O aniversário de Juan Ángel

O aniversário de Juan Ángel Mario Benedetti




Resenhas - O aniversário de Juan Ángel


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Andreia Santana 09/04/2024

'Tempo de despertar'
Considerado o romance mais experimental e político de Mario Benedetti, O aniversário de Juan Ángel, lançado originalmente em 1971 e publicado no Brasil pela primeira vez 50 anos depois, dentro da coleção latino-americana da Editora Pinard, é construído em um formato de poema em prosa, com versos sem pontuação.

O livro conta a história de um homem nascido na classe média uruguaia e que, mais maduro, se engaja na luta contra a ditadura no país usando o codinome Juan Ángel. O protagonista começa a contar sua vida a partir do aniversário de 8 anos e, no decorrer da narrativa, a transição das fases do personagem vai transcorrendo como se todos os anos de sua existência se encaixassem nas horas de um único dia que, metaforicamente, simboliza a passagem do tempo e a tomada de consciência pelo personagem principal sobre a opressão do regime.

De forma quase profética, mas que é a percepção de um autor muito atento ao seu tempo, o livro foi lançado dois anos antes da ditadura militar, de fato, se instaurar no Uruguai. O regime autoritário durou de 1973 até 1985 e, nesse período, assim como aconteceu no Brasil e em outros países da América Latina, como o Chile e a Argentina, cidadãos uruguaios contrários ao regime desapareceram, foram mortos ou torturados.

Estudiosos dos 12 anos da ditadura uruguaia costumam enfatizar que o país era tradicionalmente pacífico e democrático, mas sucumbiu a uma onda de violência e autoritarismo no contexto da Guerra Fria, que opunha o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos (EUA), ao bloco socialista, liderado pela extinta União Soviética (URSS). Esse é, inclusive, o contexto de todas as ditaduras latinas. Com o pretexto de combater o comunismo, os EUA articularam ou ajudaram na articulação dos golpes de estado que resultaram nesse regimes ditatoriais, como documentos históricos do governo norte-americano e dos períodos de sombra nos países latinos, que vêm sendo revelados ao longo dos anos, comprovam fartamente.

Como se para marcar essa fase pacífica do Uruguai, a infância de 'Juan Ángel' é quase idílica, com sua família empolgada pelo consumismo e totalmente alienada da realidade do país. A adolescência do protagonista é vivida em meio a uma intensa atividade social e sexual, com namoros e eventos sem compromisso. Até que, mais maduro, ele percebe que os ventos no país mudaram, se dá conta da opressão e se engaja na guerrilha contra o regime. A história termina no aniversário de 35 anos de Juan Ángel. A última cena do 'poema' é um dos finais mais bonitos que já li.

O livro é daqueles curtinhos, mas certeiros. Sem precisar escrever um tratado histórico, Benedetti leva o leitor a compreender a dimensão do drama humano não só da ditadura uruguaia, mas de todas as formas de governo autoritárias. O protagonista é comovente em seu amadurecimento e enfrentamento dos próprios dilemas de consciência.

Além da força da história e da importância do autor em questão, a edição da Pinard é uma beleza para enfeitar qualquer estante e/ou biblioteca. Em capa dura, com ilustrações de Luísa Zardo e uma tradução, de André Aires, que respeita o ritmo da narrativa e a cadência dos versos de Benedetti, tudo é muito bem feito, principalmente quando se trata de uma editora relativamente nova, criada em 2020 e que, basicamente, só publicou até hoje via projetos de financiamento coletivo. O catálogo, atualmente, tem 12 obras, sendo nove da bem-sucedida coleção latina.

Vale demais a pena adquirir o livro no site da editora e conhecer os outros trabalhos da Pinard, que concorreu ao Prêmio Jabuti no ano passado com o projeto gráfico da edição de Middlemarch, romance de George Eliot (Mary Ann Evans).

