O Natal dos Fantasmas

O Natal dos Fantasmas Elizabeth Gaskell...




Resenhas - O natal dos fantasmas


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Shé 06/12/2021

Contos natalinos fantasmagóricos
Foi a primeira vez que li um livro de fantasmas no natal. Nunca tinha lido algo assim e confesso que achei estranho, porque pra mim
o Natal é um momento feliz e alegre.

Mas me surpreendi com esses contos vitorianos e confesso que leria esse livro todo ano, nessa mesma época.

São diversos encontros com fantasmas que acontecem na véspera e no dia de Natal. Algo bem interessante, pois para o povo da época, era no Natal que os fantasmas apareciam.

Alguns contos são melhores que outros. Eu recomendo ?A história dos Goblins?, ?A história da velha ama?, ?Smee? e ? O fantasma de Irtonwood?. Esses foram meus contos preferidos. Os demais eu gostei, mas não tanto quanto esses.
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Mariane398 29/03/2024

No fim, o saldo é positivo
Uma das coisas mais difíceis numa coletânea (nem sei se esse livro se enquadra enquanto uma colêtanea ou se é apenas uma reunião despretensiosa de contos) é achar contos com temática, vibe e tom parecido.

Nesse livro a editora se propôs a reunir contos de natal vitorianos que tratam sobre fantasmas e natal, com a explicação de que algumas culturas acreditam que os fantasmas saem para "se divertir" na época de natal.

Do meu ponto de vista, o saldo é positivo. Alguns contos são melhores que outros, não sendo critério de avaliação o fato de serem mais longos ou curtos.

A vibe do livro chega a ser interessante e a edição é bem bonita, mas ainda acho que poderiam ter escolhido melhor os contos, parece meio forçado colocar qualquer história de fantasma no natal, ficou parecendo aqueles trabalhos escolares que cada um fica com uma parte e junta tudo no fim. Poderia dar muito certo ou muito errado, nesse caso ficou no meio-termo.
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Adriana Naves 06/01/2023

Vale a experiência
Não sabia dessa tradição de contar histórias de fantasma no período natalino, mas acho um hábito legal.
Quanto a curadoria da antologia, acho que temos histórias incríveis, mas algumas são ruizinhas kkkkkk. O J.M. Barrie foi uma decepção total. Dos contos aqui presentes dois deles eu já conhecia e amava : Markheim e O conto da velha ama. Entre os novos acho que: Smee, A bolsa de viagem e O prato Crown Derby fora incríveis, os demais contos foram bons ou esquecíveis, e o do Barrie foi horrível kkkkkkk (eu amo Peter Pan, confiava no Barrie e ele me escreve aquela porcaria!).
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Mikael_13 31/12/2022

Gostei bastante dessa coletânea de contos de terror natalinos. Foi interessante conhecer histórias com essa temática escritas por grandes autores.
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Rita 31/12/2021

Amei ler esses contos e ler vários autores que ainda não conhecia.

O conto que mais gostei foi "Horror: uma história real", mas os outros são ótimos também.
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Coruja 06/12/2022

Por uma ceia com histórias de arrepiar
Sou suspeita para falar dos livros da editora Wish, com sua proposta de resgate de clássicos por vezes completamente desconhecidos no Brasil, promoção de novos artistas e tradutores, e um cuidado com o texto que casa com um histórico de projetos gráficos que são de encher os olhos em cada mínimo detalhe.

Seguindo esse padrão e bebendo na tradição vitoriana dos contos assombrosos para a época natalina, elas lançaram coletânea O Natal dos Fantasmas ano passado, com doze contos reunindo tanto nomes já famosos por aqui - como Dickens, Gaskell, J. M. Barrie e Algernon Blackwood, com outras figuras menos conhecidas do público brasileiro.

