Juju 03/12/2021
Um diagnóstico de insanidade
Gary Michael Heidnik foi um homem deveras enigmático cujo passado serviu para levantar uma série de questionamentos acerca de sua sanidade mental. Dispensado de sua carreira como paramédico no exército - seu primeiro objetivo maior -, ele passou por 21 internações em hospitais psiquiátricos diferentes recebendo diagnósticos que, por sua vez, levavam os médicos a crer que poderia se tratar de um indivíduo esquizofrênico e potencialmente perigoso. Suas futuras ações apenas serviriam para corroborar com esta visão, no entanto, de maneira quase inacreditável Heidnik permaneceu livre durante um longo período de tempo que afinal lhe deu margem para cometer seus terríveis atos nefastos naquele que ficou conhecido como o "porão dos horrores". Gary Michael Heidnik sequestrou, aprisionou, torturou, estuprou e por fim matou duas das seis mulheres que faziam parte de seu "harém", as quais ele pretendia utilizar para meros fins de reprodução - acreditava que seu objetivo de vida fornecido por Deus era criar um harém composto por dez mulheres que dariam à luz dez de seus filhos, os quais ele criaria em seu porão. Mas afinal seria este homem completamente surtado e lunático? Um esquizofrênico paranóico atormentado por suas alucinações que deturpavam sua noção lógica de realidade? Saberia Heidnik distinguir o certo do errado? Se fosse de fato insano, como explicar seu Q.I superior à média nacional - 130 -, suas habilidades notáveis em investir e multiplicar suas finanças, a capacidade que possuía de realizar tarefas básicas e conviver em sociedade, criar uma igreja e tomar conta de seus membros - a maioria deles com leves atrasos mentais? A existência de tantas perguntas relevantes foi enfim motivo de debate durante seu julgamento em que defesa e acusação brigaram entre si a fim de determinar da melhor maneira possível quem de fato era Gary Michael Heidnik.
Heidnik Profile é o mais novo lançamento do selo Crime Scene da editora Darkside Books que por sua vez dedica-se a investigar mais de perto, analisar e tentar compreender as mentes diabolicamente perversas dos infames assassinos em série - serial killers -, através de uma breve exposição de sua história de vida em geral. Em específico este livro aborda um indivíduo muito complexo, não que os outros assassinos não o sejam também, mas Heidnik por certo dividia opiniões, porque em tese ele nem ao menos deveria ter sido posto em liberdade, desde os primórdios de seu passado conturbado inúmeros fatores sugeriam que este homem era uma ameaça - se não a si próprio, mas também aos outros que tivessem o infortúnio de cruzar seu caminho. O fato de terem ignorado seu histórico perturbador durante tanto tempo aponta certa negligência por parte dos médicos e autoridades que o examinaram ao longo dos anos, o que infelizmente culminou em severas consequências no futuro e que afinal custaram duas vidas inocentes. O livro é dividido em duas partes: a inicial se compromete a descrever em detalhes bastante gráficos os verdadeiros horrores perpetrados por Heidnik, bem como o sofrimento de suas pobres vítimas, além de narrar pouco a pouco sua história de vida desde o momento em que deixou seu lar abusivo e ingressou no exército munido de grandes sonhos; A segunda metade, sendo assim, dedica-se a elucidar os pormenores de seu complicado julgamento que se estendeu por cerca de três semanas, apresentando ao leitor as principais figuras que estiveram presentes e desempenharam um papel fundamental em sua condenação final - o famoso veredicto (defesa, acusação, júri, promotores, famílias das vítimas, profissionais da área da saúde e imprensa). Se uma coisa fica clara, no entanto, é que a psiquiatria naquela época (1988) não era vista como uma ciência exata e por conta disso seus métodos e conclusões eram frequentemente questionados por diferentes personalidades, principalmente nos tribunais. A esquizofrenia, uma doença deveras complicada, ainda não era conhecida em todas as suas ramificações e logo poderia ser interpretada de uma forma vaga ou até mesmo equivocada, o que dificultava um diagnóstico mais preciso sobre os impactos que poderia causar em um ser humano. Muito se fala acerca do veredicto estipulado pelo júri à Gary Heidnik, alguns o consideram injusto se formos considerar seu passado que gritava em letras garrafais uma espécie de socorro, mas se uma coisa não mudará é o fato de que jamais poderá machucar alguém novamente.
Eu pessoalmente gostei mais da primeira parte do livro, li mais rápido e mal vi o tempo passar. Sinto que na segunda parte em que se inicia o processo do julgamento o foco se desvia da figura de Gary Michael Heidnik e volta-se para outras pessoas que sim, foram muito importantes para determinar seus próximos passos, mas bem, essa obra era para ser um perfil sobre o assassino, não é mesmo? Ali ele se tornou uma espécie de coadjuvante, talvez porque na época em que foi escrito o livro pouco se soubesse a respeito e não ajuda o fato de que o homem é mesmo uma incógnita bem grande, mas mesmo assim eu acho que o autor - Ken Englade, um jornalista que se consagrou se aprofundando em casos de crimes reais - pecou um pouco no quesito detalhes, ele poderia ter ido mais além e escavado um pouco mais fundo aquele poço de horrores. Por isso minha nota final é 4. Sobre minha opinião pessoal eu acredito que este homem era insano e que seu lugar era dentro de uma instituição para doentes mentais. Com certeza quero finalizar deixando claro que o livro é ótimo e que vale muito a pena!