Dhay 12/04/2015
“E assim não me restava dúvida de que as regras que nós inventamos para tornar a nossa existência possível de nada servem em uma tragédia.”
Haiti, parte da ilha Caribenha possui aproximadamente 10, 32 milhões de habitantes, que segundo A Cruz Vermelha Internacional, sete de cada dez vivem com menos de dois dólares por dia. O país também possui uma política conturbada, em 200 anos de história sofreu 32 golpes de estado, em contrapartida foi o único país das Américas que conseguiu ter uma revolução de escravos bem-sucedida.
Rodrigo Alvarez, correspondente da Globo no Estados Unidos, narra toda a operação realizada no Haiti, seja ela pelos bombeiros, militares e imprensa. Com uma grande carga jornalística, “Haiti depois do inferno” não nos traz apenas fatos brutos e frios, traz fatos vivenciados por olhos humanos em cima de humanos, relata toda a situação sócio-política-econômica de um país cuja linha do tempo é marcada por desgraças, desolações e opressões.
Apesar da magnitude informativa do livro, o desprezo pelos militares e bombeiros americanos é visível, visto como potência mundial, e mais do que isso: como Marketing, a presença deles causara certa irritação não apenas aos militares, bombeiros e imprensa brasileira, mas à todos que estavam ali realmente para ajudar humanamente o país.
Segundo Vanessa Barbosa repórter da Revista Exame, após cinco anos da tragédia pessoas ainda vivem em tendas erguidas pela ONU e o acesso ao serviço básico (como saneamento, água encanada, educação e saúde) continua precário. “De acordo com a AP, o Haiti já recebeu pelo menos 80% dos 12,4 bilhões de dólares prometidos por países e agências internacionais como ajuda humanitária para reconstrução e alívio da divida. Grande parte desses recursos, observa a agência, foi canalizado por empreiteiras e grupos humanitários e não diretamente pelo governo do Haiti.” (Exame.com, 12/01/2015).
“(...) Pensava que só com bons amigos, com um projeto de reconstrução feito por economistas sérios e implementado sem interferências externas o Haiti poderia deixar de ser o lugar onde tudo falta para ser finalmente o cenário de novo experimento divino.” (Pág. 114)
“De volta a Nova York (...) era difícil entender como o mundo pode ter desabado a três, quatro horas dali (...) e ninguém parece minimamente tocado por aquilo.” (Pág. 115)
Infelizmente Rodrigo Alvarez tinha razão “(...) não dava para achar normal que tudo o que o mundo pudesse fazer por esse lugar esquecido fosse tomar seu café saboroso e voltar a esquecê-lo.’’
É um livro contundente e sólido, um relato profundo sobre a tragédia que assolou o país “mais miserável das Américas”, a missão da imprensa de informar e mostrar ao mundo o factual, a tarefa que os militares brasileiros desempenharam tão bem (segundo Rodrigo Alvarez), e toda a jornada de cada um deles.