Ainda sobre O aniversário de Juan Ángel, um artigo assinado pelos editores, no final do livro, ajuda a contextualizar a obra na bibliografia de Benedetti e no período histórico que ela retrata. E, para quem não está habituado a comprar obras que foram publicadas via financiamento coletivo, as últimas páginas da publicação se dedicam a elencar, um por um, os nomes de todo mundo que apoiou o projeto no site Catarse, voltado para financiamentos coletivos.

Ficha Técnica:
O aniversário de Juan Ángel
Autor: Mario Benedetti
Ilustração: Luisa Zardo
Tradutor: André Aires
Editora: Pinard, 2021
150 páginas
R$ 64,90 + frente (livro físico, capa dura, no site da editora)

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*Lido para o desafio #50livrosate50anos, brincadeira que criei para comemorar meu aniversário. Em abril de 2024 eu faço 50 anos. A ideia é ler 50 livros até 30/04 e, se possível, resenhar ou fazer um breve comentário aqui no Skoob e no Instagram, sobre cada um deles. O aniversário de Juan Ángel é o livro 34 do desafio. No total, até agora, 39 foram lidos, tem 11 na fila de leitura e cinco dos lidos aguardam postagem.

site: https://mardehistorias.wordpress.com/
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Adriana Scarpin 20/02/2024

Fui lesada pela Pinard, numa atitude de total falta de respeito eles não me enviaram a ecobaog em conjunto do livro pelos quais paguei, ao reclamar disso com a Pinard, além de me desrespeitarem novamente com uma ausência de pedidos de desculpas, recebi um texto passivo agressivo ainda mais desrespeitoso dizendo que eu receberia o código de rastreamento na segunda. Não recebi. O que leva a esse ser o quarto desrespeito que sofro pela Editora.
Quero o dinheiro de volta. É meu direito receber o dinheiro pelo qual não recebi. E mesmo isso não paga o quádruplo desrespeito que sofri.
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Cristian Monteiro 25/10/2022

Demorei a engrenar na leitura desse livro, principalmente pelos tempos sombrios que estamos vivendo ter certa similaridade com o sentimento de perigo eminente na obra de Benedetti.

A narrativa poética e em fluxo de consciência é deslumbrante e a estrutura guiada por dois tempos, os aniversários do protagonista, e também as horas de um relógio é bastante simbólica pra demonstrar a transformação de uma criança em adulto, de inocência em consciência e fazer um panorama sobre o sociedade uruguaia naquele período.

Genial.

Ps: A edição da Pinard é linda, a capa é um deslumbre.
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Emerson Dylan 05/06/2022

Semeando o vento na cidade
Incrivelmente original, na forma e no estilo. Pela originalidade, pode ser até de difícil inserção em alguns momentos. Mesmo assim, a prosa poética te envolve de maneira fluida e quando você percebe, já findou o livro e se vê querendo recomeçá-lo. Grande marco da resistência latinoamericana na literatura!
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Marconi Moura 08/01/2022

6 5
Novela em fluxo de consciência, escrito em frases-versos, partidos como pensamentos e flashes. Um estilo interessante, que eu tinha visto em Aline Bei. As horas do dia vão andando de aniversário em aniversário, da infância pela manhã até a maturidade à noite, quando o filho de classe média Osvaldo Puentes se transforma no revolucionário clandestino Juan Ángel. Curioso, diferentão, bonzinho...
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Juliana.Marins 28/12/2021

e isto não é o suicídio
convém aclará-lo de uma vez por todas
a revolução não é jamais o suicídio
a revolução nem sequer é a morte
a revolução é a vida mais que nenhuma outra coisa
ainda que se possa morrer nela
ainda que se morra efetivamente
é a vida conjuro
a vida exorcismo
a vida sacrílega que profana a morte

inclusive quando se mata
quando se assume conscientemente semelhante calafrio
se mata como coação da vida
para tirar a morte do caminho