As escolhas editoriais dessa coleção foram muito bem pensadas - mesmo os contos que considerei mais medianos ainda conseguiram prender minha atenção e provocar aquele arrepiozinho na espinha. Os dois contos finais, em especial, A Bolsa de Viagem do Blackwood e O prato Crown Derby da Marjorie Bowen, fizeram com que eu me levantasse e fosse dar um passeio pela casa para ter certeza que aquele barulhinho que ouvi era só o vento…

Há humor e lições de moral (bem, são os vitorianos…), crimes de toda natureza, questões de herança e encontros sobrenaturais de passado e presente. Algumas histórias me levaram mentalmente para a calçada da casa da minha avó, ouvindo os contos de trancoso da vizinha contadora de histórias - com um pé no folclórico, na tradição oral, e outro na literatura de gênero, uma cadência própria dos melhores contos de assombro.

[Voltar àquelas imagens de infância, àquela calçada, àquelas noites com um toque próprio de magia, são o maior elogio que posso fazer a esse tipo de narrativa.]

Como presente, para colocar debaixo da árvore esse ano, ou para si mesmo, para entrar o advento com aquele friozinho arrepiante que os vitorianos adoravam para a época, O Natal dos Fantasmas é uma ótima pedida, certeira para terminar bem o ano.

E, em tempo: parece que vai virar tradição a Wish lançar coletâneas especiais de natal. No site deles, estão vendendo já uma nova antologia reunindo apenas autoras mulheres: Contos de Antigos Natais. Vai para a lista do Papai Noel!

site: https://owlsroof.blogspot.com/2022/12/o-natal-dos-fantasmas-por-uma-ceia-com.html
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leiturasdaursula 15/12/2022

Excelente edição!
Eu achei o livro bem interessante! Tirei 1 estrela porque alguns contos eu não gostei tanto e tem 1 conto que se repete em outro livro da mesma editora. O conto "Ceias fantasmagóricas" se repete no livro "Terror depois da ceia". Porém, em Terror depois da ceia foi traduzido por outra pessoa e o título do conto ficou Nossa festa de Natal. Além disso, o conto A história da velha ama pode ser encontrado em Vitorianas Macabras (editora Darkside) com o título O conto da velha ama.
Meus contos favoritos foram: Smee, Horror: Uma história real, A bolsa de viagem e O prato Crown Derby.
A edição, diagramação e tradução estão impecáveis!
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Camirota 08/02/2023

Christmas terror
O livro é de certa forma mágico, no sentido do terror. Algumas histórias são muito boas e outras nem tanto, depois de vários contos que li, acredito que seja mais difícil escrever um conto do que um livro inteiro, principalmente de terror, pois em poucas páginas o autor deve fazer o leitor sentir tensão e ficar curioso para ler a próxima página, além do final que precisa ser bem elaborado para a história deixar saudades e não parecer que faltou alguma coisa.
A edição de ?o natal dos fantasmas? é lindíssima, um luxo que está presente em toda a editora wish, vale bastante o investimento, sei que um livro é para ler, mas é inegável que edições desse tipo ficam lindas na estante.
O meu conto preferido foi ?Smee?, deu até vontade de fazer a brincadeira com a família!
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vitoria.esteves 21/12/2021

Comecei no sábado e finalizei ontem esse livro incrível! Amo histórias de horror com fantasmas... e essas são melhores ainda, pois se passam no Natal e são contos ambientados na Inglaterra Vitoriana! ?
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Viviane.Lopes.Costa 25/12/2021

Dia perfeito para ler O Natal dos Fantasmas!
Livro de contos incrível da Wish!
Amei a seleção desses contos!
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EduardoCDias 21/12/2022

Delícia de leitura
Contos de terror de escritores conhecidos e alguns desconhecidos. Todos eles deliciosos de se ler! Por incrível que pareça, os menos interessantes são os de Charles Dickens e Robert Louis Stevenson. Livro caprichadíssimo!
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Marcone989 28/12/2022

