia coisa de adolescente, começa a tomar vulto, e, já próximo do final, me surpreendeu positivamente, ainda que tenham havido umas forçadas de barra mal explicadas.
Para finalizar, trata-se de um livro honesto, que agradará a engenheiros e arquitetos, fãs de romances açucarados e aos que sonham em conhecer Paris mas estão com o saldo insuficiente no banco. Da minha parte, saio grato pela experiência, mesmo não tendo sido uma leitura espetacular. E, pra aguçar o interesse dos que apreciaram esta resenha, a mocinha protagonista do livro se chama Adrienne, e a Torre Eiffel foi construída no formato de uma enorme letra "A", encravada às margens do rio Sena.