Quase três meses para engrenar na leitura. Segui por curiosidade e respeito a Benedetti. Ainda bem. A partir da página 80, fui pega e levada pela transformação de Osvaldo Puente em Juan Ángel e suas reflexões e sua percepção da tragédia que é a chegada do autoritarismo. E o final... um fragmento da história do Uruguai em versos.
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Katielly 15/11/2021

A luta coletiva
Começo dizendo sobre o meu encantamento e entusiasmo com o livro: que escrita linda, que livro bem feito! Estou profundamente feliz de ter lido esta prosa e ter conhecido o autor. Pretendo, com toda certeza, comprar outros livros deste uruguaio que me parece não ser tão conhecido, ainda, no nosso país. Ah, e claro, a edição está impecável.

Na prosa poética, acompanhamos 15 aniversários do personagem Osvaldo Puente. Os aniversários passam num piscar de olhos. A primeira celebração acontece aos oito anos e a última aos 35 anos.

A poesia está presente do início ao fim do livro, é difícil largá-lo, mas, além disso, também está presente a evolução e o entendimento do personagem sobre o que estava se passando com o Uruguai. É isso que me chama a atenção no livro: Osvaldo Puente, ou melhor, Juan Ángel começa a adquirir consciência de classe e espírito de coletividade. A sua individualidade, o seu ?eu? burguês, o comodismo vão se derretendo. O país estava fervendo em torturas, ruínas e autoritarismo - clamava por socorro. Assim, as questões políticas, críticas e a resistência em relação à ditadura passam a ganhar forma no enredo que tanto te agrada e te prende, ele diz: ?a revolução não é jamais suicídio, a revolução nem sequer é a morte, a revolução é a vida mais que nem uma outra coisa?. Ángel, renasce na luta coletiva e conhece o dissabor da ditadura.

Nessa perspectiva, Osvaldo Puente também pontua a nostalgia da infância. A infância é o momento da curiosidade, das brincadeiras, das fantasias, do não conhecimento das complexidades do mundo - na infância não conhecemos as injustiças. Quando crescemos, passamos a entender melhor e sofremos com o peso do mundo, sobre isto ele diz: ?quando ninguém te vê te aferras ao lego e ao ioiô como se os desditados brinquedos pudessem te salvar.? Assim, conforme os aniversários vão acontecendo é como se ele fosse perdendo tudo. Juan Ángel, traça uma linha entre a saudade e a simplicidade que encontramos na infância.

O livro é realmente lindo, muito lindo. Entretanto, exige uma atenção aplicada, pois como eu disse, a poesia está por toda parte e é preciso cuidado. Já estou ansiosa para conhecer outras escritas do Benedetti. Leiam Benedetti. É simplesmente incrível.
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@buenos_livros 31/10/2021

O Aniversário de Juan Ángel - Mario Benedetti ??
?há que se ter muita confiança na própria
bússola há que se estar muito seguro da
justiça que se quer muito seguro do
amor ao próximo para apertar o gatilho do
ódio contra o próximo?
-
. O Aniversário de Juan Ángel (1971)
. Mario Benedetti ??
. Tradução: André Aires
. Poesia | 128p.
. @pinard.livros
-
. Uma obra única. A transformação do jovem inocente Osvaldo no adulto clandestino Juan é contada de forma poética, brincando com as palavras e o tempo, que é marcado através dos dias do seu aniversário. Concatenando palavras como só os grandes mestres podem fazer, Benedetti narra também a marcha uruguaia rumo ao regime de exceção e como o personagem deixa sua individualidade para ingressar em uma luta coletiva, chegando a um ponto sem retorno mesmo que a luta esteja perdida. Através da prosa poética que demanda atenção aos detalhes e abstração para que a história se forme, Benedetti entrega uma experiência diferente de tudo que já li. Um presente de edição trazido pela @pinard.livros
. ??????????
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Helena 25/10/2021