Melhorando as festividades
O que posso dizer sobre essa coletânea de contos é que fui surpreendido pelo nível alto de qualidade das historias. Uma seleção realmente muito boa. É uma leitura rápida, mas que vale a pena ser apreciada, natal e fantasmas são combinações indispensáveis creio eu. Fora que todo o cuidado que a edição tem em sí, linda e muito bem diagramada.
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Paulo 22/12/2022

1 - Ceias Fantasmagóricas (4 estrelas), de Jerome K. Jerome

Esse é um conto que já havia sido publicado na coletânea Terror Depois da Ceia, que comentei brevemente no parágrafo acima. De qualquer forma, achei acertada a escolha deste conto para iniciar a coletânea porque Jerome meio que coloca o leitor no clima de histórias fantasmagóricas natalinas. Não se trata de uma narrativa per se, mas do autor comentando o próprio hábito natalino de contar histórias de fantasmas. Como já comentei em outra resenha sobre este conto, fica um comentário breve de como hospedar pessoas era um ato social no período vitoriano. Não se tratava apenas de cear junto dos familiares e distribuir presentes. Tratava-se de ser um bom anfitrião, receber a todos e colocá-los em seus quartos com conforto. Claro que as picuinhas sociais sempre vão existir com aquela pessoa que é mais rabugenta, ou o cético que interrompe a contação de histórias e alega que tudo não passa de bobagem. Jerome perpassa por todos esses estereótipos de convidados enquanto nos faz rir com pequenos causos de pessoas que se assustaram com fantasmas de verdade. O conto é quase um documento de época e é bem escrito. Minha crítica foi só a de não sentir uma narrativa presente ali e mais um conto voltado para atrair o leitor. Como um elemento individual, ele não se constrói sozinho, mas fazendo parte de uma coletânea maior, potencializa aqueles que vem depois.

2 - A história dos goblins (4 estrelas). de Charles Dickens

Nessa história somos apresentados a um sacristão rabugento chamado Gabriel Grub. Um homem chato e mesquinho, que detesta crianças e felicidade. Na véspera de Natal, enquanto todos passam a data com suas famílias, Gabriel vai cavar túmulos para enterrar as pessoas. Durante uma caminhada, ele chega a agredir uma criança com sua pá apenas por ela demonstrar sua felicidade por causa da data. Durante o seu trabalho, Gabriel vai ser surpreendido por um goblin que vem aterrorizar sua vida. A rabugice do sacristão incomodou até mesmo essas criaturas mágicas que prometeram levar o homem santo ao inferno caso ele não corrija o seu temperamento.

A sinopse da história lembra demais Cântico de Natal, do próprio Dickens. Quem conhece a história, vai ver diversos tropos que ele usou nessa história maior e mais famosa dele. Esse conto tem valor no sentido de que passeia pelas ironias e o modo fácil de escrever dickensiano enquanto nos diverte. Parece estranho dizer isso, mas mesmo esse conto se tratando de um indivíduo sendo amaldiçoado por criaturas infernais, a história é repleta de ironia e bom humor. Não tem como a gente não se lembrar do velho Scrooge e compará-lo com o sacristão, mas a história do velho muquirana puxa mais para o trágico do que para o satírico. Scrooge era um homem atormentado por um passado que o incomodava. Gabriel é só um cara rabugento mesmo. Vale destacar a maneira como Gabriel faz de tudo para negociar com o goblin para que ele o deixe em paz, mas a criaturinha consegue enxergar através das mentiras do personagem. Isso nos mostra o quanto não somos capazes de enganar criaturas primordiais. A história tem um bom ritmo e tamanho e o leitor vai ter uma boa virada narrativa ao final. Quem conhece Dickens, vai adorar a história; que não conhece, é uma ótima porta de entrada para a escrita do autor.

