Stella F.. 23/09/2022
Todas somos filhas!
Carta a minha filha – Maya Angelou – Editora Agir – 2019
Na orelha do livro já sabemos que este não é um livro sobre maternidade, e sim “um relato franco e caloroso de uma mãe que, apesar de ter dado à luz um menino, abre seu coração para uma possível filha, estabelecendo um diálogo de mulher para mulher.”
Quem já leu “Eu sei por que o pássaro canta na gaiola” conhece um pouco da história da autora, mas vale reforçar que Maya viveu no auge da segregação racial nos EUA e que durante a infância foi estuprada pelo namorado da mãe e que se sentia culpada pela morte dele, ficando muda por cinco anos. Foi motorista de ônibus, atriz, cantora, bailarina e poetisa, além de participar de montagens teatrais. Trabalhou também em campanhas de ajuda humanitária, sempre defendendo o seu povo.
Conceição Evaristo na abertura das 28 cartas que tratam das memórias, constatações, dúvidas e certezas, vai nos dizer que: “com uma linguagem fácil, sem rebuscamento e em vários momentos irônica e poética, percebe-se uma escrita em que se destaca a fé cristã. Entretanto não há intenção alguma de catequizar ou convencer alguém. É, sim, uma confissão de fé à vida, apesar do sofrimento, da dor e das angústias que atingem o ser humano. É uma declaração de fé vivida no coletivo, no engajamento em igrejas e associações religiosas comprometidas com a afirmação dos direitos civis e da liberdade dos negros estadunidenses.” (pg. 13)
Maya vai abrir o livro com uma carta à filha (todas nós) dizendo que só incluiu no livro fatos e lições que considerava úteis. Não conta as soluções porque acredita que a filha saberá usar a inteligência com criatividade para encontrar o próprio caminho.
As cartas são bem curtas, pequenas crônicas de uma boa contadora de casos. Tratam de cenas cotidianas, pessoas que conheceu, racismo, estupro, filantropia, família (principalmente filho, mãe e avó), independência, vulgaridade, falta de educação, violência, aprendizado de novas culturas, amizades, inspirações, trajetória, mensagens aos políticos, poesia e fé. Preferi as mais fortes que tratam sobre racismo, estupro e sobre segregação racial. A minha preferida foi Fannie Lou Hamer. “Fannie Lou Harmer sabia que era uma mulher, e apenas uma mulher. Entretanto, sabia que era uma americana, e como americana ela tinha uma luz para fazer brilhar na escuridão do racismo, Era uma luz pequena, mas ela a dirigiu diretamente para as trevas da ignorância.” (pg. 82)
Mas também gostei de Casa, Violência, Mamãe e sua visão de longo alcance, Peggy e Bess, Espírito Nacional e Endereço de Início.