jota 30/01/2024ÓTIMO: riso e reflexão nos textos de um grande humorista inglêsUma coisa que não se pode dizer sobre Jerome K. Jerome (1859-1927) é que ele tenha sido um ocioso, um desocupado, conforme descobrimos através do posfácio do tradutor Jayme da Costa Pinto: foram muitas as atividades que o escritor e humorista inglês exerceu ao longo de sua existência. Quase sempre fazendo graça, até mesmo sobre a própria vida miserável que teve ainda criança, pois ficou órfão de pai e mãe nesse tempo. Aos 15 anos estava sozinho no mundo.
O volume, lançado originalmente em 1886, reúne diversos textos, catorze, na verdade, que haviam sido publicados anteriormente em uma revista, Home Chimes, na qual também colaborava o grande Mark Twain. No prefácio, JKJ escreve que esses textos serviriam “para saciar o apetite mental dos povos anglófonos do planeta. O que os leitores hoje em dia buscam em um livro é que sirva para aperfeiçoar, instruir e edificar. Este livro falha nas três frentes.” Ainda bem; os leitores agradecem por isso...
Vejamos do que ele trata: do ócio, do amor, do azedume, da privação, da vaidade e das vaidades, da batalha cotidiana, do clima, de cães e gatos, da timidez, dos bebês, da comida e da bebida, do apartamento mobiliado, das roupas e dos mortos, da memória. E já no primeiro deles, sobre o ócio propriamente, JKJ escreve: “O ócio sempre foi o meu forte. E não reclamo crédito pessoal nesse assunto — trata-se de um dom. É para poucos. Há muito preguiçoso no mundo, muito marcha-lenta, mas um ocioso legítimo é coisa rara. Não é o sujeito que anda por aí, passos arrastados, mãos metidas nos bolsos. Ao contrário, a característica mais surpreendente do ocioso é estar sempre ocupadíssimo.” Como ele foi durante toda sua vida.
Uma de suas ocupações, possivelmente a mais prazerosa, além de fumar cachimbo, era a leitura. Dentre muitos, apreciava Carlyle, George Eliot, Dickens, Tennyson, Mark Twain, Robert Louis Stevenson, Henry Longfellow e a Bíblia do rei James. Quer dizer, esteve sempre em boa companhia e certamente através desses autores alimentou seu “humor agridoce, melancólico mesmo”, como destaca o tradutor Costa Pinto. Mas também podem destilar certa ironia ou acidez, embora grande parte do tempo oscilem entre o riso e a reflexão, misturando humor e abstrações filosóficas. Sobre os bebês, por exemplo, JKJ dizia entender muito dessas criaturas, mesmo porque, como escreve, já havia sido um deles. E por aí vai...
Lido entre 13 e 30 de janeiro de 2024.