3 - A história da velha ama (5 estrelas), de Elizabeth Gaskell

A autora de Norte e Sul, um livro fabuloso que reconstrói relações sociais do século XIX com uma precisão e crítica que a tornaram famosa, faz trabalho semelhante nesse conto. Nele somos transportados a uma estranha mansão onde a tutora Hester e sua protegida Rosamond vão precisar morar após a morte prematura de sua mãe. Lá elas vão conhecer um elenco de senhoras e empregadas que vão fazer os dias parecerem mais misteriosos. Enquanto Rosamond cresce nesse ambiente diferente, Hester se dá conta de que a casa esconde dois mistérios: um estranho som de órgão vindo de uma ala trancada da mansão e uma garotinha que aparece em algumas noites do lado de fora da casa, pedindo para entrar. As empregadas da casa pedem encarecidamente para que Hester faça o possível para que Rosamond não abra as portas da casa para a garotinha, que exerce um estranho fascínio sobre ela. Sobre o tal órgão, as donas da casa fazem ouvidos moucos, apesar de suas expressões assustadas revelarem mais do que elas deixam transparecer.

É uma narrativa de críticas sociais também. Espanta o fato de podermos elencar várias delas em uma história tão curtinha. Primeiro tem todo o caso do senhor que era o chefe da casa e agredia sua esposa a tal ponto de a levar a uma tristeza e depressão. As filhas que disputam a mão do jovem cavalheiro que, Gaskell me surpreendeu nisso, me parece ser um negro. Tem só um momento da trama que ela descreve o cavalheiro de "pele escura e modos encantadores". Achei tão curioso que merecia o destaque. Existe todo um habitat social na mansão e Hester é uma pessoa curiosa nesse ponto. Mesmo sendo uma simples tutora, ela se encontra em outro status social em relação a alguns dos empregados da casa. E ela faz questão de usar essa sua autoridade quando precisa chamar a atenção de alguém por falar torto com ela. Ao mesmo tempo em que tem uma deferência maior por aqueles que administram a mansão. Isso é para que possamos perceber o quanto a pirâmide social pode nos ajudar a encontrar micro-poderes em um ambiente até que simples. E como os indivíduos decidem usar seu status social para exercer posições de mando ou de submissão. Gaskell é uma mestra em nos mostrar isso através de pequenas sutilezas que o leitor precisa ser atencioso para perceber.

5 - O fantasma de Irtonwood (4 estrelas), de Elinor Glynn

Esther Charters é uma dama da sociedade, sendo cortejada por cavalheiros e buscando viver sua vida de forma tranquila. Ela brinca com suas amigas que acha fantasmas e coisas do sobrenatural emocionantes. É convidada para um Natal na casa de uma de suas amigas, a sra Ada Hardess. Durante sua viagem até a exótica casa, ela conhece Ambrose Duval, um homem que fica de olho nela e afirma estar indo para o mesmo lugar. Ao chegarem até Irtonwood, Esther é colocada no quarto de Cedro, um local que diz ser assombrado por uma tal de Dama Branca. O que começa como uma brincadeira inocente e um triângulo amoroso formado por Duval e o cavalheiro que corteja Esther, o sr George Seafield, se transforma em um terrível encontro com a morte frente a frente.

Esse é um romance de mistério com elementos sobrenaturais. Existe mais um detalhe a ser lembrado que é o de Esther estar lutando para conseguir os documentos para lhe garantir uma herança disputada por membros de sua família e os herdeiros de seus antepassados. Documento esse que está desaparecido e pode fazer Esther perder tudo. A história da Dama Branca vai trazer à tona alguns desses plots investigativos: o estranho que se envolve no grupo, a mansão exótica, as passagens secretas, as correntes se arrastando. Existe também uma incrível semelhança entre Esther e a antiga dona da mansão. Todas essas pequenas narrativas se mesclam em uma história romântica que nos promove desentendimentos, os hábitos de corte que quem aprecia romances de época está acostumado. Não chega a ser necessariamente uma história de terror, sendo algo mais no clima de um mistério de Agatha Christie. Tem até uma explicação sobre a resolução no final. A escrita de Elimor Glynn é um pouco carregada de descrições em alguns momentos, mas no geral não me incomodou. Só as coincidências fortuitas que me tiraram um pouco do rumo, mas okay. É um conto divertido e tenho certeza que vai agradar a uma variedade de públicos.

