Sobre anarquismo, sexo e casamento

Sobre anarquismo, sexo e casamento Emma Goldman




Resenhas - Sobre anarquismo, sexo e casamento


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Paulo 04/02/2023

Emma Goldman, quem admiro há muitos anos, falou e escreveu sobre muitas coisas - entre elas: aborto e controle de natalidade quando tais assuntos eram considerado crimes, o que resultou em uma de suas prisões; defendeu publicamente o assassinato de governantes e aristocratas cruéis, fascistas e autoritários; sobre sexualidade; sobre pesquisas científicas, inclusive as divulgando, etc. - hoje ainda atuais e discutidas, e quiçá algumas hoje pouco faladas, não por não haver mais necessidade de debate sobre tais assuntos, mas por serem, talvez, especificidades ou ponderações "perdidas" dentro de tantas questões que invariavelmente surgem.

Eu teria que ter tempo e uma habilidade que me falta para poder resenhar sobre tantos textos e tantos tópicos por ela escritos e debatidos e pela Hedra nessa coletânea publicados.

No entanto, dois tópicos que há muito me fascinam são suas críticas ao que virou a revolução bolchevique e à luta feminista sufragista. O primeiro não necessita de muitos comentários, Emma era anarquista, esses e quaisquer opositores foram perseguidos e mortos no regime comunista. Engraçado e triste pensar que deve dar um nó na cabeça de conservador ouvir sobre tamanha discrepância entre as ideias de revolucionários, de ouvir que há diferenças enormes entre uma ideia e outra e que um lado critica o outro.
Quanto ao feminismo/sufrágio universal, eu achava apenas que Emma, como qualquer anarquista, e radical, se opunha ao direito de voto por ser o voto algo insuficiente, já que os anarquistas lutam por autogestão etc. ao invés de por suposta representação supostamente democrática, ou seja, a grosso modo, é uma besteira lutar por votos porque isso é pouco. Mas não é só isso, Emma teve um desprezo por essas feministas sufragistas porque elas também queriam ter poder, e achavam que mulheres governantes iriam, como escreveu Emma, purificar a política, fazer maravilhas que os homens não conseguiram. E elas abriram mão do pacifismo que defendiam quando a guerra veio e, segundo é relatado aqui, objetificaram seus corpos para os soldados para incentivar o alistamento e, portanto, a guerra. Emma diz que é uma ilusão as mulheres acharem que poderiam fazer esse milagre de purificação que os homens não conseguiram, não porque eles têm mais capacidade ou qualquer coisa do que elas, claro, mas porque todos os problemas, a corrupção, a injustiça etc. são intrínsecos ao sistema e à política tal como é nesse sistema, e, em outras palavras, porque são seres humanos igualmente, mais uma vez, um não é superior ao outro. E acho curioso porque, para mim, isso também remete a algo que sempre penso, que é a arrogância burguesa (afinal, hoje a "questão" de classe parece às vezes ser soterrada por outras questões que parecem ser mais individuais do que coletivas) com que certas feministas pseudoburguesas tratam e generalizam de forma extremamente superficial homens trabalhadores que numa semana trabalharam mais do que elas numa vida toda, são atitudes e posições mesquinhas e superficiais.

Dois textos dessa coletânea são meus preferidos, o primeiro, sobre a Mary Wollstonecraft, escrito de forma apaixonada e poética, encantador, e o outro, se me lembro corretamente, pode ser que seja outro, sobre a Louise Michel, no qual, além de a enaltecer como fez com Mary, contra-argumenta, tanto em nome da verdade, dos fatos, da razão e - pode-se dizer hoje - contra os estereótipos e sexismo, de forma apaixonante um texto de uma certa mente brilhante, mas que, de forma sexista, classifica Louise Michel como homossexual (na época nós também éramos chamados de "uranianos", e como explica uma nota dessa edição da Hedra, Emma intercala os termos) baseando-se nas características consideradas masculinas que Louise tinha, assim como as tinham muitas outras mulheres buscando liberdades. Emma não tenta defender Louise de uma ofensa, Emma era uma das poucas anarquistas que naquela época tinham certo entendimento da diversidade sexual humana, entre seus vários estudos e citações está Freud, o que ela fez foi tentar combater essa visão sexista e estereotipada dos gêneros etc. e deixar claro um equívoco, inclusive para que Louise não se tornasse, por causa desse equívoco, uma representante de algo que ela era não era.
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