Marc 22/09/2022
Tempos sombrios para as hqs
Que bobagem! É difícil escapar de hqs que não sejam absurdamente ideológicas hoje em dia, essa aqui não é exceção. Fica difícil listar a quantidade de idiotices que fizeram aqui. E nem falo sobre macular a obra de Alan Moore e Dave Gibbons. Sou obrigado a dizer que a partir daqui, se você não leu a hq, não deve avançar em meu texto.
A maneira nada elogiosa com que Tom King se refere a Frank Miller é merecedora de um belo processo. O dia que começarem a pagar grandes indenizações por xingarem os outros de fascistas, quem sabe, veremos a turminha sossegar um pouco. Mas não é só isso. Ao tentar copiar o tipo de clímax elaborado por Moore, só conseguiu fazer um pastiche ridículo. Basicamente é só pensar assim: toda a história conduz para uma conclusão, então, basta pensar ao contrário do que tudo indica. E não digo isso depois de terminar a leitura, eu já tinha farejado essa conclusão assim que a trama foi delineada.
E por que ela é ideológica? Bom, na história de Moore temos um liberal, um progressista fazendo o que sabe fazer de melhor: mentindo, manipulando, enriquecendo e matando apenas para conseguir poder suficiente para interferir na vida das pessoas, modificar a sociedade e ter mais poder ainda. E a crueza com que a tese de que é preciso derramar sangue para se chegar a esse mundo perfeito, pode até soar cínica. Em nosso tempos, onde as hqs são um campo para esfregar ideologias políticas na cara dos leitores, não ficava bem o grande vilão ser um liberal. Tom King, então, tem a grande ideia de tornar o vilão um conservador - e isso, nossa, é tão a cara de nossos tempos, com Trump, Bolsonaro, Orban, Sharon...
Enfim, como se não bastasse, ficamos sabendo que conservadores tem o péssimo hábito de fingir atentados contra si mesmos para induzir o povo a pensar que a esquerda é violenta - imagina, logo eles, que só querem o bem da humanidade...
Essa história foi criada não com o intuito de reabilitar um personagem injustiçado, como aconteceu tantas vezes. Não, a intenção é destruir um personagem adorado pelo público e explicar para ele - coitado, tão burrinho - quem ele deve adorar de verdade. É um claro exemplo de como a elite cultural sonha em tutelar o povo, lhe dizendo como deve pensar. Alan Moore, com todo aquele ar blasé, deve ter adorado a intenção, mesmo que diga o contrário.
O verdadeiro mistério é por que essa revista chama Rorschach. Quero ver alguém esclarecer essa.
Tom King, você é um canalha.