7 - Encontro de Natal (5 estrelas), de Rosemary Timperley

Uma história genial sobre uma mulher que está passando um Natal sozinha em sua casa. Ela se lamenta dos azares de sua vida e pede para que alguém lhe faça companhia em uma noite tão bela. Só que, para sua surpresa, um jovem estranho entra em seu quarto e logo ela percebe se tratar de alguém que não pertence a este mundo. Este jovem revela ser um escritor e inicia-se uma conversa que acalenta o espírito solitário dela. Uma história sensacional, curtinha, mas contendo tantos mistérios e significados que o leitor vai ficar pensando por vários dias a fio. Os diálogos são leves e bem conduzidos e cada frase é pensada de forma a causar algum efeito no leitor: tristeza, saudade, surpresa, ternura. Timperley ainda faz uma brincadeira com a nossa percepção e permite múltiplas interpretações sobre o último parágrafo. Essa é uma daquelas histórias que mostram para nós que tamanho não é documento. Não quero entrar em mais detalhes porque gostaria que mais pessoas lessem esse conto com mais atenção.

8 - Markheim (4 estrelas), de Robert Louis Stevenson

Em uma véspera de Natal, Markheim segue até uma loja de presentes onde deseja adquirir alguma coisa para dar a alguém. Só que ele não sabe o que comprar e depois de conversar com o comerciante, este oferece a ele um espelho. Isso faz com que Markheim tenha estranhas reações relacionadas a seu passado. Ao ver o espelho, isso o faz lembrar dos erros que ele cometeu em vida. E ele está prestes a cometer mais um, quando esfaqueia cruelmente o comerciante. Tendo feito o que realmente havia vindo fazer, ele agora busca se livrar do corpo, pegar todo o dinheiro da loja e conseguir fugir ileso. Só que ele está preocupado se alguém escutou toda a confusão ou viu alguma coisa que não deveria. Markheim sente que qualquer movimento, qualquer olhar vindo da rua pode denunciá-lo. E é aí que uma presença chega até ele e oferece a ele a possibilidade de sair ileso de tudo aquilo. Só que para isso, existe um preço a ser pago...

Stevenson é um autor que gosta de explorar o lado obscuro do ser humano. O que nos move? O que nos faz seguir caminhos ruins? Em O Médico e o Monstro, ele já havia feito isso com um médico obcecado por seus experimentos e agora com um ladrão que tenta entender se ainda existe uma esperança de ele se arrepender. Stevenson é um pouco pessimista nisso e, apesar da virada narrativa ao final, o leitor consegue sentir que parece que ele não acredita muito na capacidade de mudar. A gente pode passar bastante tempo discutindo sobre a natureza do homem, mas o diálogo entre a criatura e Markheim é bem claro nesse sentido. Nos faz pensar retrospectivamente o que fizemos para escolher esse ou aquele caminho. O protagonista demonstra que se arrepende de seu passado, mas não pode fazer nada para alterá-lo. Se torna essencial a ele, conviver com isso e tentar fazer escolhas melhores no futuro.

O autor usa dois tropos bem curiosos na história: um se remete ao tema visto no conto O Coração Delator, de Edgar Allan Poe e o outro se refere ao pacto fáustico. No primeiro, o personagem se sente observado por um pecado que ele cometeu. É como se ele ouvisse as batidas do coração por toda a parte. Se trata da própria consciência dele falando. Já o pacto fáustico acontece quando o fantasma ou criatura oferece a ele uma saída para o seu dilema. Ele não é claro quanto a qual o preço de sua ajuda e me parece algo mais moral do que físico. Enfim, Stevenson consegue nos entregar um conto que possui várias camadas e toca fundo em nossos corações. Com uma sutileza do tamanho de um elefante.