Romance em versos que é pura poesia
Admito que não estava tão ansiosa assim para começar esse livro. A questão de ser um romance em versos pode assustar, e eu fiquei com um pouco de preguiça a princípio. Mas, com o incentivo do Clube Nossa Literatura e do belíssimo projeto gráfico dessa edição da editora Pinard, comecei a leitura.
E a preguiça não durou nem até o final da primeira página.
É um livro incrível, de uma delicadeza e, ao mesmo tempo, de uma violência que me deixaram boquiaberta do início ao fim. Uma leitura para se fazer com um lápis do lado, marcando dezenas de trechos que são pura poesia. Recomendo a todos.

"e quando em silêncio declaro minha guerra
estranhamente me sinto por fim em paz"
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Jedi Literário 21/10/2021

Oxalá Vivamos.
Benedetti tem na escrita uma prosa poética que impressiona. Uma novela escrita em versos. Ao descrever seus aniversários, o protagonista-narrador Oswaldo Puente nos leva para uma jornada multifacetada, que envolve uma conversa com seu próprio íntimo, seus medos, expectativas e transformações, bem como as mudanças e conflitos de uma sociedade uruguaia em ebulição. O Livro tem trágico tom profético: escrito em 1971, mas prenuncia os sombrios anos da ditadura militar no Uruguai, poucos anos depois.

Além de toda a riqueza de seu conteúdo e sua forma inovadora, o texto também ganha o leitor por sua estética literária e pelas astutas e ácidas imagens, metáforas e analogias, através das quais Benedetti tece seus versos.

Uma jóia da literatura latino-americana, traduzida pela primeira vez ao português pela Editora Pinard. Vale a pena demais!
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isa.dantas 19/10/2021

Mais um acerto da editora Pinard, que livrão em formato de livrinho: a forma como é escrito, as referências, o enredo - tudo maravilhoso!
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Vilamarc 17/10/2021

Um loop Benedettiano
Leituras sobre a resistência às ditaduras latino-americanas, inclusive a brasileira, sempre me emocional, não tem como ser diferente.
Lembro de quando adolescente ter assistido "Chove sobre Santiago" e o impacto que essa película teve em mim.

Aqui, nesta joia de Benedetti, a emoção se duplica ou multiplica pela forma poética, intimista, sem arrogância militante, lúcida e engajada com que o tema é tratado.

É o dia do aniversário de Osvaldo Puente, ou Juan Angel, que a cada 20 minutos relembra as suas idades a partir dos 7 anos até seus 35 anos. De criança a militante clandestino, que vê sua família e sua pátria transformarem-se numa guerrilha urbana.

O final épico transforma um episódio de resistência política uruguaio numa cena ficcional cheia de significados para hoje. Quando Raul Sendic e Pepe Mujica dentre outros militantes Tupamaros em 1971 fugiram pelos esgotos da penitenciária política de Montevideo, antecipando o que seria a resistência a mais uma ditadura latina, entre 1973 e 1985.
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Serivaldo 09/10/2021

narrativa quase épica
o livro chegou
abri o embrulho despretensiosamente
não prestei atenção
amassei o marcador de páginas com embrulho e tudo
depois fui buscá-lo na sacola de lixo
que pena
todo amassado
mas o guardei
com o tempo tudo volta ao normal
comecei apalpando a capa
passando as folhas
vi meu nome nos apoiadores e o de outros amigos e amigas de leitura
comecei pelo primeiro verso
"Esta sexta-feira intacta se abre"
apesar de que hoje seja um sábado
li até a última página numa sentada num só fôlego
acompanhei os aniversários do menino-adolescente-adulto osvaldo puente/juan ángel
o passar de seus anos
em versos livres reflexivos críticos ácidos
gostei do três foderes
executivo legislativo judicial
que bela metáfora
até um espaço em branco
silenciado
tem significado
a democracia foi uma querida fábula
ótimo
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