Jaqueline 28/12/2010Assim que recebi “Eu amei Victoria Blue”, fiquei impressionada com a capa, que tem uma arte muito bonita da ponte que une a região de Manhattan ao Brooklyn. O subtítulo funciona como a melhor sinopse do livro: “Minha história de amor com uma garota de programa em Nova York”. Ou seja, quando você começa a leitura, já sabe muito bem aonde ela vai dar: no desmascaramento de Fernanda, a “mocinha” da história. O problema está justamente na forma como isso ocorre.
Davi é um jovem estudante em Nova York. Nascido em São Paulo, vai estudar engenharia de som na cidade. Já aos 18 anos namorava Sylvia, uma mulher de 47 que era sexualmente louca por ele. Segue um trecho: “trocava-mos tapas, deixava marcas de minha mão em sua bunda, amarrava-a com lençóis e por vezes a surrava com cinto” (pág. 8). Com 20 anos de idade recém-completados, Davi mais parece um tio na crise dos 40: fuma charutos, gosta de discorrer sobre vinhos, queijos, arte, alta gastronomia. Pinta a casa ouvindo Leo Ferre. É simplesmente INACREDITÁVEL! Entendo que um garoto jovem goste de se imaginar como um verdadeiro homem feito, charmoso e conquistador, mas o autor perde completamente a mão ao criar um moleque paulista vivendo delírios de grandeza sexual em Manhattan. Você vira as páginas e simplesmente acha que Davi é o garoto mais metido a besta que você já viu: que tipo de universitário vai fumar charutos no Central Park? O que torna esta falha tão grave é o formato da narrativa do livro. Com um humor sarcástico e bastante sagaz, cada capítulo tem os ares de uma crônica nova-iorquina escrita por um Nelson Motta. Aliás, as semelhanças com o estilo do autor de “Nova York é aqui” são inegáveis.
Gaúcha, linda e ex-modelo internacional, Fernanda é a nova vizinha de Davi. Seu currículo é invejável: aos ditos 29 anos já morou em diversas cidades da Europa, se formou no Brasil em pedagogia, vive em Nova York pintando quadros abstratos maravilhosos e consegue discutir de Saramago a Gógol. O que parecia ser perfeito se torna uma grande cilada: com a convivência, Davi descobre que Fernanda paga suas contas com a herança do pai psicótico que a obrigava a assistir suas transas com outras mulheres. Fernanda cria histórias absurdas sobre seu passado, é delirante. Ela pensa que todos a desejam e nutrem um amor não correspondido por ela. Ela rasga camisetas de Davi quando entra em fúria. Fernanda é tão absurda quanto seu namoradinho e o leitor não tem como não pensar “o que esta mulher está fazendo com este menino?”. A história é tão delirante que um belo dia Fernanda sugere que Davi faça uma cirurgia de circuncisão, e… ELE FAZ! Enquanto ele vem se operar em São Paulo aproveitando as férias da faculdade, Fernanda apronta mil e uma situações com amigas as quais ela “nem gosta tanto assim, já que se drogam muito e são muito doidas”. A guria simplesmente inferniza a vida de Davi, mas ele reluta em terminar com ela até finalmente descobrir todas as intrincadas mentiras que ela criou para esconder sua profissão e seu passado.
A ênfase no sexo e na linguagem chula me desagradou bastante: quando os personagens falam de amor, não parecem nem um pouco convincentes. Soa simplesmente desagradável e gratuito ver um rapaz que lê James Joyce discorrer sobre a namorada que queria lhe comer com uma cinta-pinto (aqueles shorts com um consolo acoplado). Talvez este livro seja mais atraente para pessoas de outra faixa etária, homens de 29 a 35 anos (ou bem mais velhos) que sintam talvez alguma empatia com o protagonista Davi. Brian, o ex-namorado de Fernanda, é um dos caras mais legais da trama e quase não tem destaque. Pena.