10 - A história de Natel de Thurlow (4 estrelas) , de John Kendrick Bangs

Thurlow é um escritor famoso por suas histórias de terror natalinas. Todos os anos ele publica no jornal e ganha uma graninha merecida, além de ter construído a sua fama em cima destas histórias. Mas, este ano é diferente. Parece que nada vem à sua mente e sua inspiração está zerada. O prazo está ficando cada vez mais apertado e a história não sai de jeito nenhum. Um dia, ele recebe a visita de um de seus fãs, um homem que fica horas conversando com ele sobre o que ele gosta em suas histórias e o elogia como um grande escritor. Apesar de ter seu ego massageado, Thurlow não vê a hora de mandar o tolo embora para poder tentar voltar a escrever. É então que o fã percebe a dificuldade de seu autor favorito de escrever uma história e pede a ele que publique aquela que escreveu. Que seria uma honra para ele publicar sua história, mesmo que fosse com o nome de seu autor. Depois de dispensar o fã, Thurlow tem a curiosidade de ler a história e só então percebe a obra-prima que tem em mãos. É então que ele se vê em um dilema: publicar em seu nome ou dar os créditos a quem de fato escreveu? Ele será atormentado pelo fantasma de seu egoísmo que diz a ele para publicar em seu nome e colher os louros. E agora?

Essa é uma história fascinante que dialoga com o que Stevenson escreveu em outra história. Afinal, o escritor é atormentado por uma dúvida cruel que não coloca sua vida necessariamente em risco, mas o faz pensar em caminhar uma estrada sombria que pode destruir a sua alma. Sendo um escritor, ele entende as dificuldades de escrever uma obra e o quanto esta representa a própria essência daquele que escreveu. Tomar para si a autoria de uma obra que não escreveu não é só falsificar algo, mas tomar para si o espírito daquele que criou. É poluir a pureza de uma obra-prima. Manchar com algo que somente ele saberá que aconteceu (ele e o verdadeiro autor). Embora nos dias de hoje não tenhamos tais pudores (o que deveríamos ter), mas se pararmos para pensar é, de fato, uma narrativa assustadora. O fantasma está encarnado na forma do próprio subconsciente do protagonista. Um ser que está ali para trazer à tona tais desejos egoístas. Gostei da narrativa, embora ela tenha um ritmo meio estranho e ora ela tem uma narrativa mais direta e voltada para discutir a moral de seu protagonista, ora se perde em divagações que não acrescentam na trama. Porém, é uma história muito boa e está entre os destaques da coletânea.

11 - A bolsa de viagem (5 estrelas), de Algernon Blackwood

Após terminarem finalmente um julgamento de um terrível criminoso, Johnson, o secretário de defesa do advogado que defendeu o meliante, só quer saber de viajar e sair dessa cidade que o sufocou durante tanto tempo. Um julgamento de um ser que merecia apenas a condenação por um assassinato brutal, mas que, por competência dele e de seu chefe, conseguiram transformar a prisão em uma internação em uma clínica para homens insanos. Johnson chega em casa e prepara sua bolsa de viagem. Coloca uma a uma suas peças de roupa, mas coisas estranhas parecem estar acontecendo a ele. Sons de passos estão vindo do andar de baixo, objetos se movendo de um lado para o outro e a bolsa formou a silhueta do criminoso. O que está acontecendo?

