Roberta 05/01/2024
Uma bela iniciativa para prestigiar a literatura nacional
Quando surgiu o primeiro comentário sobre a estreia da Revista Suprassuma, eu logo fiquei sabendo. Acompanhei de perto cada novidade que ia aparecendo, e fiquei extasiada quando descobri que eles abririam espaço para autores brasileiros iniciantes.
Como você pode imaginar, eu participei do processo seletivo com um conto, que me deixou mais orgulhosa por ter conseguido terminar a tempo do que propriamente pela expectativa de ser selecionado ou não. Na verdade, eu não me importava com o resultado. Estava muito confiante, sim, mas imaginei que haveria muitas histórias igualmente boas, talvez até melhores. Por isso, não estava preocupada. Pelo contrário, estava até bastante excitada com os resultados.
Talvez tenha sido essa expectativa, ou talvez o fato de eu ter sido tão ingênua, mas quando os resultados vieram e eu dei a primeira olhada nos contos vencedores (em especial os seus autores), toda a minha excitação acabou se transmutando em um ranço que passou a ocupar o mesmo espaço (senão mais) do que a alegria havia consumido em mim. Acabou que nenhum dos autores selecionados era realmente um desconhecido. Todos eles já tinham carreira na área literária, e bem sólida por sinal em alguns casos.
Esse fato me fez dar um passo para trás e pegar um nojo dos editores da revista de tal forma que eu tive de refrear a leitura. Eu não conseguia nem abrir a primeira página sem querer vomitar. Pode ser que o fato de eu ter participado da seleção tenha me gerado uma raiva maior do que seria saudável, mas naquele momento não me importei.
Foi quando eu comecei a ler as resenhas que foram aparecendo, e muitas pessoas tinham um sentimento bem parecido com o meu. Me senti melhor, por estar acompanhada no meu luto, mas isso não durou muito tempo. No entanto, as resenhas também apontaram algo que me deixou muito surpresa: que poucos dos contos selecionados eram realmente bons.
Eu fiquei genuinamente perplexa. Esperava que, pelo menos, se eles tivessem escolhido autores com histórico e carreira, que seus trabalhos fossem ótimos. Eu não conhecia a totalidade dos contos que foram submetidos à avaliação, mas eu sabia do potencial dos autores de fantasia nacionais. Não podia acreditar que a seleção tivesse deixado a desejar, mas também não tive coragem de ler e atestar o fato por mim mesma pelo medo de deixar o meu ranço prejudicar o meu julgamento quando estivesse lendo. Por isso, esperei mais um pouco.
Até que, faltando dois dias para 2023 chegar ao fim, eu estava meio desesperada por tirar pelo menos uma pequena fração do atraso das minhas leituras do ano (que foram um vexame, por sinal), quando meus olhos foram atraídos novamente para a primeira edição da Revista Suprassuma, há pelo menos dois anos à minha espera na meta de leitura, e decidi que se eu tentasse ler a obra com bastante rapidez, sem dar tempo para o ranço atacar, talvez eu conseguisse apreciar cada conto com a atenção e o carinho que eles mereciam.
É por causa disso e por nenhum outro motivo que eu posso finalmente, e com tranquilidade, dizer que as opiniões que eu havia lido sobre os contos serem muito verdadeiras. Muito verdadeiras mesmo. Mais uma vez, me vi surpreendida por esse fato, quando não deveria ter ficado. É possível contar em uma mão, se é que tanto, os contos realmente bons, aqueles que dão gosto de ler, que geram emoção.
Os meus preferidos foram: Não vai ser a primeira, nem a última, de Fernanda Castro; Vertente, de Andrezza Postay; e Dias de pouco pão e zero sonho, de Saskia Sá (este último o melhor de todos, na minha opinião, nenhuma dúvida do porque ficou para o final).
Os outros contos... bom, não é que sejam terríveis, mas também não são ótimos. Alguns são meramente razoáveis, como, por exemplo: Ressurreição, de Fabiane Guimarães; Um ajuste de ponteiros, de Moacir Fio; e Ith, de Ariel Ayres (que tem um final surpreendente e por isso ganhou meu respeito).
Quanto ao restante, os contos são ruins. Bem ruins. Alguns deles, como O destino não é endereço, de Jana Bianchi, começaram de modo excelente, mas foram por um caminho que me fizeram cair o queixo, perplexa com tanto potencial não aproveitado. Outros, como Orvalho flamejante, de Giu Yukari Murakami, foram só um tédio total, e a história parecia não fazer sentido quando, de repente, acabou, e continuou sem fazer sentido.
Eu admito não ser a maior especialista em contos, mas tenho estudado bastante o gênero literário e tenho um feeling que ultrapassa qualquer conhecimento acadêmico (porque eu não acredito nessa ideia arrogante de que uma obra só é boa se cumpre requisitos X, Y, Z e passa por um exame clínico minucioso com requisitos que ninguém bem sabe quais são, mas que têm o único objetivo de olhar uma obra de cima, com o nariz arrebitado e querendo encontrar defeito a todo custo). Meu feeling é simplesmente o desejo de ler uma história e sentir a emoção que ela me causa, coisa que não aconteceu com a maioria das obras da revista. Claro, também tem o fato de que meu conhecimento técnico me permitiu reconhecer quando as escolhas desse ou daquele autor não tenham sido as melhores, mas enfim...
A moral da história é que essa primeira edição da Revista Suprassuma só não beirou o fracasso porque tem contos realmente excelentes, mas a seleção não foi a melhor.
Fora isso, para quem esteja se perguntando, meu ranço deixou de existir no momento que eu li a primeira palavra do primeiro conto. Eu entendi que a revista é deles e eles selecionam quem eles bem entendem, sendo autores com carreira sólida ou completos desconhecidos. Eu só achei irônico a escolha de selecionar contos de escritores de carreira se os trabalhos deles, no fim das contas, deixaram tanto a desejar.