Helder 28/12/2021Um grande desafioAs Doenças do Brasil é o último livro do incrível escritor português Valter Hugo Mae e teve seu lançamento quase simultâneo em Portugal e aqui pela editora Biblioteca Azul.
Eu preciso dizer que até hoje só li dois livros deste autor, mas são duas leituras que figuram entre as coisas mais bonitas que já li na vida, portanto a minha expectativa para este livro era enorme, principalmente ao ver na sinopse que a história se passaria no Brasil, um país que sei que é muito amado pelo escritor.
Porém sinto informar que desta vez, infelizmente, minhas expectativas não foram atendidas.
Em As Doenças do Brasil, Hugo Mãe nos traz a história de Honra, um índio que foi gerado a partir do estupro de sua mãe por um homem branco.
Como Honra tem a pele branca, ele se sente diferente em sua aldeia e tem como objetivo de vida tornar-se um guerreiro e vingar sua mãe.
“Sou branco. E esta cor não é cicatriz, é ferida e não sara. O inimigo parasita em mim para sempre. Sou uma possessão. Um espírito baixado sobre minha dignidade abaeté. Sou um bicho como nenhum outro da mata. Um inimigo menos semelhante. Um excremento do branco no ventre de minha mãe."
Um dia, ao andar pela mata, Honra encontra um negro perdido, que a princípio é feito de prisioneiro, mas logo é aceito por Pai Todo, o líder da tribo dos abaetes, que lhe dá o nome de Meio da Noite e profecia que este irá se tornar um guerreiro também e irá ajudar a tribo a se defender da fera branca. Aos poucos, Honra vai aceitando a presença de Meio da Noite e logo eles se tornam amigos.
Para contar esta história simples, Hugo Mãe tentou se colocar na época em que os primeiros índios tiveram contato com o homem branco e criou uma linguagem especial para tentar representar este momento da história mundial.
Porém, desta vez, diferente de suas outras obras, onde existia poesia nas metáforas de seu texto, neste livro, as diversas metáforas criadas pelo autor tornaram a minha leitura extremamente truncada e cansativa, como se eu estivesse lendo um miniconto de Guimarães Rosa, mas agora com descrições de selva ao invés de um sertão.
No fim, para mim, ficou a impressão que, diferente de seus outros livros, aqui me parece que o autor se preocupou muito mais com a estética do que com o conteúdo, pois existe toda uma linguagem rebuscada, mas que tem pouca coisa para contar, pois não existe uma verdadeira história aqui.
Através desta linguagem o autor vai nos mostrando as tradições e superstições da tribo Abaeté, mas em trechos que não levam a narrativa para frente. No fim, parece que tem algo bonito ali, mas para mim ficou escondido.
Nem a geografia do livro fica clara. Diz a sinopse, e o autor em diversas entrevistas, que sua história se passa no Brasil, mas para mim podia ser em qualquer ilha onde tenha havido um povo originário que de repente teve que conhecer o homem branco.
Sabendo do amor que Hugo Mãe sente pelo Brasil, confesso que esperava muito mais desta obra, mas acredito que seja o caso de fazer uma releitura daqui a um tempo.
Já você, se deseja conhecer o autor, recomendo não começar por aqui, pois pode trazer uma impressão errada sobre seu talento
Agora, se assim como eu, você já é fã do autor, mesmo este não sendo um livro maravilhoso, acho que é um grande desafio ao leitor, então que tal se desafiar?