Dizer que Blackwood é um escritor competente é pouco. Só alguém com um domínio preciso de sua escrita conseguiria produzir uma trama tão interessante a partir de uma premissa maluca como a de uma bolsa sinistra. Ele constrói um ambiente tenso e que vai se apertando aos poucos ao redor de nossos pescoços. A morte está à espreita e quanto mais o protagonista se debate, pior fica. É uma narrativa que vai estimular nossa visão e nossa audição, entregando informações que nos permitem construir com perfeição o que está à nossa volta. Juro que pude ouvir os passos vindos de algum lugar ou enxergar uma silhueta quando olhei por cima do ombro. Blackwood é muito bom em criar tais situações e o mistério vai sendo revelado aos pouquinhos. Em um dado momento, fiquei imaginando que ele tinha colocado um furo na história porque a menos que algo tivesse acontecido lá atrás, todo o dilema do protagonista seria inócuo. Só que aí vem as duas páginas finais do conto. E a gente aplaude de pé. Melhor conto da coletânea, sem dúvida alguma.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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deborafv 26/12/2022

É difícil dizer exatamente em que momento o medo começa...
Participei do financiamento coletivo para este livro no ano passado, mas acabei tendo tempo para lê-lo apenas esse ano. Edição impecável como todas da Editora Wish e contos muito bons selecionados.
- Ceias Fantasmagóricas - Jerome K. Jerome (5/5): Aqui o conto ficou um pouco desvinculado, preferi ele no contexto do livro "Terror Depois da Ceia", mas é uma boa sátira às histórias de fantasma.
- A História dos Goblins - Charles Dickens (3/5): Conto que eu tinha mais expectativa por causa do autor, mas um dos que menos gostei. Um clássico onde a pessoa se torna um ser humano melhor após passar por uma situação ruim.
- A História da Velha Ama - Elizabeth Gaskell (5/5): Ótimo conto, acho que representa muito bem a era vitoriana em que foi escrito.
- Smee - A. M. Burrage (5/5): Já conhecia o conto pelo livro "Ghost Stories". Excelente narrativa, gera suspense e aquela sensação de "há algo errado".
- O Fantasma de Irtonwood - Elinor Glyn (4/5): Gostei do conto mas não é propriamente uma história de fantasmas, embora tenha um, ele fica um pouco ofuscado com relação aos outros acontecimentos.
- Horror: Uma História Real - John Berwick Harwood (4/5): A narrativa é muito boa e prende logo no começo. O melhor suspense do livro, na minha opinião. Só acho uma pena a tendência de 99% dos autores antigos de, mediante um acontecimento, exagerar um efeito. Explico-me: os personagens tendem a desmaiar facilmente, um resfriado mata um jovem em pleno vigor, um amor não-correspondido leva à morte, etc. Entendo as razões da protagonista do conto, realmente, pior do que fantasmas e monstros, somente o próprio ser humano, mas acho a forma como o evento a afeta um pouco exagerado.
- Encontro de Natal - Rosemary Timperley: Curto, simples e direto. Gosto muito do tema explorado.
- Markheim - Robert Louis Stevenson (5/5): Já conhecia a história pela própria editora ter distribuído um e-book após o financiamento ter sido bem-sucedido. Para mim, um dos melhores contos do livro. O autor sempre entrega narrativas que nos envolvem.
- O Fantasma da Véspera de Natal - J. M. Barrie (2/5): O que menos gostei em toda seleção. Por que racionalizar uma experiência com fantasma?
- A História de Natal de Thurlow - John Kendrick Bangs (5/5): O conto me lembrou um pouco alguns dos textos de Etgar Keret, que eu particularmente gosto bastante. Uma inclinação para o surrealismo com um final tragicômico.
- A Bolsa de Viagem - Algernon Blackwood (4/5): Seria daqui que Stephen King tirou inspiração para escrever? Gostei do conto e ele é, provavelmente, o precursor de todo o terror trash dos anos 1980 que sinto falta. Só não dou uma nota maior pelo mesmo motivo que mencionei no conto do John Berwick Harwood.
- O Prato Crown Derby - Marjorie Bowen (5/5): Boa narrativa e desenvolvimento da história.
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lua 01/01/2022

Diferente
Amei a leitura dos contos, me tiraram da ressaca literária, foi uma experiência de leitura incrível e diferente. Alguns foram meio travados para mim mas achei no geral interessante, amei conhecer novos autores e pretendo ler mais contos e romances de alguns. Recomendo a leitura de todos os contos.
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