Wellington.Pimente 21/01/2024
Ser
Letícia Lanz, que por muitas décadas se apresentou para a sociedade como Geraldo Eustáquio, casou, teve três filhos, netos e um trabalho estável como essa persona que não a definia totalmente. O livro é um relato muito sincero da realidade enfrentada por Geraldo em sua jornada de se libertar das amarras sociais de gênero e assim assumir a mulher transgênera somente aos 50 anos, quando foi parar numa cama da UTI, depois de toda sua vida permanentemente marcada pelo conflito entre ser ela mesma e o que a sociedade exigia que fosse.
É um relato honesto e comovente, que ao narrar suas experiências pessoais e as reflexões dos conflitos enfrentados, mesmo com pessoas tão próximas, como no caso da sua esposa, filhos e netos que claramente há muito amor nesse núcleo familiar, foi muito difícil, imagina para a sociedade em geral. Sua narrativa bem realista cumpre esse papel de nos levarmos a compreender o que é uma pessoa transgênera e a dificuldade de se aceitar numa sociedade que ainda demonstra incapacidade de conviver com as diferenças, apesar que há muito mais informações a respeito atualmente e essa obra é importante por elucidar muitas dúvidas, apesar da autora abordar obras de autores controverso sobre o tema (acusado de viés ideológico) que precisarei ler, ao falar a respeito de gêneros, acho muito confuso querermos reinvertar a binaridade do gênero masculino e feminino que é claramente visível biologicamente, porém ressalto a necessidade de respeitarmos o entendimento da identidade sexual individual do ser humano. Letícia Lanz dá o recado em sua obra: "Quem quiser me inscrever numa matriz cultural de inteligibilidade pode dizer que sou uma pessoa transgênera, com a identidade mais próxima de uma travesti ou transexual e orientação sexual lésbica. Meu aviso aos navegantes é que não me sinto nem um pouco responsável por eventuais contradições e desconfortos conceituais, lembrando que eu, pessoalmente, não tenho o menor interesse em me inscrever em nenhuma matriz cultural de inteligibilidade de gênero. Meu esforço é para me inscrever - e para me manter inscrita - numa matriz de sensibilidade social, na qual eu possa ser aceita, reconhecida, legitimada e amada pelas pessoas sendo tão unicamente a pessoa que eu sou."